Arqueologia do presente

O grau em que um edifício se envolve com a cultura ou a paisagem de um lugar é controlado principalmente pela intenção do projeto, ou seja, o conceito arquitetônico e o sucesso de sua implementação. A fotografia revela relações, mas não as constrói em primeiro lugar. Mesmo no caso extremo em que uma estrutura é conscientemente projetada para se diferenciar e se separar de qualquer tipo de ambiente, cultural ou natural, ela ainda é inevitavelmente situada em um contexto e percebida como parte dele.

Arqueologia do presente - Imagem 4 de 6
Paulo Mendes da Rocha. São Paulo. Imagem © Erieta Attali

Dito isto, através da minha fotografia, não posso e não pretendo separar o físico do contexto cultural. Os anos que passei fotografando sítios de escavação foram formativos tanto na maneira como percebo quanto na maneira como fotografo artefatos em uma paisagem. Em uma escavação você encontra o emaranhado de cultura e lugar, em um sentido muito literal: os dois efetivamente se tornam um, como camadas sucessivas de antigas paisagens se sedimentam umas sobre as outras e engolfam paredes, pilares, pátios. O processo de resgate e reconstrução da cultura, a pesquisa arqueológica, exige um engajamento com a paisagem, um desvelamento consciente e estudado dessas camadas geológicas. A fotografia deve revelar essa relação por meio de seus dois componentes principais: o físico ou espacial e o temporal ou processual.

Arqueologia do presente - Imagem 2 de 6
Casa La Escondida por Barclay Crousse. Imagem © Erieta Attali
Arqueologia do presente - Imagem 3 de 6
Peru. Imagem © Erieta Attali

Entretanto, mesmo sem considerar a arqueologia, acredito que não seja possível separar a cultura - que é um fenômeno profundamente localizado - da paisagem. O inverso também é verdadeiro, ou como disse o historiador Simon Schama: “As paisagens são cultura antes de serem natureza; construções da imaginação projetadas na madeira, na água e na rocha”. Portanto, a narrativa definitivamente se estende ao que é chamado de “discussão macro” situando a arquitetura em um contexto cultural porque é impossível não estendê-la. A discussão “micro” do lugar e a discussão “macro” da cultura são para mim a mesma coisa.

Arqueologia do presente - Imagem 5 de 6
Ponte Kehl em Strasbourg por Marc Mimram. Imagem © Erieta Attali

As estruturas feitas pelo homem são universalmente consideradas o assunto ou o conteúdo da fotografia arquitetônica, enquanto a paisagem é geralmente tratada como mero contexto ou plano de fundo. Conteúdo e contexto, no entanto, são igualmente importantes e muitas vezes até intercambiáveis. Através da minha prática, tentei ficar longe da dicotomia conteúdo-contexto e, em vez disso, criar imagens idiossincráticas que capturam uma identidade de lugar; sua particular qualidade atmosférica, condições de iluminação, materialidade e estado de espírito.

Arqueologia do presente - Imagem 6 de 6
Restaurante Glass em Yamaguchi por Kengo Kuma. Imagem © Erieta Attali

Galeria de Imagens

Ver tudoMostrar menos
Sobre este autor
Cita: Attali, Erieta. "Arqueologia do presente" [Archeology of the Present] 14 Jan 2022. ArchDaily Brasil. (Trad. Sbeghen Ghisleni, Camila) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/974898/arqueologia-do-presente> ISSN 0719-8906

¡Você seguiu sua primeira conta!

Você sabia?

Agora você receberá atualizações das contas que você segue! Siga seus autores, escritórios, usuários favoritos e personalize seu stream.