Espaços de performance: a arquitetura dos clubes noturnos

Não são poucas as cidades ao redor do mundo que se tornaram especialmente famosas ao longo das últimas décadas por conta de sua agitada e vibrante vida noturna—razão pela qual, passaram a recebem milhões de visitantes todos os anos. Comumente escondidos e localizados em regiões nem sempre muito convidativas durante o dia, clubes noturnos são espaços de descompressão, lugares frequentados por aqueles que buscam fugir da rotina do dia-a-dia na espera de um encontro inusitado em uma mesa de bar, ou às vezes, simplesmente desejando perder-se em meio a outros corpos em uma pista de dança. Apesar de extremamente populares e frequentados—também entre a comunidade de arquitetos—, raramente vemos projetos de clubes noturnos estampado as páginas de uma revista de arquitetura.

Boates, baladas, discotecas, clubes noturnos. Seja qual for o rótulo utilizado para referir-se aos espaços da vida noturna, estes geralmente costumam ser associados a lugares sem qualquer característica arquitetônica específica, galpões, salas, armazéns, ambientes escuros e que pouco se deixam ver, mas que na verdade, são muitas vezes intencionalmente elaborados e concebidos para criar experiências altamente específicas e sensoriais. Clubes noturnos são projetos onde arquitetos podem explorar livremente sua criatividade, onde os detalhes construtivos pouco importam se comparados à qualidade da experiência sensorial que se pretende criar. Ao desenhar estes espaços, a localização de cada ambiente desempenha papel fundamental na experiência do espaço. A localização do bar, o acesso de serviços, a cabine do DJ, o tamanho da pista de dança e os lugares onde as pessoas podem se acomodar, na verdade, são muito mais importantes do que os adereços que constroem o imaginário do que significa um clube noturno, como a luz, o som e os efeitos visuais que ficam marcados na nossa retina no dia seguinte.

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Courtesy of Carlo Caldini, Gruppo 9999

Casas noturnas de sucesso e boates que nos façam querer voltar no final de semana seguinte, geralmente contém espaços e ambientes fluidos e que se sobrepõe, onde os limites não são necessariamente evidentes e principalmente, onde as pessoas se sintem livres para expressar-se e liberar suas energias. Em sua forma mais elementar, estes espaços existem há centenas de anos, eles nasceram muito antes das formais salas de baile e clubes noturnos frequentados pela classe trabalhadora. Com o passar do tempo, estes ambientes noturnos, escondidos e muitas vezes negligenciados, começaram a subir a superfície e ganhar visibilidade a medida que mais e mais pessoas passaram a frequenta-los. Grupos de indivíduos que antes se encontravam em segredo para poder expressar-se livremente viram neste momento uma oportunidade para emergir e manifestar-se, proporcionando a estes espaços uma visibilidade nunca antes vista. A partir daí, clubes noturnos passaram a ser vistos como espaços de consumo, e não demorou muito para que começassem a ser encarados como uma tipologia arquitetônica, a qual poderia ser planejada do zero e construída de acordo com as necessidades deste novo programa específico.

Em 1967, um dos primeiros clubes noturnos concebido e construído como tal, foi o Electric Circus da cidade de Nova Iorque. Com projeto de interiores assinado pelo então famoso arquiteto Charles Forberg, o Electric Circus contava com uma ampla tenda de tecido branco, a qual contrastava fortemente com os pôsteres psicodélicos que decoravam as paredes do interior e as projeções luminosas utilizadas nas noites de festa. Anos depois, esta tendência chegou à Europa, justamente no momento em que a nova geração do Design Radical Italiano estava surgindo, o qual viria a ser conhecido por seus projetos exploratórios baseados em colaborações multi-mídia e multidisciplinares.

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© Hasse Persson

Com a difusão do design de clubes noturnos, arquitetos e arquitetas passaram a considerar em seus projetos não apenas questões relacionadas aos aspectos tangíveis do espaço, mais principalmente a forma como os usuários interagiriam uns com os outros. No auge do Electric Circus na cidade de Nova Iorque, Andy Warhol chegou a apresentar algumas de suas performances, espetáculos de luzes ao som de Velvet Underground. Na mesma época, o Club Cerebrum, fundado por um grupo de jovens artistas, convidava todos os visitantes a se vestirem de branco em uma cerimônia psicodélica. No icônico Studio 54, onde apenas entravam as celebridades mais badaladas da época, o projeto de arquitetura desempenhava um papel fundamental. Instalado dentro de um antigo teatro, o Studio 54 contava com um dos mais fantásticos projetos luminotécnicos, o qual foi executado com primor por uma série de especialistas da Broadway.

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Courtesy of OMA

No início da década de 1980, porém, muitos desses luxuosos e extravagantes clubes noturnos perderam seu fascínio à medida que a classe média passou a frequentar outros lugares mais acessíveis. Neste contexto, uma infinidade de novas casas noturnas abriram suas portas, tornando-se um território fértil para muitos arquitetos, os quais começaram a explorar novas soluções e formas. Foi nesta época que o OMA desenvolveu o seu projeto para o Ministry of Sound de Londres, o qual contava com uma série de paredes móveis e uma diversidade de espaços que poderiam servir a diferentes propósitos. Talvez a afirmação de que as antigas casas noturnas estavam perdendo seu fascínio fosse realmente verdadeira, pois não são muitos os clubes daquela época que permanecem abertos até os dias de hoje. O mais importante nessa história toda, é que estes primeiros clubes noturnos lançaram uma tendência que dura até os dias de hoje.

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Sobre este autor
Cita: Overstreet, Kaley. "Espaços de performance: a arquitetura dos clubes noturnos" [Disco Balls and Design: The Architectural Performance of Night Clubs] 31 Dez 2021. ArchDaily Brasil. (Trad. Libardoni, Vinicius) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/973074/espacos-de-performance-a-arquitetura-dos-clubes-noturnos> ISSN 0719-8906

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