A luz está presente na arte há séculos. Pensar o barroco ou o gótico sem este elemento seria impossível. No entanto, foi no século XX que artistas começaram a explorar qualidades lumínicas e as transformaram num meio próprio para materializar a arte. Esculturas, instalações imersivas e formas de moldar o ambiente através da luz, suas cores e intensidades, trouxeram novas percepções espaciais ao traçar uma relação única com a arquitetura.
Questões que vão além da estética ou do espaço, ressaltando tópicos políticos, de identidade e memória são abordadas por artistas através do uso da iluminação no ambiente. Ações que revelam outros modos de se apropriar do espaço e o potencial existente em cada ocupação. Ao se deparar com tais obras, é possível se inspirar para pensar como a incorporação das qualidades lumínicas podem influenciar na imagem da arquitetura em si. Assim, destacamos dez artistas que, apesar de diferentes abordagens, possuem a luz como principal meio de criação para suas obras e revelam, a partir delas, novas formas de se apropriar e intervir nos espaços.
Carlos Cruz-Diez (1923 - 2019, Venezuela)
Um dos pioneiros a trabalhar com a iluminação, Cruz-Diez ficou conhecido por suas contribuições para os movimentos Cinético e Op Art. Ele enfatiza a importância da luz na criação da cor ao desenvolver o conceito de "indução cromática". Entre as obras mais celebradas, está a série Cromosaturações: instalações imersivas que consistem em salas preenchidas por luzes coloridas, nas quais o espectador pode experimentar a cor como um fenômeno físico e sensorial, ao invés de simplesmente visual.
Dan Flavin (1933 - 1996, EUA)
O trabalho de Flavin é conhecido principalmente pelo uso de luminárias fluorescentes em instalações que enfatizavam as qualidades físicas e perceptivas da luz. Seus arranjos são normalmente instalados em uma grade ou formação linear, muitas vezes dialogando com o contexto arquitetônico. Uma obra que explora a criação de cores vivas e saturadas ao manipular o espaço através do uso de luz e sombra.
Fred Eversley (1941, EUA)
Com formação em física e engenharia, Eversley tem seu trabalho frequentemente descrito como uma fusão dos campos da escultura, ótica e ciência. Suas obras são feitas de resina fundida com outros materiais que resultam numa superfície lisa que refrata a luz, criando um jogo de cores e efeitos visuais. Como resultado, quebra-se a estaticidade dos objetos pois, dependendo do ângulo da luz e da posição do espectador, uma nova imagem é gerada a cada interação. Ele diz que cria "instrumentos ópticos", projetados para revelar as propriedades ocultas da luz e sua interação com distintos materiais.
James Turrel (1943, EUA)
James Turrell certamente é um dos artistas mais importantes quando o tema é trabalhar a luz como material. Ao utilizar formas geométricas e uma iluminação cuidadosamente calibrada, Turrel cria ambientes imersivos a partir da manipulação da luz, criando molduras e um jogo de cores que se relacionam com distintas estruturas arquitetônicas.
Anthony McCall (1946, Reino Unido)
Anthony McCall cria instalações imersivas que desfazem os limites entre a escultura, o cinema e a performance. Seu trabalho envolve o uso da luz projetada para criar formas escultóricas e ambientes interativos que convidam o espectador a interagir com a obra.
Jenny Holzer (1950, EUA)
Conhecida pelo uso de frases impactantes e manipulação da luz em suas obras de arte, Jenny Holzer cria instalações de grande escala que apresentam questões de identidade, gênero e violência política. Seu trabalho nem sempre acontece em espaços museográficos, quando realizado no espaço público ganha uma nova esfera ao levar as mensagens para todos os transeuntes e transformar o entorno. O uso de projeções ou faixas de LED são uma marca da artista, que utiliza tais elementos para elaborar um contexto específico onde as obras são instaladas.
Kimsooja (1957, Coreia do Sul)
Ao utilizar espelhos e filtros refletores, Kimsooja cria uma sensação de espaço contínuo e telúrico.Ela transforma o ambiente a partir das cores que surgem e ressalta a continuidade entre o interior e o exterior, sugerindo novas potencialidades no espaço para aqueles que o atravessam.
Anila Quayyum Agha (1965, Paquistão)
O trabalho de Agha frequentemente envolve o uso de padrões geométricos, criando instalações que são visualmente deslumbrantes e conceitualmente ricas ao abordar temas de identidade, cultura e gênero. Sua obra Interesecções, que consiste num grande cubo de painéis de madeira cortados a laser suspenso e iluminado desde o seu interior, ganha ainda mais força pelo contraste que a sombra gera e que lava todas as superfícies da sala. É um exemplo de como a composição entre arte e arquitetura pode levantar questões sobre as fronteiras culturais, que podem ser tanto divisórias quanto unificadoras.
Olafur Eliasson (1967, Dinamarca)
A luz também pode ser utilizada de uma maneira mais dinâmica e interativa. Ao menos é o que o artista dinarmaquês demonstra ao criar desde objetos até instalações de grande escala que incentivam o espectador a se mover e interagir com a obra. Sua obra, muitas vezes, utiliza a luz para criar ilusões e distorções ópticas. Além disso, Eliasson também incorpora elementos arquitetônicos, tais como espelhos, lentes e prismas, para refletir e refratar a luz de formas inesperadas.
Rafael Lozano-Hemmer (1967, México)
Através da tecnologia e da luz, o artista mexicano consegue criar instalações interativas que intensificam a relação entre o indivíduo e o espaço. Uma de suas obras mais famosas é a Pulse, na qual os espectadores são convidados a colocar seus dedos em um sensor, que mede seu batimento cardíaco e faz com que as lâmpadas cintilem no ritmo de seu pulso, tal efeito permite às pessoas ver e sentir a presença física dos outros no espaço, criando uma sensação de partilha de experiência e conexão.
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