Atualmente, conhecer as propriedades dos materiais utilizados nas construções vernaculares é importante se quisermos garantir uma melhor qualidade de vida no que se refere à habitabilidade dos espaços que vêm evoluindo à medida que novas tecnologias surgem no mercado. Hoje, o desenho dos espaços representa um compromisso com o meio ambiente natural e, consequentemente, um compromisso com a melhoria da qualidade de vida.
Como resultado da crise ambiental, a busca e o estudo sobre os biomateriais é cada vez mais evidente em um esforço para encontrar alternativas que reduzam a pegada ambiental que o setor de projeto e arquitetura vem deixando há algumas décadas. O desafio está em gerar alternativas no uso de materiais utilizados em sistemas de construção, assim como promover o uso de materiais renováveis que ajudam a melhorar as condições dos espaços para garantir o conforto daqueles que os ocupam. Especificamente no caso da arquitetura habitacional, representa um ponto de especial interesse devido à necessidade imperativa de cobrir a demanda por moradia, consequência do crescimento populacional e das transformações na dinâmica das cidades.
Como sabemos, muitos dos sistemas tradicionais de construção no mundo surgiram do uso de materiais obtidos do meio ambiente e que, quando aplicados à construção de espaços, foram capazes de gerar condições favoráveis para seu uso. No caso específico do México, a arquitetura vernacular herdou diversos materiais como terra, palha e diferentes tipos de pedras, que foram estudados para desenvolver diversos sistemas de construção que se combinam com novas tecnologias. Apesar disso, o agave é um material pouco explorado, mas que desempenhou um papel muito importante na arquitetura tradicional otomi, especificamente no estado de Hidalgo.
Como resultado dos processos migratórios, é cada vez mais evidente a transformação das habitações da etnia Otomi em uma arquitetura mais adaptada à cultura dominante, mais industrial e urbana, feita com materiais pré-fabricados como concreto e vidro, sacrificando as qualidades térmicas que os materiais vernaculares originais ofereciam.
A habitação tradicional otomi foi suporte fundamental para algumas das características mais importantes que compõem sua identidade cultural. O maguey, ou agave, é um pilar fundamental na conformação desses espaços, pois constitui um exemplo de sobreposições culturais. No entanto, influências externas e o desinteresse na herança deste conhecimento levaram ao desaparecimento quase total deste tipo de construção. Esta moradia, única no mundo, foi possível graças à herança entre sucessores, mas acima de tudo pela consciência a respeito do cultivo da matéria prima para construí-la.
Como Olga Lucía Rodríguez explica em seu artigo intitulado "Del maguey al concreto: migración y transición de la vivienda otomí" ("Do maguey ao concreto: migração e transição da habitação otomi"): A habitação típica de maguey consistia em duas ou três construções não muito grandes, quase independentes uma da outra, uma para dormitórios e outra para cozinha. As áreas variavam entre 10 e 25 metros quadrados. As paredes dos dormitórios eram feitas de calcário e cobertas com maguey, enquanto as construções para cozinha eram feitas inteiramente de maguey. Os telhados eram, em sua maioria, de duas águas, embora outras habitações tivessem telhados com uma água única. A altura, como nas habitações pré-hispânicas, era baixa, com apenas uma porta e sem janelas.
Hoje, embora seja cada vez menos comum encontrar este tipo de arquitetura, existem práticas como a da arquiteta mexicana Rosario Argüello, cujo trabalho tem sido aprender com estas técnicas a fim de contribuir para a preservação do conhecimento ancestral. Quando vemos o projeto da Cozinha de Claudia em Hidalgo com seu teto de folhas de maguey, qualquer um pode questionar a durabilidade e praticidade do teto, pois com o passar do tempo e a exposição ao sol, as folhas tendem a perder umidade e volume, fazendo com que seja necessário cortar novas para cobrir os espaços que ficam descobertos. Entretanto, esse esforço faz parte da mesma arquitetura ancestral, pois é entendido como um ciclo cujo objetivo é reunir a família para participar desta nova etapa.
Esta arquitetura é possível graças a processos comunitários e, como Rosario Argüello explica em uma entrevista, de tempos em tempos, dentro de um ciclo lunar, as famílias se reúnem para cortar os talos de maguey para colocá-los em cima das folhas secas da etapa anterior, que já foram transformadas em madeira. Isso fortalece os núcleos porque tece uma rede de apoio em níveis mais profundos, o que torna as comunidades mais seguras.
Existem atualmente poucos estudos que se debrucem em profundidade sobre as propriedades deste material na arquitetura. Apesar disso, alguns dos testes a que foi submetido revelam importantes propriedades térmicas e de isolamento que são adquiridas à medida que se perde umidade. As possibilidades dos próprios biomateriais do México surpreendem cada vez mais a cada dia, e por isso é tão importante repensar o futuro da arquitetura a partir da referência vernacular.
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