As origens dos cemitérios como parques públicos

No século XIX, muitos estadunidenses que viviam em cidades e vilas em ascensão frequentemente se viam passeando pelos caminhos sinuosos de jardins desenhados, parando para descansar à sombra de uma árvore e fazer um piquenique com a família e amigos. As áreas gramadas eram pontilhadas lápides, marcando os locais de sepultamento daqueles que foram enterrados. Embora o conceito de relaxar em um cemitério possa parecer um pouco estranho para algumas pessoas e crenças, muitas vezes era a única opção que as pessoas encontravam para recreação e lazer. Muitos dos parques que temos hoje se originaram da evolução e planejamento de cemitérios.

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Cemitério Woodland, Dayton Ohio. Cortesia de Woodland Cemetery and Arboretum

Nessa época, a morte era mais frequente, pois ondas de doenças varriam o mundo e as pessoas tinham expectativa de vida menor. A morte era uma ideia com a qual as pessoas estavam mais acostumadas e confortáveis. As visitas, como piqueniques e comemorações maiores em um túmulo, eram uma maneira aceita de manter alguém próximo à família.

Até 1831, os cemitérios modernos não existiam nos Estados Unidos. Após a construção de um grande cemitério em Massachusetts, muitas outras cidades começaram a criar separações distintas para onde residiriam os vivos e os mortos, enquanto ainda convidavam o público a entrar. Limites como recursos paisagísticos e cercas passaram a indicar quando podemos entrar e visitar esses espaços, conforme sua conveniência.

No final do século 19, muitos cemitérios apresentavam portões de entrada para marcar onde um mundo terminava e outro começava. Muitas pessoas viram os benefícios desse tipo de separação, observando que também criava deliberadamente grandes áreas de grama onde as pessoas podiam relaxar. Estátuas e lápides extravagantes criavam vistas pitorescas, lembrando mais um jardim de esculturas em um museu do que um local de descanso final. As pessoas começaram a se aglomerar nos cemitérios para fazer piqueniques, caçar e até corridas de carruagens. Devido à sua popularidade, muitos cemitérios começaram a criar mapas, guias e publicar regras para os visitantes.

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Mapa do cemitério de Woodlawn. Imagem © Coleções Digitais da Biblioteca Pública de Nova York

Ao mesmo tempo, cemitérios associados a igrejas eram vistos como insalubres, caros, lotados e perigosos. Centenas de enterros ocorreram em pequenos lotes de terra, muitas vezes resultando em pilhas de até sete caixões empilhados uns sobre os outros. Quando caíam fortes chuvas, às vezes elas se abriam e caíam na rua. Isso apenas popularizou ainda mais os grandes cemitérios que foram projetados como parques.

Na virada do século 20, as cidades continuaram a se tornar mais populosas e o preço da terra disparou. As ideias começaram a mudar sobre como o espaço deveria ser usado e as pessoas começaram a priorizar amenidades privadas. Os cemitérios eram vistos como menos prioritários, especialmente quando a cultura popular começou a retratar o lado “assustador” de passar o tempo entre os mortos. Novos cemitérios foram planejados para ficarem na periferia da cidade, permitindo espaços muito maiores onde os enterros poderiam ocorrer e mantendo-os longe de onde a maioria das pessoas vivia.

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Cemitério Woodlawn, 1921. Imagem © Avery Library, Columbia University

Os planejadores da cidade e os formuladores de políticas começaram a ver a necessidade de parques públicos que não servissem também como cemitérios e começaram a criar pequenos espaços onde as pessoas pudessem participar de atividades de lazer. Alguns cemitérios, incluindo o Washington Square Park em Nova York, onde jaziam mais de 20.000 pessoas, foram totalmente cobertos e transformados em espaços de convívio público.

Embora, na maioria das vezes, muitos cemitérios não permitam grandes reuniões públicas, alguns se reinventaram como áreas históricas onde os visitantes são livres para redescobrir suas qualidades de parque. Cemitérios mais novos até se renomearam como parques memoriais, com menos ênfase nos aspectos tabu e mais em manter as memórias daqueles que já se foram.

Sobre este autor
Cita: Overstreet, Kaley. "As origens dos cemitérios como parques públicos" [The Origins of Cemeteries as Public Parks] 22 Jan 2023. ArchDaily Brasil. (Trad. Gagliardi, Walter) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/994506/as-origens-dos-cemiterios-como-parques-publicos> ISSN 0719-8906

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