A dupla de arquitetos brasileiros Mário Rubem Costa Santana e Rafael Lamary Silva Santos foi premiada com menção especial no concurso para uma casa de acolhimento infantil no Senegal, promovido pela organização Kaira Looro. A competição buscava propostas para um "espaço destinado à prevenção da desnutrição infantil" na África Subsaariana.
https://www.archdaily.com.br/br/985412/arquitetos-brasileiros-sao-premiados-em-concurso-para-casa-de-acolhimento-infantil-no-senegalArchDaily Team
Render de casas acessíveis criadas com resíduos de plástico. Imagem cortesia de Othalo
Muitas pessoas pelo mundo concordam que estamos passando por uma emergência climática. O relatório do IPCC, divulgado no ano passado, dificulta a leitura. Os profissionais do ambiente construído passaram a direcionar as ações climáticas, com organizações como ACAN e Architects Declare promovendo o ensino sobre o carbono e pedindo aos designers que reavaliassem sua prática.
A partir de uma pesquisa on-line feita de qualquer computador é possível ter imagens de muitas cidades do mundo pela perspectiva de pedestres. Essa tecnologia é poderosa, permitindo que as pessoas tenham uma visão aprofundada das cidades que um dia podem visitar, morar ou trabalhar. É uma ferramenta útil para entender os edifícios em um nível mais abrangente do que fotografias. Essa tecnologia é, obviamente, o Google Street View - que recentemente completou 15 anos.
O presidente da La Biennale di Venezia, Roberto Cicutto, e o curador da 18ª Exposição Internacional de Arquitetura, Lesley Lokko de Jacopo Salvi. Imagem cortesia de La Biennale di Venezia
De 20 de maio a 26 de novembro de 2023, a 18ª Exposição Internacional de Arquitetura ocupará os espaços do Giardini, Arsenale e outros locais de Veneza. Intitulada O Laboratório do Futuro, a mostra foi anunciada hoje pelo presidente da Biennale di Venezia, Roberto Cicutto, e pela curadora da exposição, Lesley Lokko.
O tema e título desta edição considerará o continente africano como protagonista do futuro. “Há um lugar neste planeta onde todas essas questões de equidade, raça, esperança e medo convergem e se unem. África. A nível antropológico, somos todos africanos. E o que acontece na África acontece com todos nós”, explica Lokko.
Em uma tarde de domingo quente e nebulosa, os cortiços de concreto de Nairóbi se elevam sobre os barracos (ou “favelas”) da cidade. Homens e mulheres penduram roupas em telhados e varandas — fazendo com que os edifícios pareçam uma colcha de retalhos, um mosaico de tecido.
Niamey 2000, by United4design, um coletivo que inclui Kamara, agrega densidade à cidade sem perturbar o tecido cultural da região. É construído principalmente com tijolos de terra não queimados, feitos localmente, para evitar o uso de concreto e aço importados. Imagem Cortesia de TORSTEN SEIDEL
A arquiteta Mariam Kamara - fundadora do escritório Atelier Masōmī, sediado em Niamey, no Níger - é contrária à pedagogia do design como a que é amplamente praticada hoje. Para Kamara, moderno não é sinônimo de formas europeias, arquitetura não é apenas para os ocidentais, e o chamado cânone dos grandes edifícios na verdade ignora a maior parte do mundo construído. O escritório de rápido crescimento da arquiteta sediada no Níger influenciou uma série de palestras que ela deu recentemente no MIT, na Columbia University GSAPP, no African Futures Institute em Gana e em Harvard GSD.
Ela é uma forma arquitetônica onipresente. Uma tipologia que atravessa séculos e fronteiras, um marco em todas as culturas. A tenda. Na sua forma mais simples – é um abrigo, um material colocado sobre uma armação de madeira. É uma linguagem arquitetônica que está intrinsecamente ligada à vida nômade. Yurts, por exemplo, funciona como uma moradia facilmente portátil para os povos cazaque e quirguiz. Ao mesmo tempo, as tendas provaram ser um precedente estilístico popular para os arquitetos, sendo as estruturas leves do arquiteto alemão Frei Paul Otto um exemplo disso. A tenda é uma linguagem arquitetônica complicada – que atravessa a linha entre o temporário e o permanente, e que também funciona como um símbolo de riqueza e um símbolo de escassez.
“E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e soprou em seu nariz o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente. E plantou o Senhor Deus um jardim no Éden, no lado leste, e pôs ali o homem que tinha formado. E o Senhor Deus fez brotar da terra toda árvore agradável à vista e boa para comida”.
