A "Casa dos Milagres", localizada na floresta úmida na periferia de Xalapa, Veracruz e projetada pelo arquiteto mexicano Danilo Veras Godoy, é um espaço concebido com formas orgânicas, terra, aberturas com formas inesperadas e vidro em mosaico em diferentes tonalidades. Foi projetada para atender às necessidades de Rosalinda Ulloa, uma mãe solteira que ali viveria com seus dois filhos pequenos. Foi construído por etapas, que começaram a partir de 1995 e foi concluído em 2002, com algumas mudanças feitas até 2006.
Embora o trabalho de Veras Godoy seja pouco conhecido, é interessante estudar seu estilo orgânico caprichoso e lúdico de casas que ele deixou em sua passagem, especificamente em regiões do México como Xalapa, Veracruz. Seu trabalho revela um olhar a respeito de como interagem, tanto os construtores quanto os moradores, com a criação arquitetônica, resultando em construções que continuam a surpreender e inspirar. Com isto em mente, o fotógrafo Naser Nader Ibrahim apresenta uma série de imagens que explora em detalhes a construção destes espaços, acompanhadas de um texto que nos guia através da construção destes espaços para melhor entender o contexto da obra de Veras Godoy.
Texto por Sarah DeVries.
As alturas variáveis das águas que formam o telhado fazem lembrar uma grande criatura marinha em movimento. Visto do nível do solo, o concreto liso e cor de terra parece sustentar a metade superior como um caule de um cogumelo. Finalmente, a base curva da casa lhe dá a aparência de uma criação orgânica e flutuante. Na verdade, a casa em si é uma espécie de teste de Rorschach: como acontece com as nuvens ou a arte abstrata, a interpretação de sua forma única depende dos olhos de quem a vê. Segundo a proprietária Rosalinda Ulloa, pessoas diferentes se referem a ela como um cogumelo, um polvo, uma caverna de morcego, uma flor e até mesmo um merengue de cobertura de bolo.
A casa foi construída em etapas e sem uma planta tradicional. Ela é o produto de longas conversas com a família que ocuparia o espaço. "Quais são seus sonhos mais selvagens?" foi a pergunta de partida, e as várias respostas incluiriam escorregadores e postes de bombeiros, uma criatura parecida com uma salamandra rastejando em direção à chaminé no teto, uma cozinha cheia de luz e dormitórios em forma de ninhos suspensos, com janelas para observação de estrelas à noite e saudações ao sol pela manhã: cavernas com vista. A casa é também uma colagem, partes dela são feitas de materiais encontrados e doados. As duas fileiras de janelas circulares acima das escadas, por exemplo, foram um presente de uma amiga de Ulloa. Ao recebê-los, ela e Danilo Veras Godoy passaram horas brincando e decidindo não onde colocá-las, mas o que construir para exibi-las. No final, elas foram usadas para iluminar a escadaria, subindo da base da casa até o topo. O mesmo aconteceu com o vitral na sala de estar, que também foi um presente.
Os animais, tanto intencionais quanto espontâneos, também enfeitam a casa: a pia no banheiro do andar de cima tem a forma de uma cabeça de leão, enquanto alguns diriam que a torneira no térreo se assemelha ao bico de um pássaro azul. A figura em forma de salamandra na chaminé foi resultado da imaginação da jovem família e do arquiteto amarrando um lápis de cera a um longo pau para traçar a figura. Acima de toda a estrutura, uma cobra feita por Ulloa envolve um estafilococo como uma coroa triunfante para o palácio, um símbolo tanto da sensualidade feminina, quanto da superação do medo do próprio dono em relação ao réptil.
Entrar na casa é um estímulo a se imaginar dentro da casca de um caracol. A planta é circular, ambos os andares consistem de várias salas curvas em torno de uma coluna central: real no primeiro andar, imaginado no segundo. No térreo estão, circulando da esquerda para a direita, a sala de estar, a sala de jantar, a cozinha, a escadaria e o banheiro do térreo. No primeiro pavimento, caminhando na mesma direção, encontra-se o banheiro e o closet, seguido de três dormitórios. Uma combinação de janelas circulares, inclinadas e quadriláteras por toda a casa garante que a luz entre em todos os lugares onde é necessária: na escada, nos espaços comuns e nos dormitórios individuais.
O interior da casa possui as mesmas características lúdicas que o exterior. Com pisos turquesa brilhante em grande parte da casa, os tons suaves de branco neutro, marrom e terracota das paredes servem como uma tela para deixar o desenho geral brilhar. As estruturas em pedra para armazenamento combinam com balcões de mosaico de vidro na cozinha e nos banheiros, o efeito é de utilidade local e sonhador otimista.
A "Casa dos Milagres" é também um lugar que requer agilidade física para se movimentar: escadas alternadas levam a plataformas elevadas em cada um dos quartos, enquanto o restante do espaço é reservado para trabalho ou lazer, com estantes embutidas. Uma escada externa leva ao dormitório principal para permitir a entrada direta no santuário quando necessário, e um escorregador foi construído em um dos quartos em um primeiro momento, e mais tarde um outro, externo, foi adicionado à casa para maior diversão.
