O conceito de "cidade ideal" é algo que se fala muito hoje, quando olhamos para o futuro e pensamos em que aspectos da vida urbana sentimos serem mais importantes para que os habitantes prosperem em uma comunidade saudável. Entretanto, as cidades ideais foram concebidas durante o Renascimento italiano, com arquitetos e urbanistas que priorizaram a lógica em seus projetos focalizando os valores humanos, as capacidades urbanas e as recorrentes ondas de revoluções culturais e artísticas que influenciaram os projetos de planejamento em larga escala.
A cidade ideal do Renascimento era um assentamento simétrico que se concentrava em torno de uma praça, que abrigava edifícios civis e era vista como o espaço mais importante a partir do qual o resto da cidade interagiria. O simbolismo do planejamento era visto como uma nova maneira de ver o mundo, apelidado de "Imanesimo", ou um sistema que se concentrava na humanidade e na civilização coletiva. Tal cidade foi mesmo construída, conhecida agora como Pienza. Pienza é uma das pedras angulares para o planejamento urbano moderno, pois foi construída de uma forma que melhor se adapta às necessidades de seus habitantes, além de considerar também os aspectos sociais e de transporte, chegando até a incorporar bancos públicos em toda a cidade.
Infelizmente, o conceito fundamental das cidades renascentistas é fortemente baseada na teoria, e as cidades muitas vezes são planejadas para ignorar qualquer tipo de referências geográficas ou restrições, tais como rios, montanhas e vales. Portanto, elas eram frequentemente planejadas, mas raramente construídas. As cidades também foram projetadas com base em normas sociais que eram importantes naquele exato momento, desconhecendo as mudanças que poderiam ocorrer no futuro. Um arquiteto que ficou conhecido por seus desenhos, mas não por sua capacidade de construir, foi Antonio di Pietro Averlino, também conhecido como Filarete. Durante o século XV, ele concebeu um plano para uma cidade teórica chamada Sforzinda. Embora nunca construída, ela se tornou um exemplo famoso devido a sua forma de estrela octogonal, que derivava das cidades médicas. Seu centro representava o poder do monarca, e suas altas muralhas representavam a força e a estabilidade das cidades difíceis de ultrapassar.
Nos séculos que se seguiram, outras cidades começaram a replicar as ideologias de Pienza e Sforzinda, eventualmente se tornando mais simétricas em sua forma geral, fortificando-se com muros para estabelecer os perímetros claros, e delegando longos eixos centrais que romperiam vários elementos do programa e simplificariam ruas e calçadas de pedestres. Até mesmo artistas começaram a pintar suas representações imaginativas destas cidades, exibindo grandes praças e prédios governamentais que ocupam todas as quadras adjacentes.
Embora Pienza seja um dos exemplos mais simbólicos e precoces do planejamento urbano notável, sua influência também impactou como projetamos as cidades de hoje. Mais recentemente, os urbanistas têm discutido a implementação da cidade de quinze minutos, que visa incorporar com sucesso todas as necessidades da vida urbana dentro de uma distância de quinze minutos. Levando isso adiante, alguns propuseram que, no futuro, possamos até experimentar uma cidade de um minuto. Mas no centro destas ideias radicais estão os princípios de que as atividades mais usuais ocorrem no centro da cidade e as amenidades são incorporadas as largas ruas (que atualmente dão lugar a carros, ônibus, bicicletas e pedestres), e incorporam projetos que incentivam a socialização — semelhante ao pensamento de Pienza.