“A compreensão precede a ação.” Esse é o lema do Urban Observatory, uma instalação interativa e aplicativo da web criados pelo fundador do TED, Richard Saul Wurman, que compilou uma ampla gama de dados urbanos para mais de 150 cidades, permitindo aos usuários comparar várias características dessas urbes – da densidade populacional aos limites de velocidade do tráfego – lado a lado. O Urban Observatory foi criado pela primeira vez em 2013, um ano marcante para notícias sobre big data urbano; mais tarde naquele mesmo ano, Waag ganhou as manchetes com seu mapa interativo visualizando a idade de cada edifício nos Países Baixos. O surgimento de tais plataformas permitiu que as pessoas vissem o mundo ao seu redor desde novas perspectivas.
Com o surgimento do Google Earth e outras ferramentas GIS, além das plataformas como envelope.city ou simulações ambientais baseadas em modelos de cidades gêmeas digitais, o big data urbano passou discretamente a sustentar uma ampla gama de ferramentas usadas por profissionais que moldam nossas cidades, com a quantidade de dados coletados e a influência que eles têm sobre a tomada de decisões se expandindo enormemente. No entanto, esses avanços geralmente acontecem a portas fechadas e em espaços antidemocráticos. Quanto tempo devemos esperar por um software que tenha toda a facilidade de uso, acessibilidade e apelo dessas plataformas mais antigas, mas que forneça ao cidadão comum as ferramentas para moldar sua cidade? Em outras palavras, se “a compreensão precede a ação”, então por que, depois de quase uma década, não vemos aplicativos baseados em big data que incentivam o público a realmente fazer algo?
Revelado no Smart City Expo World Congress em Barcelona, RoofScape é uma tentativa de responder a esta chamada. Desenvolvido pela força-tarefa de tecnologia MVRDV NEXT do MVRDV ao lado da Superworld e da prefeitura de Roterdã, o protótipo RoofScape é um mecanismo de visualização para as coberturas de Roterdã. Ele propõe um meio acessível de incorporar o crescente ecossistema de dados urbanos municipais, produzindo sugestões concretas que simulam a interação de programas em telhados (espaços verdes, de retenção de água, residenciais e sociais) de acordo com uma matriz de impacto definida pela cidade para estimular a ativação dessa camada urbana relativamente subutilizada.
O RoofScape foi desenvolvido em resposta a um espaço específico de Roterdã: os telhados da cidade. Ele se baseia em uma colaboração anterior entre MVRDV e o município - juntamente com a fundação Rotterdam Rooftop Days. Em 2021 eles lançaram o Rooftop Catalogue, um livro contendo 130 sugestões de como as coberturas podem ser usadas de forma mais eficaz para aumentar a densidade da cidade e fazer tudo, desde prover mais moradias e espaços de lazer para apoiar a biodiversidade e gerar energia. Incluída nesta publicação estava a revelação de que Roterdã tem mais de 18 quilômetros quadrados de telhados planos que são quase totalmente desperdiçados – uma grande área para crescimento potencial que se tornou uma das prioridades de planejamento urbano da cidade.
“O catálogo foi um enorme sucesso ao aumentar a conscientização das pessoas sobre o que vemos como um recurso para a cidade e gerar algum entusiasmo sobre o que poderia ser feito com ele”, diz Paul van Roosmalen, gerente do programa Rooftops da cidade de Roterdã. “Os próximos passos, porém, são complexos. Como é possível escrever a política da cidade sem uma visão clara das possibilidades em diferentes áreas? E como se pode ter uma visão geral dos 18 quilômetros quadrados de espaço quando ele compreende milhares de pequenas áreas, cada uma com condições e requisitos únicos?”
O RoofScape pretende, portanto, ser detalhado e informativo o suficiente para auxiliar os formuladores de políticas e planejadores urbanos, ao mesmo tempo em que é tão simples de usar que proprietários de edifícios individuais - e até mesmo apenas cidadãos interessados - podem "brincar de ver que tipos de usos surgiriam em seus edifícios" e na sua vizinhança. Ele relaciona o catálogo com leis de zoneamento urbano e políticas públicas oferecendo um contraponto de viabilidade à inspiração do catálogo; Juntos, os criadores esperam que as duas ferramentas ajudem na proliferação de adições bem pensadas e específicas para o local.
“É engraçado que quando você analisa o que as pessoas querem de suas cidades, todo mundo adora um terraço na cobertura, por exemplo. Quase todo mundo entende a necessidade de mais moradias, e acho que a maioria das pessoas prefere olhar pela janela e ver um belo prado verde do que um telhado plano cinza. Porém, no entanto, a maioria das cidades não está realmente olhando para suas coberturas vazias como uma oportunidade”, diz o co-fundador da Superworld, Maxime Cunin. “Acho que é porque planejadores e formuladores de políticas estão procurando grandes mudanças que possam fazer com uma decisão abrangente, não com milhares de pequenas decisões. O RoofScape preenche um pouco essa lacuna.”
