A profissão de arquiteto é muitas vezes marcada por aqueles indivíduos que usam seu talento e recursos para proporcionar mudanças e trazer uma visão de um futuro melhor. Enquanto alguns iniciaram o seu percurso com gestos arrojados que chamaram a atenção do mundo arquitetônico e mudaram paradigmas, outros trabalharam de forma mais tranquila, voltando o foco para os usuários dos espaços e questionando-se sobre como podem contribuir da melhor forma para a melhoria da vida daqueles que os cercam.
Com o início do novo ano, paramos para olhar para os arquitetos que faleceram ao longo do ano passado, mas cujo legado e contribuição para a arquitetura sobrevivem. Entre eles, lembramos o ganhador do Prêmio Pritzker e pioneiro da alta tecnologia Richard Rogers, o ícone pós-moderno Ricardo Bofill, o atencioso Gyo Obata, a defensora e inovadora Doreen Adengo, a pioneira da habitação social Renée Gailhoustet e o multifacetado ganhador do Prêmio Pritzker Arata Isozaki.
Continue lendo para explorar o impacto e o legado de importantes arquitetos que faleceram recentemente.
Richard Rogers (1933-2021)
A arquitetura é muito complexa para ser resolvida por uma única pessoa... Gosto da dinâmica que flui quando diferentes disciplinas, da sociologia à matemática, da engenharia à filosofia, se juntam para criar soluções. - Richard Rogers
Em 1977, uma dupla de arquitetos relativamente jovem e desconhecida inaugurou um edifício no centro de Paris que “virou o mundo da arquitetura de cabeça para baixo”. Com dutos e tubos mecânicos servindo como ornamentos, Richard Rogers e Renzo Piano expuseram a mecânica do Centre Pompidou em sua fachada e, ao fazê-lo, revolucionaram os museus e os transformaram em espaços de intercâmbio social e cultural. Uma década depois, ao projetar o edifício da Lloyd's no coração de Londres, Rogers consolidou sua abordagem de “celebrar os componentes e a estrutura”.
Hoje, ele é hoje conhecido como o pai do movimento high-tech, uma variação do Modernismo que proclama a poética da estrutura, tecnologia e transparência. Ao longo dos anos, ele se tornou conhecido tanto por sua filosofia quanto por suas construções. Em 2007, ele se tornou o 31º ganhador do Pritzker, um reconhecimento que enfatizou ainda mais seu efeito duradouro na profissão de arquiteto.
Ricardo Bofill (1939-2022)
Eu queria, de uma vez por todas, criar um espaço poderoso o suficiente para fazer as pessoas normais que não entendem nada de arquitetura perceberem que a arquitetura existe. - Ricardo Bofill
À primeira vista, uma comparação entre os projetos de Ricardo Bofill poderia revelar poucas semelhanças: o estoicismo de sua casa e ateliê nos antigos silos de La Fabrica, o pós-modernismo classicista do Conjunto Residencial parisiense de Noisy-le-Grand, e a versão colorida de seu empreendimento La Muralla Roja ou Walden 7. Embora mudando ao longo do tempo, seus projetos compartilham um fio comum no conceito de regionalismo. Como afirmou em uma entrevista, ele pretendia encontrar alternativas ao “modernismo simplista, trazendo de volta o espírito da cidade mediterrânea”. Apesar da resposta mista dos críticos, ele continua sendo altamente considerado à medida que as novas gerações se inspiram em seus edifícios coloridos e sobrenaturais.
Gyo Obata (1923 - 2022)
Ouça com atenção e entenda o que as pessoas querem, trabalhe duro e encontre as melhores maneiras de melhorar a qualidade de vida ao seu redor. – Gyo Obata em Gyo Obata: Architect | Clients | Reflections (2010).
Nascido em 1923 em San Francisco, EUA, o legado de Gyo Obata está em sua abordagem para projetar arquitetura baseada não em sua ideologia pessoal, mas nas necessidades e aspirações das pessoas que usam a estrutura. Obata credita a seus pais, os artistas Chiura e Haruko Obata, sua inclinação para o cuidado atencioso com os clientes, a fim de aprender a criar espaços que tragam significado e prazer para as pessoas que os ocupam. Juntamente com George Hellmuth e George Kassabaum, Obata foi pioneiro em um modelo de negócios tripartido, com cada parceiro focando individualmente em marketing, produção e design, respectivamente. Essa estratégia levou o HOK Group a se tornar um dos maiores escritórios de arquitetura do mundo. As soluções de design inovadoras guiadas por Gyo Obata moldaram importantes edifícios culturais e cívicos que são ao mesmo tempo espaços funcionais e memoráveis.
Doreen Adengo (1976 - 2022)
É fundamental defender que arquitetos e planejadores urbanos podem melhorar a vida cotidiana das pessoas, ajudando as cidades a se desenvolverem de forma sustentável. – Doreen Adengo.
