O campo da arquitetura, em teoria, se separa da arte. Ou se discute uma espécie de hierarquia entre os dois. Por sorte, o escritório Vão é um exemplo de que a separação não precisa existir, e que a hierarquia é infrutífera para qualquer um dos lados. Fundado em 2013 por Anna Juni, Enk te Winkel e Gustavo Delonero em São Paulo, o escritório desenvolve projetos arquitetônicos alimentados pelo pensamento artístico, e trabalhos artísticos em escala arquitetônica.
É possível falar de uma produção no campo ampliado da arquitetura, mas existe uma diferença sutil em como os próprios fundadores definem sua prática: “vão é caracterizado por duas qualidades que poderiam ser vistas como contraditórias: ao mesmo tempo em que é por excelência livre, a sua existência só é possível se delimitada. O vão é um entre coisas.” A ampliação sugere expansão, e, embora a atuação do escritório seja múltipla, dizer-se entre coisas indica uma espécie de centramento, de interno. Ou seja, não é necessariamente uma expansão, é um percurso por campos adjacentes com naturalidade, abertura para exploração e curiosidade. É uma postura de disponibilidade.
O espaço “vazio” é aquele que possibilita formas diversas de ocupação, reivindica alternativas e reforça possibilidades. Vãos famosos da cidade de São Paulo servem como exemplo: MuBE, MASP, Centro Cultural São Paulo. Vão é tão intersticial que abriga vários: é conjugação do verbo “ir” na terceira pessoa do plural — eles vão. E vão acompanhados de colaboradores, de parcerias com artistas visuais, de seus clientes, de leituras, filmes e da vida cotidiana. A experiência com a assistência de artistas visuais, com a colaboração com amigos (artistas ou não) e com a docência contribuem para essa abordagem transdisciplinar.
O cruzamento de áreas e a influência do pensamento artístico reforçaram a abordagem conceitual à prática, que, apesar da equipe enxuta, envolve debates constantes entre as partes envolvidas, testes, desenhos, maquetes, protótipos, entre técnicas computacionais e manuais, entre o digital e o “analógico”.
Desde a formação oficial, Vão é premiado em concursos nacionais e internacionais, como o Anexo BNDES, Casa s/d nº01 e SESC Limeira; e por instituições como o IAB-SP, pelas instalações Subsolanus e O que vemos, O que nos olha, pelos projetos Sede para uma Fábrica de Blocos e Casa São João da Boa Vista; e Bienal de Veneza, que concedeu menção honrosa à instalação Chão de Caça, da artista Cinthia Marcelle feita em colaboração com Vão. Mais recentemente, em 2022, integrou a lista de melhores Novas Práticas do ArchDaily
O hiato que está desocupado é aquele que oferece a possibilidade de ser preenchido. Vão está entre as coisas, entre os seus, entre o mundo. Essa disponibilidade se apresenta nos projetos, confira:
Sede de uma Fábrica de Blocos
Casa São João da Boa Vista
Apartamento Simão Álvares
Loja Bemglô
Subsolanus
Apartamento Antônio Bicudo
Casa São José do Barreiro
O que vemos, O que nos olha
Apartamento Sumarezinho
Casa s/d nº01
Apartamento Viadutos
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