“Em nossa opinião, era crucial que o software integrasse o conhecimento especializado enquanto permanecesse fácil o suficiente para ser usado por todas as pessoas”, acrescenta Leo Stuckardt da MVRDV NEXT. “A missão das coberturas de Roterdã é um ideal de design urbano incomum – não pode ser feito com uma grande decisão, ou mesmo uma organização equilibrando os desejos de mil pessoas. Você tem que definir algumas regras básicas, fornecer às pessoas as informações e incentivos certos e ver o que surge. RoofScape aborda a diversidade de propriedade, sonhos e ambições que precisam ser negociados e explora como os municípios podem orientar esses desenvolvimentos por meio de políticas públicas.”
Os padrões de cobertura existentes em Roterdã informam as simulações que o software fornece. Esses padrões codificam por cores os telhados de acordo com os usos que podem acolher: enquanto alguns podem abrigar estruturas adicionais relativamente pesadas, como residências ou escritórios (codificados em roxo), outros podem ser capazes apenas de sustentar infraestrutura de geração de energia, como painéis fotovoltaicos ou energia eólica (amarelo). Outros telhados podem ser mais adequados para vegetação ou outra biodiversidade (verde), coleta e armazenamento de água da chuva (azul), abrigo de equipamentos técnicos de um edifício (cinza), adição de novos espaços sociais (vermelho) ou melhoria do transporte e mobilidade da cidade (laranja).
Para cada telhado, o software classifica sua adequação de acordo com uma dessas sete cores. Para fazer esses julgamentos, a ferramenta combina uma ampla gama de conjuntos de dados: usando o gêmeo digital da cidade, analisa a altura, a área do telhado, a compacidade e a inclinação do telhado de cada edifício (além de toda uma série de parâmetros adicionais) e combina esses dados com informações municipais, como função do edifício, idade, etiqueta energética, potencial de produção de energia, qualidade da vista e status do patrimônio. Por fim, considera conjuntos de dados baseados em área, como acesso ao espaço público e trânsito, corredores verdes reconhecidos, zonas urbanas protegidas pelo patrimônio, risco de inundação e efeito de ilha de calor urbano.
Por exemplo, a idade de um edifício normalmente desempenha um papel importante na avaliação de sua adequação como telhado “roxo”. Edifícios muito antigos têm estruturas pouco confiáveis, e edifícios muito novos geralmente são altamente otimizados para não mais do que o uso projetado, portanto, o ponto ideal para um edifício que pode suportar andares adicionais pesados geralmente está entre 50 e 100 anos. Da mesma forma, um telhado com inclinação acentuada pode ser considerado inadequado como um telhado “vermelho” com espaço social, mas pode ter um ângulo perfeito para abrigar painéis solares, resultando em um rótulo “amarelo”.
Ao aumentar o zoom em um bairro específico e definir alguns parâmetros de acordo com o seu gosto, os usuários podem ver que tipo de telhado pode surgir nessa área. Concentrar-se em um edifício específico permite que eles analisem mais profundamente os fatores que resultaram em sua cor atribuída.
Embora ainda seja um protótipo, a equipe já tem planos para o desenvolvimento futuro do RoofScape. “Este primeiro protótipo é um apelo à ação. Esperamos envolver mais cidades e outras partes interessadas nas próximas etapas do RoofScape”, diz Van Roosmalen. “Isso nos permitiria escalar a ferramenta para um padrão de telhado comum que é implementado diretamente em gêmeos digitais e ferramentas de planejamento.”
“Ainda precisamos adicionar mais camadas a ele – literalmente”, acrescenta Stuckardt. “Se você olhar para o catálogo , muitas das ideias realmente combinam funções. Talvez um telhado verde biodiverso possa ser ótimo para capturar e armazenar água, por exemplo, ou uma estrutura adicional como escritórios incorpore algum espaço social também. Pensar em camadas é um conceito crítico, e a maioria das coberturas deve ser capaz de abrigar mais de um uso. Se o RoofScape puder sugerir múltiplas funções adequadas para cada telhado, ele começa a implicar projetos mais específicos que as pessoas podem investigar.”
Créditos do projeto
- Localização: Roterdã, Países Baixos
- Cliente: Gemeente Rotterdam, Roterdã, Países Baixos
- Área de Intervenção: 319 km2
- Programa e dimensões: Diversos programas
- Equipe: Winy Maas, Jacob van Rijs, Nathalie de Vries, Sanne van der Burgh, Leo Stuckardt, Jaka Korla
- Colaboradores/ Co-arquitetos: Superworld (Roterdã, Países Baixos)
- Vídeo: Kirill Emelianov