Edifícios mistos são dispositivos urbanos que se caracterizam pela diversidade de usos. Eles compartilham uma existência repleta de obstáculos e contratempos e, aqueles que conseguem ser construídos, resistem como verdadeiros sobreviventes de uma espécie vigorosa que cresce em lugares de oportunidade, abrindo caminho através da especulação imobiliária.
Camilla Ghisleni
Camilla Ghisleni é Arquiteta e Urbanista, formada pela Universidade Federal de Santa Catarina e Mestre em Urbanismo, Cultura e História da Cidade pela mesma universidade. É sócia-fundadora do escritório Bloco B Arquitetura e colabora com o ArchDaily Brasil desde 2014.
A arte de misturar os usos: a história de 10 edifícios mistos
O papel da arquitetura na questão dos refugiados e migrantes latino-americanos

Juliana Coelho é arquiteta e urbanista com experiencia no setor humanitário, de desenvolvimento público e privado. Nos últimos três anos vem atuando no setor com o ACNUR, Agência da ONU para Refugiados. Durante este período, esteve envolvida no planejamento, design e implementação de 21 abrigos temporários, centros de trânsito e centros de recepção/documentação para refugiados e migrantes no Brasil, além de participar da elaboração de um plano de contingência e de projetos de melhoria de ocupações espontâneas e espaços cedidos prestando apoio técnico junto à Operação Acolhida, resposta do governo brasileiro ao fluxo de refugiados e migrantes venezuelanos para o Brasil que, neste ano de 2020, também incluiu ações de resposta à emergência da COVID-19.
Arquiteturas nômades: se deslocar sem sair de casa

De um lado, a velocidade exorbitante representada pela rápida propagação por minuto, pela transcendência de fronteiras, pelo alastramento por todos os continentes, pela multiplicação desenfreada. De outro, o intacto, o imóvel, o claustro doméstico, o isolamento e a reclusão na tentativa de evitar qualquer movimento brusco, na supressão do ímpeto, no controle do ambiente. De um lado o vírus, do outro o homem.
Neste cenário pandêmico no qual um vírus mortal é gestado na velocidade interrupta dos nossos movimentos, tornando – nós mesmos – a sua potência, a imobilidade é vista como parte importante do antídoto. Uma imobilidade que nos custa caro, nos encerra em nossos lares e nos obriga a revisar a forma como experienciamos o mundo.
A lei da assistência técnica e a importância social da arquitetura / Camilla Ghisleni

Dois quartos, sala, cozinha e banheiro. O que parece ser a descrição contida em um classificado de jornal, na realidade, está muito longe disso. Os dormitórios voltados para sul não recebem luz necessária para possibilitar um ambiente salubre. O mofo e bolor corroem as paredes da habitação principal impregnando os pulmões de umidade e dificultando a respiração. A pequena janela, encontrada no terreno baldio próximo, não consegue suprir a necessidade de luz e ventilação no quarto das crianças, quarto este que agora se tornou insuficiente com a chegada do novo bebê. Os problemas estruturais encontrados no telhado, ocasionados pelo mal dimensionamento das vigas e a precária instalação elétrica, feita pelo próprio morador, são outras dificuldades que tornam a residência em questão uma bomba relógio.
O sonho da casa própria aos poucos desmorona.