Dois mil e quinhentos reais é o preço médio de um bom óculos para realidade virtual. Se você optar pela experiência completa, desembolse mais quatro mil reias e adicione sensores e controles. Esses modelos precisam ser conectados a um computador de alto desempenho para processar as informações e transformar os espaços em modelos 3D que custará pelo menos cinco mil reais. Além dos óculos, sensores e computador, será necessário também um software, com licenças anuais que atingem igualmente a casa dos milhares. Ou seja, é um tanto quanto oneroso ser tecnológico hoje em dia.
O exemplo acima parte da experiência completa que a realidade virtual pode oferecer: conteúdo imersivo, aplicativo de realidade virtual e óculos de imersão. Entretanto, existem outras estratégias de menor custo – mas nem por isso tão acessíveis assim –, que devem ser citadas, tendo em mente que a qualidade oferecida decai proporcionalmente. Como, por exemplo, o modelo de imersão que utiliza os óculos aliados ao smartphone, custando em média quatro mil reais o conjunto, ou ainda o modelo experimental e mais barato, cardboard, óculos feito de papelão da Google que pode se conectar ao celular, custando em média 200 reais. Tentativas de popularizar a tecnologia de imersão existem, e isso não se pode negar, mas de fato, muitas delas ainda servem apenas como portas de entrada ao mundo da realidade virtual e não tanto como ferramentas profissionais propriamente ditas.
Claro que a popularização dessas ferramentas é parte de um processo de implementação, nos fazendo acreditar que a tecnologia imersiva possa ter o mesmo destino da realidade aumentada, por exemplo. Diferentemente da realidade virtual, a aumentada inclui elementos digitais em uma visão do mundo real sem a sensação de imersão. Como muitos avanços tecnológicos, ela teve origem nas pesquisas governamentais nos EUA que, testando tecnologia de ponta, aprimorou equipamentos para rastreamento de dados e informações, com seu primeiro aparelho colocado em uso no ano de 1968. De lá pra cá a popularização dessa tecnologia fez com que ela esteja presente hoje em diversos aplicativos gratuitos que funcionam em qualquer smartphone nos quais é possível adicionar elementos digitais com qualidade e nitidez sobre o seu rosto na hora da foto.
Mas, enquanto a realidade virtual ainda não está tão presente assim no nosso cotidiano, sua aplicação na arquitetura ainda segue nebulosa e exclusiva para alguns grupos, assim como outras inúmeras tecnologias que hoje estão sendo utilizadas na visualização arquitetônica e que constantemente passam de experimentos à pré-requisitos de contratação. É difícil acompanhar intelectualmente tanta movimentação, que dirá financeiramente.
Com as imagens renderizadas, a situação não é diferente. Muito se sabe sobre a importância da visualização no mercado da arquitetura, seja para clientes particulares, empresas, ou mesmo para concursos. Entretanto, a reflexão sobre quantos escritórios ou profissionais autônomos conseguem de fato ter disponíveis estas tecnologias, deve ser trazida à tona, visto que, gerar uma “simples” imagem renderizada já requer, no mínimo, um computador de alto desempenho. Essa situação é ainda mais potencializada em realidades como a brasileira, na qual menos da metade da população do país possui computador, notebook ou tablet nos seus domicílios, o que leva a uma reflexão sobre a superestimação da tecnologia e a desigualdade de acesso a ela.
Está claro que há um encantamento pelas imagens perfeitamente representadas, pela experiência de imersão que nos faz refletir maravilhados sobre os limites da tecnologia. Entretanto, considerar essa desigualdade de acesso é prudente e aciona um alerta para não nos deixarmos seduzir pela visualização dos projetos arquitetônicos e assim fomentar um deslumbramento que ultrapassa até mesmo a própria qualidade do projeto. Ou seja, parece necessário considerar o uso de tecnologia mais como uma ferramenta de marketing do que de arquitetura e não misturarmos a qualidade arquitetônica com o modo como ela é apresentada.
Enquanto essas tecnologias não são popularizadas e se tornem economicamente viáveis para nossa realidade deixemos as vanguardas de visualização para os arquitetos exploradores internacionalmente conhecidos como Zaha Hadid Architects, Bjarke Ingels, Coop Himmelblau, e nos concentremos nos processos que estão ao nosso alcance, nos quais a representação é apenas uma pequena parte do esforço que deve ser depositado ao se projetar um edifício.
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