Muitas vezes, as escadas representam um ponto de interesse de um projeto de arquitetura. A habilidade de criar algo que nos move de um nível para outro, para cima e para baixo, é algo tão simples e familiar ao mesmo tempo que com um pequeno ajuste pode tornar a experiência de subir ou descer em algo tão único. Nossa obsessão por escadas e o nível de ilusão que elas criam na arquitetura talvez decorra da maneira como elas são capazes de distorcer a ótica e a percepção do espaço. Entendemos que elas nos transportam em uma direção ou outra, mas as escadas podem ser circulares? É possível subir e descer para sempre?
Em 1959, a dupla de matemáticos Lionel e Roger Penrose, pai e filho, apresentaram o conceito bidimensional da escada de Penrose. Essencialmente, a ilustração desta escada leva o observador para um loop eterno ascendente, sendo impossível de descer a escada ou escapar dela. Essa escada retrata uma ideia que viola a geometria euclidiana básica, já que se você completasse uma volta completa pelas escadas, estaria de volta ao mesmo nível em que começou.
Muitos artistas, como M.C. Escher, começaram a usar a escada de Penrose como fonte de inspiração em seu próprio trabalho centrado na ideia de objetos e cenas impossíveis. Escher produziu a "Ascendente e Descendente", uma litografia bem conhecida que mostra pessoas que aparentam subir as escadas ao mesmo tempo que descem. As escadas se cruzam em um padrão labiríntico, surgindo de todas as direções e cheias de figuras sem emoção subindo (ou descendo?) em uma procissão calma. As escadas são desenhadas com precisão, em uma escala familiar, dando-lhes a sensação de que existem em um mundo crível, mas olhando mais de perto, as escadas se encontram em ângulos impossíveis que têm orientações simultâneas de gravidade. Logo além do labirinto de escadas há arcos que dão vista para um mundo utópico que contrasta fortemente com a confusão do interior. A realidade e a ilusão das escadas mudam cada vez que você olha para elas.
House of Stairs, 1951 #escher #mcescher pic.twitter.com/l8ClCUXYhs
— M.C. Escher (@artistescher) May 25, 2021
Até os físicos estudaram as propriedades computacionais das ilustrações impossíveis como a escada de Penrose, e os cientistas cognitivos procuram entender por que vemos esses objetos como possíveis mesmo quando sabemos que não são. Uma vez que descobrimos o artifício que uma escada de Penrose usa para nos iludir, por que não a traduzimos imediatamente em linhas simples em uma página? E por que tentamos criar essas escadas no mundo tridimensional?
No ambiente construído, onde as escadas existem e podemos usá-las, o desenho dessas escadas ilusórias e sua ambiguidade é algo que persiste no tempo. Enquanto apenas uma escada nos oferece um caminho claro para transitarmos de um espaço para o outro, a presença de várias delas pode nos levar em direções possíveis e impossíveis, criando uma qualidade espacial que permita extrapolar seus usos e que elas se tornem um complemento ao espaço. Por exemplo, nos projetos de Ricardo Boffil, sobretudo La Muralla Roja, que apresenta uma série de escadas, plataformas e pontes interligadas para circular entre os 50 apartamentos do projeto, o arquiteto usa as escadas como forma de se misturar à geometria geral do edifício. Os caminhos complexos de movimento permitem que o usuário não pense mais nas escadas como um meio para subir ou descer, mas como uma forma de se orientar dentro e ao redor do projeto, aproveitando as centenas de vistas que oferecem novas perspectivas das habitações coloridas.
As escadas de Penrose e os famosos desenhos de Escher tiveram um impacto profundo não apenas em como projetamos os espaços, mas também na maneira como as escadas podem modificar nossa percepção de profundidade e gerar ilusões. Uma escada é apenas um modo de subir? Ou descer? Ou são outra coisa?
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