Como Amsterdã usa a economia da rosquinha para criar estratégias equilibradas para pessoas e meio ambiente

Em 2020, em meio à primeira onda de bloqueios devido à pandemia, o município de Amsterdã anunciou sua estratégia para se recuperar dessa crise adotando o conceito de “Economia Donut” (traduzido também como economia da rosquinha). O modelo é desenvolvido pela economista britânica Kate Raworth e popularizado por meio de seu livro, Doughnut Economics: Seven Ways to Think Like a 21st-Century Economist, lançado em 2017. Ela argumenta que o verdadeiro propósito da economia não precisa igualar o crescimento. Em vez disso, o objetivo é encontrar um ponto ideal, uma forma de equilibrar a necessidade de fornecer a todos o que precisam para viver uma vida boa, uma “base social”, enquanto limitamos nosso impacto no meio ambiente, “o teto ambiental”. Com a ajuda de Raworth, Amsterdã reduziu essa abordagem às proporções de uma cidade. O modelo agora é usado para informar estratégias em toda a cidade em apoio a essa ideia abrangente: proporcionar uma boa qualidade de vida para todos sem colocar mais pressão no planeta. Outras cidades estão seguindo este exemplo.

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O que é o modelo econômico donut?

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Amsterdã, Holanda. Imagem © Ingus Kruklitis Shutterstock

Raworth chegou à imagem da “rosquinha” (donut, em inglês) descrevendo dois círculos, um dentro do outro. O círculo externo é inspirado em um diagrama que ela encontrou enquanto trabalhava para a organização anti-pobreza sem fins lucrativos Oxfam. Lá, um grupo de cientistas do estava observando as condições ambientais que tornam possível a vida na Terra. Eles identificaram um conjunto de “fronteiras planetárias”, limites que, se ultrapassados, danificariam permanentemente o clima, os solos, os oceanos, a biodiversidade e, consequentemente, as condições de vida da humanidade. Este anel externo está relacionado a questões como mudança climática, poluição do ar, perda de biodiversidade, destruição da camada de ozônio e acidificação dos oceanos.

Embora Raworth reconhecesse a importância de se esforçar para permanecer abaixo desse teto ecológico, ela também entendia que esse é apenas um lado do problema. Se o anel externo descrevia um máximo, ela também concebeu um anel interno para representar as condições mínimas de que todos precisam para levar uma vida boa. Derivado das metas de desenvolvimento sustentável da ONU, o anel interno aborda problemas urgentes como acesso a alimentos e água potável, moradia de boa qualidade, energia, saúde, educação, equidade social, direito a voz política, justiça e oportunidades de trabalho e renda.

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Parque Manancial de Águas Pluviais / Turenscape. Imagem © Turenscape

O objetivo é viver em equilíbrio com esses dois conjuntos de condições, para alcançar a área de ouro entre o anel interno e externo da rosquinha, entre o teto ecológico máximo e a base social mínima. A teoria de Raworth é específica ao descrever o resultado final, mas não prescreve uma receita para alcançá-lo. Em vez disso, desafia as partes interessadas a olhar para o quadro mais amplo e entender o impacto de suas decisões em múltiplos fatores e atores da cidade.

Como e por que Amsterdã está utilizando?

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Casas holandesas de canal. Imagem © James Taylor-Foster

Em abril de 2020, o município de Amsterdã aprovou a estratégia Amsterdã Circular 2020-2025, com um plano de ação inicial de dois anos. A estratégia segue o modelo de uma versão adaptada do modelo donut de Kate Raworth, tornando-se o primeiro município do mundo a adotar o conceito oficialmente. Criado em colaboração com Raworth, o modelo em escala reduzida é chamado de City Portrait: uma fotografia holística da cidade, com o objetivo de servir como ponto de partida para o pensamento geral, inovação cocriativa e transformação sistêmica, de acordo com a estratégia divulgada. Também visa tornar-se um estímulo para a colaboração entre departamentos dentro da cidade, envolvendo vários atores nos processos de tomada de decisão que moldam o ambiente.

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O distrito de IJburg em Amsterdã. Imagem © Marcel van der Burg

As autoridades de Amsterdã descobriram que 20% dos inquilinos da cidade não conseguiam cobrir suas necessidades básicas depois de pagar o aluguel. Ao mesmo tempo, apenas 12% dos aproximadamente 60.000 candidatos online para habitação social foram bem-sucedidos, conforme relatado pelo Guardian. A primeira solução pode ser criar mais casas, mas o mesmo modelo mostrou que Amsterdã aumentou significativamente suas emissões de CO2 nos últimos anos. Marieke van Doorninck, vice-prefeita de Amsterdã, chega à conclusão de que a cidade precisa continuar investindo no setor de construção, mas também precisa regulamentar essas iniciativas para garantir que os construtores usem materiais sustentáveis sempre que possível.

