Um dado muito citado na indústria da arquitetura é que o ambiente construído é responsável por cerca de 40% das emissões globais de carbono. Esse fato preocupante coloca uma imensa responsabilidade sobre os profissionais da construção. A ideia de sustentabilidade na arquitetura surgiu com urgência como uma forma de remediar os danos ambientais. Várias práticas de sustentabilidade não visam mais do que tornar os edifícios “menos ruins”, servindo como medidas inadequadas para a arquitetura atual e do futuro. O problema com a arquitetura sustentável é que ela se resume a "sustentar".
Para manter o estado atual do meio ambiente, a comunidade de arquitetura tem trabalhado para meios de produção mais ecológicos. Convencionalmente, um edifício verde emprega características ativas ou passivas como ferramenta de redução e conservação de recursos. A maioria dos projetos sustentáveis vê os edifícios como um recipiente próprio, em vez de partes integradas de seu ecossistema. Com as necessidades atuais do planeta, essa abordagem não é suficiente. Não basta sustentar o ambiente natural, deve-se também restaurar os processos ambientais.
Pense na via de uma grande metrópole. É provável que você encontre algumas vielas estreitas, com menos de dez metros de largura, principalmente nas partes mais antigas da cidade. Também encontrará grandes avenidas que ultrapassam os cem metros de largura. Olhando para outras cidades, vemos que essa variedade se repete ao redor do mundo.
No início do século XIX, em uma Paris prestes a ter seu tecido medieval rasgado pelos enormes bulevares de Haussmann, a romancista George Sand se vestia como homem para andar pelas ruas. Segundo seus diários, “de calças e botinas podia voar de uma ponta a outra da cidade, qualquer que fosse o clima, a hora e o local”. Ninguém lhe dava atenção, ninguém adivinhava seu disfarce, ninguém a olhava ou criticava, ela era mais um “átomo perdido naquela imensa multidão”. Graças às vestes masculinas, Sand vivenciou incursões destemidas e percursos solitários, como um verdadeiro flâneur. Experiências que, posteriormente, se tornaram fundamentais para a construção de suas narrativas de sucesso.
A ilustração acima é uma imagem famosa do artista Imperial Boy (帝国少年), que trabalha na indústria dos animes. Às vezes eu afirmo que todo o gênero do solarpunk se inspirou nessa imagem. Isso é um exagero, obviamente — algumas pessoas pensaram muito seriamente sobre os princípios de design do solarpunk —, mas a influência e o apelo do design do Imperial Boy são inegáveis. E outras artes solarpunk, embora muitas vezes adoráveis, tendem a não se parecer imediatamente com o tipo de cidades que você gostaria de construir; ou é uma imagem de uma fazenda de alta tecnologia, ou alguma variação de “coloque uma árvore na lateral de cada prédio”.
Mudanças sistêmicas. Transformação. Transição profunda. Essas expressões são usadas com tanta frequência que correm o risco de se tornarem palavras da moda, tendo seu real significado ofuscado.
Ainda assim, para conter o aumento da temperatura do planeta, conservar a natureza e construir uma economia mais justa capaz de beneficiar a todos, nós de fato precisaremos de uma mudança profunda em todos os aspectos de nossas economias – e a um ritmo e em uma escala nunca vistos até então.
O poliestireno expandido foi descoberto em 1839 em Berlim e tornou-se um material muito utilizado nos aviões da 2ª guerra mundial, por conta de sua densidade extremamente baixa. É isso que o torna um material adequado para isolamento térmico e acústico, frequentemente especificado em construções, mas também amplamente usado em embalagens. Trata-se de um plástico celular rígido, resultado da polimerização do estireno em água, cujo produto final são pérolas de até 3 milímetros de diâmetro, que se expandem. Um ponto negativo é que este material leva mais de 500 anos para se decompor e, neste processo, lixivia produtos químicos nocivos ao meio ambiente. Sua reciclagem é possível, mas é complexa e custosa. Isso quer dizer que a maior parte do isopor produzido até hoje permanece no mundo, ocupando valiosos espaços em aterros sanitários ou, pior ainda, quebrado em minúsculas partes e interferindo na vida dos oceanos. “Decomposition Farm: Stairway” é uma instalação temporária que sugere uma possível solução das questões ambientais relacionadas ao desperdício de construção no campo arquitetônico.
