Uma praça d’água no deserto: o Pavilhão do Brasil na Expo 2020 Dubai

Inspirado nas águas dos rios e mangues brasileiros, o Pavilhão do Brasil na Expo 2020 Dubai convida os visitantes a uma experiência interativa imersa em uma atmosfera de sons, projeções, temperaturas e texturas que evocam as paisagens brasileiras. O projeto dos escritórios JPG.ARQ, MMBB Arquitetos, e Ben-Avid, com curadoria de Guilherme Wisnik e Alexandre Benoit, foi o ganhador do concurso realizado em 2018 para representar o país no evento, que acontece até março de 2022.

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O pavilhão busca provocar uma reflexão sobre o tema da água – sobretudo dos rios e mangues brasileiros do “Brasil interior”, segundo o memorial do projeto – mostrando uma perspectiva sobre o país menos difundida que aquela direcionada à sua vasta extensão litorânea, historicamente voltada à Europa. 

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Enquanto elemento intimamente relacionado à fertilidade e à biodiversidade, a água é peça fundamental nas discussões sobre sustentabilidade e preservação. Nesse sentido, o Pavilhão Brasileiro busca promover uma reflexão através da arquitetura e da expografia — consideradas de forma indissociável desde a etapa de projeto — sobre o Brasil como potência para uma reflexão conjunta sobre o futuro do planeta.

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O pavilhão

O Pavilhão Brasileiro pode ser descrito como uma praça d’água coberta por uma tensoestrutura suspensa. Diferentes gradações de uso e de privacidade, caracterizados tanto pela forma de acesso como pelas aberturas, permeiam os espaços do pavilhão. Enquanto o nível térreo se configura como espaço central de visitação, o primeiro pavimento do volume suspenso interno ao pavilhão abriga as exposições temporárias e o segundo, as funções administrativas. Com diferentes graus de aberturas, reduzindo à medida em que os níveis avançam, estes espaços possibilitam vistas diretas para a praça d’água no nível térreo.

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Como uma topografia, as diferenças nas inclinações do piso no térreo permitem a diluição dos limites entre o seco e o molhado ou, ainda, entre o dentro e o fora, ao avançar para além dos limites da estrutura do pavilhão. Sobre o pavimento escuro, as águas remetem à tonalidade do Rio Negro, causada pela decomposição de sedimentos orgânicos da floresta.

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Mas, além de “mote poético”, a água também adquire no pavilhão o caráter de elemento construtivo: se, durante o dia, reflete a estrutura, tornando-se uma espécie de extensão do construído, à noite configura-se como uma sexta superfície para as projeções, em conjunto com as cinco faces que compõem o seu invólucro. 

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Planta baixa térreo

A referência à ideia de praça é reforçada pela interação dos visitantes na água, que torna-se local de congregação de forma livre, aberta e espontânea. A noção de abertura é levada ao limite pelo gesto arquitetônico que suspende de forma delicada a barra inferior da estrutura metálica para permitir a entrada dos visitantes. Como uma referência à arquitetura moderna brasileira, o pavilhão deixa a entrada livre, sem que seja necessário pedir permissão para ingressar. 

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A estrutura

Caracterizada sobretudo pela sua leveza, a estrutura do pavilhão é composta por perfis tubulares metálicos de seção quadrada que formam treliças apoiadas em quatro pontos deslocados das arestas verticais. Além dos apoios perimetrais, o anel de tração, que constitui o quinto apoio, é deslocado do centro do pavilhão e faz a ancoragem da tensoestrutura a partir do atirantamento ao solo. O princípio estrutural parte da ideia de utilizar um material maleável que, através do tensionamento e sua resistência à tração, é capaz de cobrir grandes vãos.

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O deslocamento da base da estrutura em relação ao chão, assim como o “anel de tração” central e as frestas entre o tecido e os cabos que os tracionam possibilitam a ventilação natural, dispensando o ar condicionado na área da praça d’água.

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Fachada leste
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Corte transversal

Assim como o uso de materiais de origem local, isto é, dos Emirados Árabes, a produção e montagem seguiram a cadeia produtiva de Dubai. Seguindo a lógica da sustentabilidade, o pavilhão foi projetado de forma a ser desmontável, com materiais pré-fabricados e fundações rasas para facilitar a desmontagem. Assim, o pavilhão reflete um modo brasileiro de pensar a relação entre construção e paisagem e entre estrutura e programa arquitetônico, sem recorrer a simulacros ou ao transporte de materiais de origem brasileira por mais de doze mil quilômetros.

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Uma experiência brasileira imersiva

Se durante o dia o tecido branco que envolve as faces do pavilhão oferece sombra aos visitantes e permite acompanhar a mudança da posição do sol e das tonalidades do céu, torna-se, à noite, anteparo para projeções de imagens de paisagens brasileiras urbanas e naturais. 

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Os projetores distribuídos pela estrutura do pavilhão exibem imagens que percorrem os mais de 5.500 m² de superfície de tecido. Assim, enquanto no interior do pavilhão tem-se uma continuação da imagem projetada na água, como uma espécie de espelho, do lado de fora o pavilhão assemelha-se a uma lanterna ou caixa luminosa, diferente de tradicionais experiências imersivas, geralmente restritas aos espaços internos.

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O pavilhão na Expo

O projeto foi selecionado por meio do concurso promovido pela Apex Brasil e organizado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil Departamento do Distrito Federal – IAB/DF em 2018. Sob o tema Connecting Minds, Creating the Future (“Conectando Mentes, Criando o Futuro”, em tradução livre), a Expo 2020 Dubai é organizada em três distritos: Oportunidade, Mobilidade e Sustentabilidade. Desde o edital, estava previsto que o Pavilhão Brasileiro faria parte do distrito da Sustentabilidade e deveria ser inserido no tema Together for Diversity (“Juntos pela Diversidade”).

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© Leonardo Finotti

Através da arquitetura e da proposta curatorial, a equipe de projeto pretende discutir o Brasil como potência para uma reflexão conjunta sobre o futuro do planeta, e não como uma simplificação da realidade e contexto brasileiros:

“Esquivando-se de simulacros que diminuam a complexa diversidade de nossas reservas naturais ou encubram a urgente consciência crítica sobre o futuro do planeta, eis o pavilhão como uma praça d´água sobre a qual paira uma grande nuvem solar, acolhendo o público e estimulando-o a participar ativamente de uma experiência ambiental brasileira." — Memorial do projeto

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© Leonardo Finotti

Assim como uma praça, o Pavilhão Brasileiro é aberto para diferentes usos do espaço, sendo um lugar de expressão da espontaneidade, ludicidade e liberdade, além de — ou ainda, justamente por isso — local de posicionamento crítico e livre expressão.

Acompanhe nossa cobertura completa da Expo Dubai 2020.

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Sobre este autor
Cita: Susanna Moreira. "Uma praça d’água no deserto: o Pavilhão do Brasil na Expo 2020 Dubai" 06 Fev 2022. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/975348/uma-praca-dagua-no-deserto-o-pavilhao-do-brasil-na-expo-2020-dubai> ISSN 0719-8906

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