Neste 5 de maio foi inaugurada a primeira edição do Model. Festival de Arquiteturas de Barcelona. Um evento organizado conjuntamente pela Câmara Municipal de Barcelona e pelo Colégio de Arquitetos da Catalunha (COAC) que nos aproxima da arquitetura experimental e nos ajuda a repensar como queremos viver juntos através de novos modelos de cidade e novos imaginários.
O encontro é uma prévia que merecidamente anuncia Barcelona como a Capital Mundial da Arquitetura UIA-Unesco de 2026. Um convite a questionar o que significa essa designação em uma sociedade diversa e global, num momento em que o modelo de cidade precisa ser redefinido, redesenhado e revisado em todas as escalas para responder às múltiplas crises sistêmicas do nosso tempo. Por estas razões, o eixo principal desta primeira edição é a ideia de "re-crescimento".
Quais conflitos, internos e externos, as cidades terão de enfrentar? Poderemos seguir construindo prédios, ruas, praças e parques da mesma forma que fizemos no passado? Com que materiais? Com que energia? Adaptados a que temperaturas? Em que escala? Para quem? - são algumas das principais questões a serem investigadas neste festival realizado pelas diretoras artísticas Eva Franch i Gilabert, Beth Galí e o pesquisador cultural José Luis de Vicente - a eles se juntam os curadores Ethel Baraona (Livros Modelo), Álex Giménez (Pensamento Modelo), Nuria Moliner, Eva Serrat e Francesc Pla (Instalações).
As atividades propostas destinam-se a todos os públicos, com linguagens e formatos tão diversos que permitem a reflexão coletiva num modelo participativo. Durante a inauguração já estavam disponíveis as cinco instalações de arquitetura efêmera (MAIO, LEA Atelier e TAKK Architecture, Ojo Estudio, FLEXOARQUITECTURA e ELISAVA) as quais se soma uma série de instalações de realidades aumentadas (Queer de Triomf, Landlord Open House, Los augurios, La plaza al final del metaverso, Colon-izamos el Port e CIUTAT SAFAREIG).
Durante os próximos dias haverá debates divididos em três áreas: “Pensamento Modelo”, um conjunto de apresentações e painéis com participantes locais e internacionais; “O Protocolo de Barcelona”, apresenta um manifesto de intenções dentro do “Model X-Change: CPH/BCN”; e “Hora Model”, que trará debates informais aos espaços das instalações efêmeras de arquitetura. Além disso, haverá as duas exposições "99+ imaginarios" na Fundação Enric Miralles e "CPH/BCN" no DHUB (uma seleção de projetos das cidades de Copenhague e Barcelona, indicados desde 1988 para o Prêmio de Arquitetura Contemporânea da União Europeia - Prêmio Mies van der Rohe).
Também estará disponível "Libros Model", uma seleção de publicações de diferentes editoras internacionais na Plaza Reial que promovem e divulgam trabalhos e ideias no campo da arquitetura, e "Rutas", uma coleção de podcasts gravados em formato imersivo como áudio guias para ouvir através de plataformas abertas. Haverá visitas a diferentes pontos-chave da cidade, workshops para todos os gostos que permitem aos cidadãos colocar-se temporariamente na pele de um arquiteto, 10 "festas de arquitetura", uma para cada um dos bairros da cidade e o BARQ -Festival Internacional de Cinema de Arquitetura de Barcelona.
Tudo isso realizado por mais de 120 participantes convidados de todo o mundo, entre os quais também estão Maarten Gielen (ROTOR), Carolyn Steel, Rafael Moneo, Carme Pinós, Rose George, Reinier de Graaf (OMA), Amica Dall/Asemejo, Elizabeth Duval, Battle i Roig, La Col, Cooking Sections, Camilla van Deurs, Jill Stoner, Ricky Burdett, Maria Rubert, Josep Maria Montaner, Peris+Toral, Anna & Eugeni Bach, Elisenda Solsona, Areti Markopoulou, entre muitos outros.
