Em um momento no qual muito se valoriza a biofilia na arquitetura, as piscinas naturais se tornam mais um elemento capaz de aumentar a conexão com a natureza, possibilitando a criação de um espaço recreativo e contemplativo ao mesmo tempo. Também conhecidas como piscinas ecológicas ou biológicas, elas reproduzem um ecossistema composto por plantas, pedras e até mesmo algumas espécies de peixes.
O termo “natural” está relacionado ao tipo de tratamento que a água da piscina recebe que, neste caso, é livre de produtos químicos. Nesse sentindo, seu funcionamento se assemelha ao de um lago natural, já que cada componente possui a sua função no sistema: as pedras e areia retêm as impurezas, as plantas promovem a oxigenação aquática e os peixes colaboram com a limpeza da água ajudando a eliminar larvas e insetos. Basicamente, a piscina natural é autolimpante, e os agentes naturais dispensam a necessidade de produtos químicos, gerando um ciclo de manutenção autossuficiente, econômico e sustentável.
Substituindo os tradicionais azulejos e os baldes de cloro, as piscinas naturais exigem uma escavação mínima de 1,50 metros de profundidade, podendo ser construídas em diferentes formatos, por isso, a recorrência de formas orgânicas escavadas diretamente no solo natural e em pequenos espaços, dependendo das possibilidades do terreno. Logo após a escavação, aplica-se uma cobertura geotêxtil e manta de borracha – ambos materiais atóxicos – a fim de reter a água. A base das piscinas naturais geralmente é composta por um tipo de areia clara, incluindo também pedras naturais como seixos.
Como exemplo de aplicação prática, no projeto da Casa MS do Studio Arthur Casas, criou-se uma espécie de lago artificial que abraça toda a edificação e ameniza o clima árido da região do interior paulista. Repleto de peixes e plantas, o lago se transforma em uma piscina natural na zona próxima a área de social da casa.
Apesar de já estarem muito presentes em projetos residenciais de países da Europa e EUA, no Brasil, esse sistema recebeu atenção apenas recentemente. Nesse sentido, empresas especializadas na instalação das piscinas naturais afirmam que aqui – diferentemente de outros países - há uma grande exigência pela cristalinidade da água, portanto, para atingir esse objetivo são inseridos sistemas de filtragem focados nas partículas de sujeira grande, como folhas, evitando que a água se torne turva. Além do filtro, recomenda-se também o uso de bombas hidráulicas para auxiliar na circulação da água, mas que, neste caso, economizam 30% de energia se comparadas com as piscinas convencionais. Outra vantagem das piscinas naturais é a manutenção, visto que, pelo fato de não necessitar de componentes químicos, sua conservação é muito simples limitando-se à troca do filtro a cada seis meses. Vale ressaltar ainda que a água da piscina natural pode ser reutilizada para irrigação, o que promove uma troca parcial benéfica da água e dispensa a construção de uma cisterna para tal função.
Na Casa Barco, do estúdio indiano Architectonica Procreate, optou-se por criar uma piscina natural construída com o sistema de aquaponia (integrando o cultivo de peixes e hortaliças em sistemas de recirculação de água e nutrientes) gerando um espaço para nadar em meio à natureza. Seu delicado ecossistema é composto por plantas aquáticas, peixes, sapos, tartarugas e aves migratórias e a sua arquitetura é uma testemunha silenciosa do desenrolar desta vida.
No Canadá, entretanto, a aplicação da piscina natural atingiu uma escala maior, sendo utilizada para a implementação da piscina pública Borden Park, um clube aquático com capacidade para 400 banhistas. Nesse sistema ousado, a filtragem é feita de duas maneiras: por meio de um sistema biológico-mecânico ou do filtro de brita e cascalho construído em in situ com o Zooplâncton.
Apesar de representar um custo de implementação ligeiramente mais elevado do que as piscinas convencionais e exigir mão de obra especializada para sua construção, as piscinas naturais podem se tornar uma interessante alternativa para contribuir com ecossistemas locais, inter-relacionando diferentes espécies, incluindo pássaros e insetos, melhorando a qualidade do ar e o microclima da região. Além disso, muitos estudos já comprovam o quão benéfico é o contato com a natureza para o ser humano, reduzindo níveis de ansiedade e estresse.
Publicado originalmente em 2 de março de 2022, atualizado em 6 de dezembro de 2022.