Entre os diversos problemas do uso excessivo de carros nas grandes e médias cidades, sem dúvida os congestionamentos e o tempo perdido no trânsito são os que recebem maior atenção da mídia e da sociedade.
Os motoristas costumam não dar muita bola para outros problemas, ainda que gravíssimos, como as mortes e tragédias no trânsito, a poluição do ar, o estressante ruído produzido pelos veículos motorizados, o espraiamento urbano, que tornam as cidades disfuncionais, caras e distantes, ou os problemas hidrológicos causados pelo excesso de asfalto e concreto destinados aos automóveis. Geralmente, essas questões são ignoradas ou vistas como fatalidades, enquanto o trânsito infernal é visualmente evidente, sendo algo logo percebido como desagradável e a exigir soluções imediatas.
Quando as crianças aprendem a desenhar uma casa, há quatro componentes básicos que ilustram: uma parede, um teto inclinado, uma porta e uma ou mais janelas. Juntamente com os elementos estruturais comuns, janelas sempre foram consideradas características arquitetônicas indispensáveis por suas múltiplas funções. Ao proporcionar vistas, luz do dia e ventilação natural, elas isolam do frio e do calor, protegem de ameaças externas e aumentam a aparência de uma fachada. Também estão associados a um forte valor poético ou simbólico; É através delas que somos capazes de nos conectar e desfrutar do ambiente, seja uma bela paisagem natural ou um ambiente urbano denso. Uma parte expressiva de qualquer edifício, as janelas servem como uma ponte visual entre o interior e o exterior, agindo um pouco como uma fuga revigorante da nossa rotina diária.
Espaços públicos urbanos têm potencial para transformar a vida dos bairros e das cidades e por isso precisam estar abertos às mudanças sociais, culturais e tecnológicas que ocorrem na sociedade. Da horta urbana ao espaço pet, dos jardins de chuva aos pavilhões de arte, a vida nas cidades contemporâneas criou novas demandas e novas formas de usar e se apropriar dos espaços públicos.
Com o passar do tempo, a cozinha deixou de ser apenas um espaço de trabalho para também configurar uma área de encontro e lazer. Para muitos, ela se tornou o coração da casa. Sendo assim, conciliar a iluminação necessária para um ambiente que exige cuidado aos detalhes na hora de preparar os pratos, mas também que traga conforto durante uma reunião de amigos e familiares, não é simples.
Estamos nos últimos dias de 2022 e é o momento de revisar o que aconteceu de mais marcante no ano que passou. Dessa vez, buscamos pelas fotografias que foram as mais curtidas no Instagram do ArchDaily Brasil.
https://www.archdaily.com.br/br/993475/as-fotos-mais-curtidas-no-instagram-do-at-archdailybr-em-2022ArchDaily Team
A ludicidade é um conceito muitas vezes atribuído às crianças e pouco se conectada com a vida adulta. Na arquitetura, os projetos dedicados à idade infantil propõem uma combinação de objetos, cores e soluções voltadas a incentivar a imaginação e quebrar a rigidez dos espaços, ao passo que a grande maioria dos projetos convencionais se limitam ao regular e carimbam a sobriedade da vida adulta.
Sujeitas às forças do capital, populações migratórias e circunstâncias políticas, as cidades estão em constante evolução. Essa evolução contínua é evidente no tecido construído dos assentamentos, à medida que arquitetos e urbanistas constroem sobre camadas já existentes, alguns tendo a árdua tarefa de integrar com sucesso as áreas urbanas históricas com intervenções e sistemas arquitetônicos contemporâneos.