Um dos principais projetos de construção em Amsterdã é Strandeiland (Beach Island), parte de IJburg, um arquipélago de seis novas ilhas recuperadas das águas no lado sudeste da cidade. Ao longo do processo de construção, uma série de decisões foram tomadas para reduzir o impacto do empreendimento. Os materiais foram transportados por barcos movidos a combustível de baixa emissão, e as fundações foram lançadas usando processos que não prejudicam a vida selvagem local, protegendo os cidadãos do aumento do nível do mar.

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Floating Houses in IJburg / Architectenbureau Marlies Rohmer. Imagem © Marcel van der Burg

A revista Time relata as declarações de Lianne Hulsebosch, consultora de sustentabilidade do projeto: “Não é que todo projeto de cidade do dia a dia tenha que começar com a rosquinha, mas o modelo realmente faz parte do nosso DNA agora. Você percebe nas conversas que temos com os colegas. Estamos fazendo coisas que há 10 anos não teríamos feito porque estamos valorizando as coisas de maneira diferente.”

O modelo pode ser replicado?

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© via Unsplash

Embora Amsterdã seja a primeira cidade a adotar oficialmente a estratégia, não é a única interessada nesse modelo. De acordo com a revista Time, em 2019 a C40, uma rede de cidades focada na ação climática, trabalhou com Kate Raworth para produzir reportagens sobre Amsterdã, Filadélfia e Portland, mostrando-lhes onde estão em relação ao modelo donut. Amsterdã acabou adotando o princípio pela sua estratégia voltada para toda a cidade.

Em junho de 2022, Copenhague decidiu seguir o exemplo de Amsterdã. Bruxelas, a capital belga, também está testando a teoria em diferentes escalas. Uma das iniciativas é a reforma de um edifício abandonado do Ministério das Finanças com o objetivo de “minimizar os impactos ambientais e maximizar os impactos sociais”. Outra iniciativa foi o projeto habitacional Arc-en-Ciel em Molenbeek, que permitiu que os moradores projetassem e construíssem a estrutura de acordo com suas necessidades e seguissem o código, minimizando sua pegada usando sistemas passivos de regulação térmica.

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Sant Antoni Sunday Market de Ravetllat Ribas Arquitectos. Imagem © Adria Goula

No final de 2022, ingressaram a pequena cidade de Dunedin, na Nova Zelândia, e Nanaimo, no Canadá. Nos Estados Unidos, Portland (Oregon) e Austin (Texas) planejam lançar suas próprias versões do conceito. Embora todas essas estratégias sejam inspiradas no modelo donut, elas interpretam o conceito de maneiras adaptadas às suas necessidades e oportunidades específicas.

O modelo donut não é prescritivo. Não oferece roteiro. Em vez disso, apresenta um resultado final otimista a ser buscado: garantir uma boa qualidade de vida para todos sem sobrecarregar o meio ambiente. O caminho para alcançar isso pode parecer diferente para cada região: cidades ou países mais ricos podem descobrir que seus principais desafios estão relacionados ao anel externo da rosquinha, diminuindo sua pegada para caber dentro dos limites do planeta. Enquanto isso, regiões de baixa ou média renda podem lutar mais para tirar todos do centro do donut e colocá-los em seu círculo interno, garantindo acesso igualitário às necessidades básicas, como alimentação, educação e oportunidades de crescimento.

Este artigo é parte dos Temas do ArchDaily: Economia Circular. Mensalmente, exploramos um tema em profundidade através de artigos, entrevistas, notícias e projetos de arquitetura. Convidamos você a conhecer mais sobre sobre os temas do ArchDaily. E, como sempre, o ArchDaily está aberto a contribuições de nossas leitoras e leitores; se você quiser enviar um artigo ou projeto, entre em contato.

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Sobre este autor
Cita: Florian, Maria-Cristina. "Como Amsterdã usa a economia da rosquinha para criar estratégias equilibradas para pessoas e meio ambiente" [How Amsterdam Uses the Doughnut Economics Model to Create a Balanced Strategy for Both the People and the Environment] 15 Mar 2023. ArchDaily Brasil. (Trad. Simões, Diogo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/997534/como-amsterda-usa-a-economia-da-rosquinha-para-criar-estrategias-equilibradas-para-pessoas-e-meio-ambiente> ISSN 0719-8906

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