Como parte do esforço para tornar o setor da construção civil mais sustentável no enfrentamento da crise climática, a bioeconomia tem ganhado destaque. Embora o caminho para uma arquitetura neutra em carbono ainda seja muito complexo, é evidente a mudança emergente na cultura e no pensamento geral, e a inovação parece estar impulsionando tal transformação.
É nesse contexto que surgem os biomateriais, ou seja, materiais de construção derivados de organismos vivos, incluindo plantas, animais e fungos. O termo originário da medicina foi incorporado ao design recentemente e, em 2019, os organizadores do renomado London Design Festival o elegeram como o material do ano.
No âmbito da construção civil, alguns biomateriais como madeira e cânhamo, podem ser utilizados em estado bruto, enquanto outros, como micélio e restos de alimentos, são mesclados a outros materiais para, então, serem transformados em compósitos úteis. Como reflexos da inovação da indústria, principalmente nas pesquisas de bioquímica e bioengenharia, os biomateriais oferecem oportunidades para impulsionar a capacidade de criar uma maneira verdadeiramente circular e sustentável de se construir para o futuro. Isso ocorre porque eles são biodegradáveis e armazenam CO2 durante sua vida útil, reduzindo assim a pegada de carbono incorporada de edifícios e produtos. Além disso, inúmeras pesquisas sugerem os benefícios consideráveis da utilização dos biomateriais na construção civil, não apenas em relação à agenda de sustentabilidade, mas também para o bem-estar dos usuários.
Na prática existem inúmeros exemplos de edificações que utilizam os biomateriais, tanto de maneira tradicional quanto com empregos inovadores, seja em detalhes arquitetônicos ou métodos construtivos. Nesse sentido, os materiais derivados das plantas têm ganhado especial destaque. A Casa Cânhamo, por exemplo, utiliza o concreto de cannabis para a construção dos seus fechamentos. Conhecido também como hempcrete, esse biomaterial pode ser moldado como painéis fibrosos, revestimentos, chapas e até como tijolos. Além dela, a Casa Regional, centro de educação ambiental na Bélgica, também é um exemplo dessa aplicação. Assim como o cânhamo, vale ressaltar que o linho também tem sido empregado em diferentes estágios da construção, como é o caso da Casa em Latão, nos Países Baixos, que utiliza esse biomaterial na estrutura de vedação para assegurar o isolamento térmico.
Entretanto, apesar da indústria da bioarquitetura oferecer materiais inovadores, alguns dos mais tradicionais também podem ser incluídos na categoria de biomateriais. Entre eles está a madeira, método construtivo muito conhecido, mas que atualmente tem sido explorado de diferentes maneiras, como nas construções em altura para o Edifício Comercial Tamedia e para o Centro de Design e Inovação. Nessa lista, também se inclui o bambu, tanto aquele das tradicionais coberturas da Indonésia, como nas Quadras de Badminton Kura Kura, ou em uma linguagem mais contemporânea, no caso da Casa em Mas Nou, na Espanha. Nessa linha, ainda é possível citar a palha como um biomaterial muito conhecido e suas diferentes aplicações, tal qual o projeto para o Refúgio II.
Por fim, vale comentar sobre a vanguarda da tecnologia dos biomateriais que é a utilização de fungos para a composição de elementos estruturais. O grande exemplo disso é o Pavilhão Experimental HyFy construído no pátio do MoMA PS1 em 2014 por meio de tijolos de micélio que cresciam em menos de uma semana em moldes prismáticos a partir de resíduos de talos de milho picados. Uma tecnologia que atualmente está sendo estudada e aprimorada. Assim como os experimentais tijolos feitos com excrementos de elefantes no Teatro Elefante, um pavilhão temporário montando na França. Com uma alimentação baseada em capim, seus excrementos são bastante fibrosos e, quando misturados a outros aglomerados, formaram os tijolos redondos de 255 mm de diâmetro e 50 mm de espessura com uma abertura vertical para encaixar um tubo de aço para reforço.
Nessa aproximação aos biomateriais, independente do material e do processo, uma questão fica clara: o ambiente construído atual exige mais do que materiais sólidos e estáticos. Exige materiais que podem se remodelar autonomamente, regenerando, crescendo e se adaptando em resposta ao seu ambiente. Esse sim, parece ser um futuro possível.
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