Cada carro em circulação precisa de um local para ser colocado — mas os estacionamentos são a resposta? Eles são frequentemente vistos como a antítese do planejamento urbano amigável às pessoas. Grandes caixas cinzas são usadas apenas para guardar carros temporariamente, fazendo um mau uso do espaço, especialmente em cidades onde o custo da terra é elevado. A presença cada vez mais incisiva destes edifícios transformou núcleos urbanos em distritos de estacionamento, alterando drasticamente suas paisagens. Em várias cidades a legislação urbana acaba contribuindo com o problema, exigindo um número mínimo de vagas por região. Estacionamentos estão por toda parte — ao redor de shoppings, torres residenciais e equipamentos esportivos.
A origem dos estacionamentos como os conhecemos hoje está na virada do século 20, na forma de cocheiras. Esses espaços, que antes serviam como locais para guardar cavalos, foram reimaginados para guardar carros e, à medida que os automóveis se tornaram mais acessíveis, criou-se a necessidade de mais estruturas para proteger os interiores expostos dos veículos. Muitos dos primeiros projetos das décadas de 1920 e 30 apresentavam grandes sistemas de polias que elevavam os carros a vários andares, empilhando-os em torres como forma de economizar espaço. Outros pareciam prédios de escritórios típicos da era Art Deco com janelas de vidro e portas grandes. Os transeuntes dificilmente saberiam que esses edifícios foram projetados apenas para guardar carros. Isso inspirou megatorres para carros, como o Hotel for Autos, um arranha-céu de 24 andares na cidade de Nova York que comportava mais de 1.000 veículos. Um milagre da alta tecnologia, por sua forma inovadora de armazenar e recuperar carros, o custo era de 50 centavos por duas horas e 5 centavos por cada hora depois disso. Porém, apenas alguns anos após a sua abertura, a garagem fechou e foi transformada em escritórios e, posteriormente, condomínios de alto padrão. Para efeito de comparação, a maior estrutura de estacionamento automatizado da cidade de Nova York comporta apenas 270 carros.
Muitos arquitetos e designers continuaram experimentando as formas gerais e as capacidades estruturais dos estacionamentos e, na década de 1960, eles se tornaram parte da vida cotidiana. Em Chicago, Bertrand Goldberg criou um dos mais famosos estacionamentos na Marina Tower, combinando os locais onde as pessoas vivem, trabalham, brincam e estacionam seus carros. Os programas residenciais e de escritório foram empilhados em quase 20 andares de um estacionamento em espiral. Os carros estacionados lá parecem peças plug-and-play prestes a cair da borda da estrutura e cair no rio Chicago.
Os estacionamentos continuaram evoluindo, apresentando rampas que permitiam aos usuários entrar e sair de seus carros, mas trocando ornamentos pela simplicidade. Esses novos estacionamento se parecem mais com os que conhecemos hoje - decks abertos onde os carros são amontoados. As empresas nas cidades americanas começaram a se mudar para o centro da cidade e havia a expectativa de que os funcionários recebessem vagas de estacionamento para que pudessem dirigir até o escritório. Os empreiteiros que se sentiram pressionados a construir estacionamentos o fizeram com baixos custos de construção, renunciando totalmente a quaisquer elementos de design.
Hoje, junto com o clamor para que não se construam mais estacionamentos, muitos arquitetos estão tentando projetar estacionamentos esteticamente mais agradáveis, revestindo-as com materiais coloridos e sistemas de iluminação que ajudam a disfarçar a feia caixa cinza atrás delas. Estacionamentos em cidades densas, como Nova York, custam quase US$ 33.000 por espaço para construir, enquanto apenas US$ 21.000 em cidades menos densas, como Jacksonville, Flórida – um enorme fardo financeiro. Mas também houve outro movimento: mudar os estacionamentos programaticamente. Muitas cidades estão implementando estratégias para deixar de usar carros no futuro, então para que propósito os estacionamentos servirão daqui a 20 ou 50 anos? Existe uma maneira de transformá-los em escritórios, áreas residenciais ou centros comunitários? Enquanto isso, para os estacionamentos que estão sendo construídos, há pelo menos esperança de que eles tenham uma aparência melhor, mesmo que seu propósito e função de longo prazo permaneçam questionáveis.