Quando os primeiros aviões comerciais decolaram, o mesmo aconteceu com a arquitetura. Como muitos outros momentos de avanço tecnológico, o fascínio por voar pelos céus foi uma forte influência para os movimentos de design dos últimos cinquenta anos. Não apenas em termos de como projetamos aeroportos e pensamos na experiência dos passageiros das companhias aéreas, mas na estética da aviação, e como os tecidos, texturas e detalhes sofisticados influenciariam nossas vidas no solo.
Em 21 de janeiro de 1970, a Pan Am transportou passageiros de Nova York para Londres a bordo do primeiro voo comercial num 747. Por mais incrível que fosse esse feito, o avião em si era uma aula de design. Escadas em espiral conectavam dois andares de assentos e telas grandes exibiam filmes para os mais de 500 passageiros espalhados pelas cabines. O voo era mais do que apenas uma viagem transatlântica, ele introduziu as possibilidades de como o futuro poderia ser - e os arquitetos tomaram nota. Mais tarde, na mesma década, a American Airlines começou a remover assentos de seus jatos de luxo para construir lounges completos, com piano e um bar que servia coquetéis de cortesia aos passageiros, trazendo uma experiência típica do solo para o céu. A Continental construiu uma frota de aviões que era mais um pub voador do que qualquer coisa, cheios de fliperamas, e abriu mão do limite máximo padrão de duas bebidas por passageiro ao deixar que bebessem o quanto quisessem.
A Pan Am também evoluiu nos anos seguintes, servindo aos passageiros refeições com vários pratos, preparadas em uma das quatro cozinhas do avião, aprimorando comodidades como banheiros, que lembram lavabos que você encontraria nas casas das pessoas. Eles também enfatizaram a vista do céu, alinhando os assentos com as janelas, o que aumentou a distância entre as fileiras e deu mais espaço para as pernas dos passageiros. Mais tarde, a Qantas desenvolveu o “Captain Hook Lounge”, com tema náutico, e a Japan Airlines homenageou a cultura japonesa ao construir casas de chá em sua frota de aviões.
Voar nesta época, muitas vezes chamada de era dourada,nada mais era do que uma aventura de luxo. O 747 mudou completamente as viagens aéreas, tanto em termos de distância e velocidade que se podia viajar, quanto no estilo em que voavam. Os passageiros muitas vezes se vestiam com seus melhores ternos e vestidos para tomar vinho e jantar a milhares de pés de altura. Infelizmente, essa era da aviação durou pouco. Em 1978, o governo dos EUA aprovou o Airline Deregulation Act e os preços das passagens caíram. As companhias aéreas agora precisavam espremer cada centímetro de espaço em seus aviões para lucrar, e os bares e lounges logo desapareceram da maioria das aeronaves. Mas os sonhos desses projetos ainda viviam, só que no solo, e da maneira que as aeronaves do futuro seriam projetadas.
Eero Saarinen foi talvez o arquiteto mais influente dessa época, que se inspirou nos Boeing 747 e usou a imaginação nos aeroportos que criou. O Terminal TWA era um monumento à Trans World Airlines e uma façanha estrutural que se assemelhava a um pássaro voando. Foi recentemente reformado e reaberto ao público, junto com um hotel, e apresenta relíquias dos seus dias de glória, até um avião na pista, onde se pode desfrutar de cocktails nos antigos bancos de passageiros. Saarinen também projetou o Aeroporto Internacional Dulles, nos arredores de Washington DC. O terminal apresenta uma articulação repetida e moderna, que integra perfeitamente o acesso veicular com as entradas de pedestres que conduzem os passageiros a um prédio de dois andares que os transporta até seus respectivos portões.
Atualmente, o 747 tornou-se icônico por seu visual largo, com dois corredores, que acomodam mais passageiros e oferecem mais espaço do que nunca. Também introduziu o espaço acima das poltronas para armazenar malas, diferente dos aviões anteriores que só tinham carrinhos e racks. O Boeing 747 também foi a primeira aeronave a experimentar iluminação indireta e sistemas pessoais de entretenimento a bordo. Com o tempo, outros aviões começaram a se tornar mais avançados e, na era em que a sustentabilidade é fundamental, o 747 começou a ficar para trás nas métricas de eficiência de combustível, e as companhias aéreas comerciais começaram a aposentar lentamente suas frotas. Os últimos 747 serão produzidos no final de 2022.
Talvez seja por isso que Sir Norman Foster disse ao programa Building Sights da BBC, em 1991, que seu prédio favorito não é um prédio, é um avião Boeing 747. Ele afirma que não é apenas um avião ou uma façanha da engenharia, mas um edifício e uma maravilha arquitetônica em si. Mesmo que a aeronave 747 se aproxime de seu vôo final, fanáticos da aviação comercial e arquitetos podem se unir para sempre em sua escala, escultura e influência no design dos próximos séculos.