As cidades desta categoria estão frequentemente em conflito interno - muitas vezes tendo que lidar com os objetivos às vezes contraditórios de sustentar as populações locais e acolher investimentos externos e projetos de desenvolvimento nacional.
Os esforços arqueológicos destinados a explorar as civilizações do passado revelaram uma semelhança em todo o mundo, uma forma de arquitetura desenvolvida de forma independente em todos os continentes. As evidências mostram que as comunidades neolíticas usavam solos férteis e argila aluvial para construir habitações humildes, criando o primeiro material de construção durável e sólido da humanidade. A arquitetura de terra nasceu muito cedo na história da humanidade, e as técnicas sofreram um declínio gradual à medida que os estilos de vida mudaram, as cidades cresceram e os materiais industrializados floresceram. A arquitetura de terra tem lugar no mundo do século XXI?
Programas e séries televisivas sobre reformas são sedutoras. Sentimentos uma ansiedade em ver aquele lar remodelado de uma forma inimaginável, proporcionando uma reconexão da família com o novo espaço. As lágrimas no final, o apresentador-arquiteto-empreiteiro satisfeito com o resultado, os pisos intactos de madeira, eletrodomésticos brilhantes, banheiras novas prontas para serem estreadas. Não é à toa que esses programas estão ganhando cada mais público e, consequentemente, inspirando muitas transformações nas casas alheias.
Mas, se por um lado, eles fomentam a vontade de mudança nos espectadores, mostrando as infinitas possibilidades ao transformar e melhorar um espaço, por outro, eles podem reproduzir conceitos equivocados sobre a arquitetura, principalmente em relação ao processo de concepção e execução.
Pensar o layout, rever questões estruturais. Projetar um apartamento requer o diálogo com uma construção prévia que podem desafiar arquitetos e designers. Trazer amplitude para pequenas áreas, levar iluminação para ambientes menos favorecidos, trazer características ímpares para uma planta tipo replicada em inúmeros pavimentos. Enfim, planejar uma residência é o tema que sempre orbitará a profissão - e se destacar no assunto nem sempre é fácil -, por isso, e para levantar distintas referências, apresentamos os apartamentos brasileiros que mais foram visitados pelo público no ArchDaily Brasil em 2022.
Para tentar explicar a passagem do tempo, os gregos contavam com dois deuses: Cronos e Kairós. Enquanto o primeiro é representado como impiedoso tal qual um relógio que nunca para, Kairós evocava a um momento adequado ou oportuno para uma ação. Ou seja, enquanto Cronos é quantitativo, Kairós tem uma natureza qualitativa e permanente. De fato, a relação da humanidade com a passagem do tempo nem sempre é amigável.
Com as edificações não é diferente. John Ruskin, em seu seminal The Seven Lamps of Architecture (1849), dizia que somente edificações em ruínas preservariam nossas percepções passadas e, simultaneamente, nos permitiriam enfrentar nosso estado de mortalidade. Nesse sentido, as manchas de tempo e escombros eram testemunhas cruciais para demonstrar o envelhecimento na arquitetura, que, em sua concepção, atingiam uma estética entre o sublime e o pitoresco. Ainda que esta seja uma opinião um tanto contraditória, a ideia de considerar como uma edificação irá perdurar no tempo vem ganhando mais atenção. É sabido que alguns materiais envelhecem melhor que outros: enquanto uma parede branca rebocada rapidamente apresenta trincas e manchas, um muro de pedra parece melhorar com os anos, se fundindo com o seu entorno, por exemplo. O tempo traz matizes novas, conta a história do que passou e dá autenticidade às superfícies.
Uma das mais importantes descobertas da humanidade, o vidro é usado pelo homem há cerca de 75 mil anos – originalmente empregado como ferramenta de corte. Os primeiros registros de fabricação do vidro, porém, datam da civilização Egípcia e Mesopotâmica. Desde então, o domínio da técnica da fabricação foi se desenvolvendo em diferentes civilizações e nações, até que a Revolução Industrial popularizou o material e permitiu sua produção em larga escala. Na arquitetura, o vidro começa a aparecer como elemento de vedação em meados de 100 d.C. e é até hoje largamente utilizado.
