Conhecido como a casa do estado, o palácio presidencial ou uma variedade de outros termos - o edifício que abriga a sede do governo de um país geralmente é bastante impressionante em termos arquitetônicos. Frequentemente opulenta, grandiosa e às vezes imponente, a casa do governo destina-se a funcionar como um marco visual distinto de uma nação - uma extensão da identidade de um país. No continente africano, região que viu uma parte significativa ser colonizada por nações europeias, essa identidade de estado, no sentido arquitetônico, é complexa.
Há o modernismo dos anos 1960 e 1970 encontrado em lugares como Gana e Senegal, quando nações recém-independentes buscavam expressar uma estética arquitetônica marcadamente diferente em uma era de libertação. Abordagens arquitetônicas semelhantes são encontradas em todo o continente, além da subsequente prevalência de um estilo “internacional” globalizado.
Mas e a sede do governo? Essas estruturas, em uma série de nações africanas, são remanescentes dos tempos coloniais, agora, é claro, habitadas por uma classe política africana. Elas são representações adequadas das identidades complicadas do tecido construído das nações e de como o edifício politicamente mais significativo de um país frequentemente representa uma história de reapropriação.
Na Tanzânia, embora sua capital seja Dodoma - é a casa do governo em Dar es Salaam que historicamente tem sido o principal local para assuntos do estado. Com vista para o Oceano Índico, sua arquitetura é influenciada pelo estilo árabe encontrado na costa leste da África - uma característica nada surpreendente, já que o arquiteto contratado para projetá-lo morava em Zanzibar na época.
A sede do estado foi concluída em 1922, logo depois que o governo britânico assumiu o controle colonial da área conhecida como Tanganica. O arquiteto John Houston Sinclair, em Zanzibar, projetou em estilo arabesco entrelaçado com elementos clássicos o Shangani Post Office e o edifício Sayyidieh Market. A casa do governo, em uma versão estilizada do suaíli, apresenta janelas e portas em arco pontiagudo, juntamente com paredes externas lisas e brancas. Em 1961, o novo governo independente da Tanzânia continuaria usando o prédio como sede, seu estilo arquitetônico - não deslocado na cidade de pedra de Zanzibar e, de fato, das estruturas mais antigas de Dar es Salaam -, refletia uma história estratificada onde os arquitetos do período colonial entendiam o rico contexto arquitetônico suaíli como inspiração.
No vizinho Quênia - também sob domínio britânico - 1907 deu-se a construção de sua atual sede do governo, projetada pelo arquiteto inglês Sir Herbert Baker. Prolífica na Índia colonial e na África do Sul, a Casa do Governo de Nairóbi, como era conhecida na época, era uma expressão do estilo europeu, apresentando uma entrada saliente encimada por um frontão triangular simples e sustentada por colunas de estilo neoclássico. Há menos abordagem arquitetônica contextual na sede do governo de Baker e, hoje, ela ainda funciona como sede administrativa e operacional do Quênia.
Mas há momentos em que as memórias da conquista imperial estão muito emaranhadas com o tecido construído nas colônias. Gana é um exemplo particular. O Castelo de Osu, também conhecido como Forte Christiansborg, foi construído no século XVII na costa de Accra. Trocando de propriedade entre Dinamarca, Noruega, Portugal, o povo Akwamu e os britânicos, o castelo estava sob forte segurança, abrigando bairros residenciais, uma torre sineira, canhões e armas de saudação. Esta pesada segurança deveu-se ao seu estatuto de importância econômica, como um local-chave que sustentava o comércio de escravos. Os anos entre 1694 e 1803 viram o castelo facilitar a troca de munições, armas e bebidas alcoólicas por africanos escravizados, que eram mantidos nas masmorras do castelo.
Liderado pelo governo britânico, sob a égide da Gold Coast, 1902 viu o castelo funcionar como o principal centro administrativo do governo colonial de Gana, antes de se tornar a residência do presidente Kwame Nkrumah em 1960, quando Gana foi formalmente declarado uma república.
Tendo servido como sede do governo independente de Gana por quase cinquenta anos, em 2005 uma discussão parlamentar acirrada se iniciou com os ministros debatendo se o castelo deveria permanecer com sua função governamental devido à sua inadequação para tarefas de escritório modernas porém, mais crucialmente, devido a sua extensa história como um forte escravocrata. Isso levou à construção da Jubilee House em 2008 em Accra, construída em um local que anteriormente abrigava um prédio do governo colonial. Projetada em estilo pós-moderno, aparentemente referenciando a mobília dos povos Akan, ela funcionaria como uma nova sede do governo livre da difícil história presa nas paredes do Castelo de Osu.
No contexto pós-independência e contemporâneo, faz sentido, uma vez que os orçamentos nacionais são gastos noutro local, que a sede do governo pós-colonial seja o mesmo edifício que serviu para essa função durante o período colonial, como no Quênia e na Tanzânia. Também é interessante, como em Gana, ver uma abordagem que rejeita uma estrutura do período colonial para fins governamentais – em parte devido à história de exploração de um edifício.
A última situação – a construção de uma nova sede – exige o gasto de grandes quantias de dinheiro, levantando questões sobre sustentabilidade e atiçando o debate público, pois pode ser vista pelos cidadãos como um desperdício de investimento. As sedes do governo de Gana, Quênia e Tanzânia contam as histórias mais complexas de como a arquitetura desses edifícios está muito emaranhada com a identidade das próprias nações.