Cerca de cinco hectares tem a Plaza de Cataluña, um dos centros nevrálgicos de Barcelona. Um lugar de convergência para os diversos bairros e turistas de todas as culturas e origens. Aqui, o escritório de arquitetura MAIO projetou e construiu uma cozinha urbana para o Festival Model - um evento que durante dez dias no mês de maio tomou a cidade como um campo de experimentação e debate.
Trata-se de um grande cenário que permite o encontro das diferentes visões de cada um dos habitantes sobre como a cidade deve ser, a fim de preservar um senso de identidade e memória compartilhada e não apenas ser a soma de suas partes. Neste sentido, a proposta aborda principalmente as ativações culinárias que são uma oportunidade perfeita para falar de novos modelos relacionados à alimentação, à cidade, ao impacto climático e à justiça social.
"Nas últimas décadas, em resposta às antigas estruturas raciais e de gênero, assim como à crescente instabilidade social e ao impacto da mudança climática, surgiu um novo tipo de cozinha urbana. Nessas arquiteturas, a cozinha não faz parte do âmbito doméstico e privado, mas acontece no contexto público e digital como parte de uma organização metropolitana aberta que visa ter uma voz política. Nuestra Cocina Urbana presta homenagem e celebra estas novas formas de resistência e participação comunitária", diz o escritório de arquitetura MAIO.
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As atividades que aconteceram nesta etapa incluíram a participação Cooking Sections, Plataforma Aprofitem els Aliments, Comedores Populares de Lima e uma mesa redonda sobre o pensamento essencial sobre a cidade e a arquitetura hoje, com a participação de Carolyn Steel, Jill Stoner e María Teresa Muñoz. Saiba mais sobre cada um destes a seguir.
Mejillonada Post-Cemento ("Mexilhonada" pós-cimento) / Cooking Sections
Esta dupla utiliza alimentos para analisar os sistemas que organizam o mundo. Eles realizaram um jantar à base de mexilhões da costa do Mediterrâneo, que refletiu sobre a possibilidade de utilizar os resíduos alimentares como material de construção em um mundo sem emissões poluentes ("pós-cimento"). Ao mesmo tempo, eles nos convidam a nos relacionarmos com a forma como esses moluscos atuam como filtros de água do mar. Seu projeto propõe uma forma adaptativa de alimentos capaz de responder às mudanças climáticas induzidas pelo homem e às alterações da paisagem.
Basta de derrochar alimentos (Pare de desperdiçar alimentos) / Plataforma Aprofitem els Aliments (PAA)
Somente reutilizando a metade do excedente alimentar atual, poderíamos alimentar toda a população mundial que carece de recursos. Neste contexto, o PAA é uma plataforma social que promove a redução do desperdício de alimentos ao longo do ciclo alimentar (produção, distribuição, consumo e gestão de resíduos). Neste sentido, foi organizado um jantar baseado no uso de alimentos recuperados da própria cidade de Barcelona, que ficaram de fora do circuito comercial. O chef Pablo Albuerne, com a ajuda de voluntários, deu uma segunda chance aos alimentos, promovendo a sustentabilidade e a soberania alimentar.
Comida y mujer migrante (Comida e mulher migrante) / Comedor Popular la Balanza
Os líderes dos Comedores Populares de Lima (Peru) ofereceram uma refeição ao mesmo tempo em que explicaram a história das cozinhas urbanas em seu país e sua ligação com o empoderamento das mulheres migrantes. Os Comedores Populares Autogestionados de Lima são instituições dirigidas por grupos de mulheres que, através da alimentação, conseguiram ganhar voz e representação política. Atualmente, os Comedores Populares fornecem alimentos a quase meio milhão de pessoas todos os dias, com mais de 100.000 mulheres ativas operando e administrando essas cozinhas comunitárias.
Mesa de debate / Carolyn Steel, Jill Stoner e María Teresa Muñoz
Foram discutidos o pensamento essencial e os novos parâmetros emergentes no planejamento e na arquitetura da cidade de hoje. Três palestrantes participaram, delineando, do ponto de vista delas, as novas necessidades e a nova abordagem para as cidades do futuro: Carolyn Steel, arquiteta e autora de Hungry City, uma reivindicação do conceito de cidade da qual alimenta seus habitantes e sua economia; Jill Stoner, arquiteta e professora da College of Enviromental Design da Universidade de Califórnia (Berkeley) e autora de Towards a Minor Architecture, que propõe que nos tornemos arquitetos menores, diante das ruínas de uma paisagem cheia de edifícios e centros comerciais em desuso; E María Teresa Muñoz, crítica de arquitetura e professora emérita da Escola de Arquitetura de Madri, autora de Jaulas y trampas, que reflete sobre as cidades sob vigilância. No final da discussão, Marina Povedano coordenou um diálogo entre todos as palestrantes.
Se quiser conhecer mais sobre o evento, acompanhe nossa cobertura do Model - Festival de Arquiteturas de Barcelona.