Pode-se dizer que a qualidade do ar no interior dos ambientes nunca recebeu a atenção devida na história. Enquanto a poluição atmosférica é considerada uma ameaça desde a época de Hipócrates, em 400 aC, tornando-se uma preocupação real com a industrialização na Revolução Industrial, pouco é falado sobre como estão as condições de conforto nos ambientes internos. Essa é uma questão cada vez mais grave visto que a humanidade tem passado cerca de 90% de seu tempo em ambientes internos e a qualidade desses espaços interfere diretamente no bem-estar e na saúde a longo prazo. Na verdade, a qualidade ambiental interna (IEQ, do inglês Indoor Environmental Quality) abrange bem mais que a poluição interna. Refere-se a um equilíbrio entre a qualidade do ar, da acústica, da iluminação, temperatura, e outros fatores que contribuirão para um ambiente agradável e, acima de tudo, saudável aos seus ocupantes. A empresa Armstrong, sob o mote “todo espaço pode ser um espaço saudável”, tem desenvolvido soluções para contribuir com a melhoria de espaços que passamos mais tempo, como edifícios educacionais, de saúde, escritórios e residências.
Com a urbanização desenfreada das cidades, os animais que originalmente chamavam esses ambientes de lar foram deslocados e forçados a encontrar outros meios de refúgio.
Os pássaros talvez sejam uma das espécies mais atingidas pelo crescimento urbano já que são atraídos durante o vôo por estímulos como iluminação e correntes de ar que podem ser transformadas dependendo de como se deu o processo construtivo e de organização territorial de uma cidade.
O Airbnb é uma forma confiável de encontrar uma estadia. Desde sua criação em 2008, o site já cadastrou mais de 7 milhões de residências ao redor do mundo, onde os viajantes podem ficar em um quarto, ou alugar uma casa inteira. Recentemente, muitas cidades têm reprimido estadias de curta duração, citando questões de segurança, listagens falsas e aumento dos preços dos imóveis, causando a saída das pessoas de suas casas quando a moradia é usada apenas para o aluguel do Airbnb. O que as cidades estão fazendo em relação a estas questões? O que o Airbnb está fazendo para ajudar a resolvê-los? O Airbnb será viável por muito mais tempo?
A obsessão de Buckminster Fuller pelas formas geodésicas as colocaram na história da arquitetura. A aparência esférica e o complexo tramado estrutural ganharam diferentes apropriações e escalas ao longo dos anos, sendo uma das obras mais icônicas a Biosfera de Montreal, o pavilhão dos Estados Unidos para a Exposição Mundial de 1967, projetada pelo próprio arquiteto. Essas estruturas emergiram dos seus interesses na eficiência material, integridade estrutural e modularidade, aspectos que, já na década de 60, o arquiteto entendia como primordiais para o que se esperava de uma intervenção sustentável e facilmente replicável.
Já há algum tempo as coberturas se tornaram espaços de lazer, seja nos grandes edifícios luxuosos, seja nas casas da periferia. Essa condição, porém, não se limita aos nossos tempos. Variando seu uso e sua forma, diferentes culturas em diferentes momentos fizeram o uso das coberturas planas em sua arquitetura, residencial ou não.
Nos últimos anos, o termo “cocriação”, uma palavra da moda no setor de negócios e gestão, entrou no discurso da arquitetura e do planejamento urbano. O termo é usado para definir um conceito amplo que descreve o trabalho intencional para a criação de algo em conjunto. Mas a arquitetura já é o resultado de uma colaboração entre vários atores como arquitetos, clientes, investidores e governo local, para citar alguns. Dessa forma, poderia o termo ainda ser aplicado a este campo, trazendo novas formas de conhecimento que diferem do design participativo?