Através das cinco instalações de arquitetura efêmera localizadas em um circuito na Ciutat Vella, começando pela Plaza de Catalunya, Sant Antoni, Plaza de Idrissa Diallo, o Paseo de Lluís Companys e a Plaza Real, são explorados os cinco grandes temas desta edição do festival, cada um enraizado em um espaço da cidade: Entre-classes, Entre-culturas, Entre-espécies, Entre-gerações e Entre-materiais. Estes, sem dúvida, foram o foco da atenção do público na inauguração. Saiba mais sobre as instalações de arquitetura efêmera abaixo.
Arca de Convivência / Ronda de Sant Antoni
Equipe: LEA Atelier e TAKK Architecture
Caminhando pela plataforma do antigo mercado temporário de Sant Antoni, um artefato móvel abriga uma infinidade de árvores, plantas, arbustos e insetos. A arca nos lembra da necessidade urgente de criar espaços públicos para reverter os efeitos do aquecimento global e estimular a biodiversidade.
A instalação incorpora espécies de diversos climas, altitudes e paisagens de todo o mundo e inclui hóspedes de vários tipos: desde espécies capazes de absorver dez vezes mais CO2 do que o habitual até espécies comestíveis que abrem novas possibilidades para nossa soberania alimentar, ou as que são capazes de convocar outros agentes através do estabelecimento de relações de mutualismo, inquilinismo ou simbiose.
Cozinha Urbana / Plaza Cataluña
Equipe: MAIO.
Esta é uma cozinha urbana no centro da Plaza de Cataluña que é palco de várias ativações culinárias onde serão apresentados e discutidos novos modelos sobre a relação entre a comida e a cidade, seu impacto climático e sua ligação com a justiça social.
Durante a abertura houve a apresentação de Cooking-Sections - uma equipe formada por Daniel Fernández Pascual e Alon Schwabe a qual examina os sistemas que organizam o mundo através da alimentação. Além disso, conta com a participação da Plataforma Aprofitem els Aliments e Comedores Populares de Lima.
Reverter a Pirâmide / Plaza Idrissa Diallo
Equipe: Ojo Estudio
A antiga praça Antonio López, desde março deste ano, chama-se Plaza Idrissa Diallo. Esse espaço encarna o legado colonial da cidade e foi palco de um dos primeiros exercícios de ressignificação simbólica. O seu pedestal vazio oferece a oportunidade de marcar no tecido urbano as impressões deixadas pelas diferentes formas de dominação e exploração que ainda segmentam a cidade.
A instalação, uma estrutura de andaime que sustenta uma superfície de madeira, propõe inverter esta pirâmide de classes e erguer sobre este pedestal um espaço público coletivo para todos - um lugar para refletir e ver a cidade e o mar desde outra perspectiva.
Memória Cronotópica / Paseo de Lluís Companys
Equipe: FLEXOARQUITECTURA
Esta instalação apresenta uma reflexão sobre o fluxo material de arquiteturas passadas e futuras.
Diante dos entulhos arquitetônicos gerados devido às mudanças de uso, é possível avaliar sua permanência e reprogramação? Quais outros programas o Palácio de Belas Artes ou os antigos tribunais podem acolher hoje? Quais arquiteturas poderiam aproveitar os pavimentos, móveis ou janelas dos tribunais? O que poderia ter sido feito do órgão musical e das pedras de Montjuic das paredes de sustentação do palácio?
Diante dos terrenos baldios da cidade, que transitam entre uma arquitetura sucumbida e outra por vir, seria possível ativá-los temporariamente respeitando a diversidade e riqueza de sua flora e fauna de crescimento espontâneo?
Ocupar o centro com a palavra / Plaza Real
Equipe: ELISAVA | Roger Paez (direção), Manuela Valtchanova, Albert Fuster, Toni Montes.
A Plaza Real torna-se o centro dos debates sobre arquitetura, cidade, design e sociedade. A intervenção temporária na praça procura gerar condições ótimas onde possam ocorrer tanto os encontros como os desacordos, tanto o consenso como a controvérsia -sempre através da palavra.
Por isso, o chafariz das Tres Gracias na Plaza Real será coberto, ocupando temporariamente o centro da praça com uma estrutura que incentiva sua apropriação por qualquer cidadão que queira falar.
‘Ocupe o centro com a palavra’ tem um significado tanto infraestrutural quanto simbólico – é um sistema espacial que facilita o debate transformando temporariamente o espaço público sendo, ao mesmo tempo, um manifesto por uma cidade aberta.