A arquiteta Doreen Adengo, de Uganda, foi reconhecida como uma das principais profissionais que defendem a mudança e a inclusão em comunidades desfavorecidas. Proeminente e inovadora, Doreen trabalhou em muitos escritórios em todo o mundo antes de retornar a Kampala para estabelecer o seu próprio, Adengo Architecture, em 2015. Com base em pesquisa e colaboração multidisciplinar, o escritório tem um ethos claro, como Adengo afirmou em uma entrevista, focado em “comunicar o valor do design nas cidades africanas”. O mesmo senso de justiça infundiu todas as suas iniciativas como palestrante acadêmica, facilitadora e curadora. Seu legado abrange disciplinas e geografias, mas está profundamente enraizado no contexto africano, nas conversas com o povo de Kampala e no cuidado e atenção prestados ao patrimônio arquitetônico de Uganda.
Fruto Vivas (1928 - 2022)
Sempre digo que tenho apenas um projeto: a união da arquitetura com a natureza. – Fruto Vivas
O arquiteto venezuelano José Fructoso Vivas, mais conhecido como Fruto Vivas, é reconhecido por suas formas geométricas ousadas e pela integração magistral da vegetação e da luz no volume arquitetônico. Vivas trabalhou ao lado de Oscar Niemayer para projetar o Museu de Arte Moderna de Caracas e com o arquiteto espanhol Eduardo Torroja para no Táchira Club, em Caracas, uma de suas obras mais notáveis. Em 2014 foi agraciado com o Prêmio Ibero-Americano de Arquitetura por abordar “a arquitetura e o planejamento urbano visando a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos”.
James Stewart Polshek (1930 - 2022)
A verdadeira importância da arquitetura reside na sua capacidade de resolver problemas humanos, não de estilo. Um edifício é permanente e influente demais na vida pública e no conforto pessoal para ser criado primeiramente como arte pública. - James Stewart Polshek
Em uma era dominada pelos chamados “arquitetos estrelas”, James Stewart Polshek dá forma a uma abordagem diferente para projetar a arquitetura. Suas obras costumam ser modestas, priorizando valores sociais sobre a estética e entendendo a arquitetura como uma “arte de cura”, como ele dizia. Embora James Polshek não fosse muito conhecido do público em geral, ele recebeu críticas positivas e elogios dos críticos, que entenderam a abordagem humana e sensata de suas obras. Em 1963, ele fundou o escritório James Stewart Polshek Architect, que evoluiu através de várias iterações, finalmente fazendo a transição para Ennead Architects em 2010.
Meinhard von Gerkan (1935 – 2022)
O arquitecto tem uma responsabilidade social particular, uma vez que a arquitetura é uma arte com obrigação e uso social. - Meinhard von Gerkan
Nascido em 1935 em Riga, na Letônia, Meinhard von Gerkan se tornou um dos arquitetos alemães de maior sucesso do pós-guerra. Ao lado de Volkwin Marg, ele fundou o renomado escritório gmp Architects (von Gerkan, Marg e Partners Architects) em 1965, com mais de 500 projetos concluídos em todo o mundo. A premiada empresa tem um amplo portfólio que inclui os aeroportos de Berlim-Tegel, Hamburgo e Stuttgart, a principal estação ferroviária de Berlim, a extensão do Museu Nacional Chinês em Pequim e o Museu de Hanói, no Vietnã. Meinhard von Gerkan também foi autor, crítico e co-fundador da gmp Foundation, uma organização sem fins lucrativos focada no desenvolvimento educacional de arquitetos graduados e mais jovens.
Arata Isozaki (1931-2022)
A minha identidade é que sempre gosto de fazer a diferença. Não em um único estilo, mas também sempre de acordo com a situação, de acordo com o ambiente; um estilo arquitetônico como uma solução. Cada vez é diferente. - Arata Isozaki
Arquiteto, professor e teórico Arata Isozaki tornou-se um dos mais conhecidos arquitetos do Japão, apesar de desafiar as expectativas japonesas com designs não tradicionais que "levam o estilo do Ocidente um passo adiante", nas palavras do crítico americano Charles Jencks. Desde o início de sua carreira, Isozaki se posicionou como um membro da vanguarda que atuava fora das convenções arquitetônicas. Em 2019, ele recebeu o Prêmio Pritzker por sua abordagem transnacional e destemidamente futurista ao design. Além das mais de 100 obras em seu portfólio, Isozaki também trabalhou em design de moda, móveis e com serigrafias, ao mesmo tempo em que se aprofunda na escrita, crítica arquitetônica e teoria.
Renée Gailhoustet (1929-2023)
Seu trabalho tem um forte compromisso social que reúne generosidade, beleza, ecologia e inclusão. - Farshid Moussavi
Arquiteta francesa e vencedora do Prêmio de Arquitetura da Royal Academy de 2022, Renée Gailhoustet é uma das poucas arquitetas de sua geração a obter reconhecimento internacional. Uma grande defensora da habitação social de qualidade, seu trabalho exemplifica uma visão de habitação generosa e bem adaptada aos ambientes urbanos. Com seu trabalho em Le Liégat, Ivry-sur-Seine, em Paris, Gailhoustet foi pioneira em uma forma mais urbana de brutalismo, com janelas grandes, plantas complexas e terraços escalonados, aumentando a qualidade de vida nesses conjuntos.