O que acontece quando ruas, praças e prédios começam a desaparecer em uma cidade?
Este é o caso de Cerro de Pasco, capital do distrito de Chaupimarca e da província de Pasco, localizada 4.380 metros acima do nível do mar nas terras altas dos Andes peruanos. É neste lugar que a constante expansão da prática de mineração "a céu aberto" tem devorado o tecido urbano, resultando em danos permanentes ao território à medida que seus espaços públicos, bens tombados e, consequentemente, sua história, desaparecem.
A cidade de Cerro de Pasco é um caso emblemático, pois evidencia as consequências do crescimento descontrolado da atividade mineradora no território, causando a marginalização de espaços habitados, grave contaminação dos recursos hídricos, perda de áreas naturais, entre outras catástrofes. Em 2008, foi declarado que a mudança da cidade de local era "de necessidade pública e de interesse nacional", mas até o momento nada foi feito.
Diante deste cenário particular, em seu artigo Cerro de Pasco y la paradoja del desarrollo: Imaginando una transición al posextractivismo para un territorio en dependencia extractiva, publicado pela plataforma Iberoamérica Social, o arquiteto Flavio Vila apresenta um cenário possível no qual se articula a participação da administração regional junto com a população para gerar uma cidade justa e habitável, sem a necessidade de relocá-la.
Para isso, o artigo analisa o caso por meio de várias ferramentas teóricas e conceituais, que se dividem em três seções principais, conseguindo assim um diagnóstico completo. A primeira seção concentra-se em uma análise cronológica da mina localizada no meio da cidade, estudando os eventos desde a época colonial até a era republicana.
Como segunda seção, a cidade de Cerro de Pasco é estudada sob o conceito de "nova ruralidade", destacando como a natureza "a céu aberto" da mina fez com que os vários grupos da população, assim como a memória coletiva da cidade, fossem afetados negativamente. Por fim, a terceira seção nos convida a imaginar a cidade num contexto de pós-desenvolvimento, reimaginando Cerro de Pasco "em direção a um horizonte de justiça sócio-ambiental e conservação da biodiversidade".
O artigo procura não apenas conscientizar os leitores sobre as consequências da falta de regulamentação nas cidades onde a expansão agressiva da mineração conduz seu destino, mas também lançar luz sobre propostas nas quais a população possa coexistir em harmonia com a técnica extrativista.
Assim, a publicação inclui diversos tópicos de debate para futuras agendas regulatórias e iniciativas políticas. Por outro lado, enfatiza que embora Cerro de Pasco seja um caso peculiar, o cenário de expansão urbana em torno de uma mina a céu aberto já começou a ser replicado, como é o caso da CCPP de Colquijirca, localizada 8 quilômetros ao sul da outra mina.
Em sua conclusão o autor menciona: "Sustento que nossos territórios devem permanecer, evoluir, ser habitados por mundos e ser o espaço onde seres vivos e não vivos se relacionam simetricamente. Eles devem ser imperecíveis, acolher-nos como nossas Mães, que estavam lá antes de nossos nascimentos, e deixar-nos ir porque nós somos os efêmeros."
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