Assim é retratado o Jardim do Éden no primeiro livro da bíblia, Gênesis, que descreve a origem do universo e o local paradisíaco onde Adão e Eva foram colocados. Tal paraíso, apesar de pouco caracterizado nas palavras originais, há séculos povoa a imaginação dos fiéis e demais entusiastas do assunto. As cenas desse lugar idílico, reforçadas pelas pinturas e esculturas criadas ao longo tempo, apresentam uma paisagem tida como ideal, uma natureza edênica, expressada muitas vezes pelo colorido vibrante e sem contorno – tal qual um quadro de Monet –, enfatizando provavelmente a representação do mundo espiritual, onde a imagem é vista através do contraste de cores, sombras e luzes.
Comparados ao Ocidente e Oriente, a consciência e o conhecimento da arquitetura da África subsaariana - África ao sul do deserto do Saara - são escassos. Um novo livro pretende mitigar esse descuido, e é uma conquista significativa. Architectural Guide Sub-Saharan Africa (editora DOM, 2021), organizado por Philipp Meuser, Adil Dalbai e Livingstone Mukasa, levou mais de seis anos para ser elaborado. O guia de sete volumes apresenta a arquitetura nos 49 estados-nação subsaarianos do continente, inclui contribuições de cerca de 340 autores, 5.000 fotos, mais de 850 edifícios e 49 artigos expressamente dedicados a teorizar a arquitetura africana em seus aspectos sociais, econômicos, históricos e contexto cultural. Entrevistei dois dos editores — Adil Dalbai, pesquisador e arquiteto praticante especializado na África subsaariana, e Livingstone Mukasa, um arquiteto nativo de Uganda interessado nas interseções entre a história da arquitetura e a antropologia cultural — sobre os desafios de criar o guia, algumas de suas revelações sobre a arquitetura da África e seu impacto potencial.
https://www.archdaily.com.br/br/979567/um-novo-guia-abrangente-sobre-a-arquitetura-da-africa-subsaarianaMichael J. Crosbie
A escolha de Kéré não é apenas simbólica em um momento de demandas identitárias, onde as instituições que compõem o mainstream enfim começam a representar mais fielmente as realidades sociais, culturais e sexuais que compõem nossas sociedades, mas também confirma a abordagem mais recente do júri do Prêmio Pritzker.
Conheça o vencedor do Prêmio Pritzker de Arquitetura, Francis Kéré, em uma entrevista ao Louisiana Channel em que ele conta sobre sua visão de arquitetura. Como a nota oficial do Prêmio Pritzker de Arquitetura diz "por meio de edifícios que demonstram beleza, modéstia e invenção, e pela integridade de sua arquitetura e gesto, Keré assume graciosamente a missão deste prêmio", de maneira contínua "empoderando e transformando comunidade através do processo da arquitetura".
Surgical Clinic and Health Center. Cortesia de Francis Kéré
"Eu só queria que minha comunidade fizesse parte desse processo", disse Diébédo Francis Kéré em entrevista ao ArchDaily publicada no ano passado. Difícil pensar em outra frase que resuma tão bem a modéstia e o impacto causado pelo mais novo vencedor do Prêmio Pritzker de Arquitetura, cujo trabalho ganhou notoriedade justamente por envolver os habitantes de sua vila na construção de obras que combinam compromisso ético, eficiência ambiental e qualidade estética.
A arquitetura africana tem recebido merecida atenção internacional na última década e um dos principais responsáveis por isso é, sem dúvida, Diébédo Francis Kéré. Natural de Gando, Burkina Faso, Kéré se formou em arquitetura na Technische Universität Berlin, Alemanha. Hoje, mantém filiais de seu escritório Kéré Architecture em ambos os países, com o qual busca desenvolver trabalhos na "intersecção da utopia com o pragmatismo", explorando a fronteira entre a arquitetura ocidental e a prática local.
Conhecido por envolver a comunidade no processo de construção de seus edifícios, Kéré e seu escritório vêm desenvolvendo trabalhos que extrapolam os limites convencionais da arquitetura e tocam temas como economia local, migrações, cultura e equidade. Tivemos o prazer e o privilégio de conversar com o arquiteto sobre alguns de seus projetos e sua visão mais ampla da arquitetura. Leia a entrevista íntegra a seguir.
“Através de edifícios que demonstram beleza, modéstia, ousadia e invenção, e pela integridade de sua arquitetura e gesto, Kéré defende graciosamente a missão deste Prêmio”, diz o comunicado oficial do Prêmio Pritzker de Arquitetura. Anunciado hoje por Tom Pritzker, presidente da The Hyatt Foundation, Francis Kéré é o 51º vencedor do prêmio criado em 1979, sucedendo Anne Lacaton e Jean-Philippe Vassal. Elogiado por ir além dos limites do campo disciplinar, o arquiteto atua simunltaneamente em Burkina Faso e na Alemanha.
Elogiado pelas suas impactantes contribuições à arquitetura, design e comunidade, Sir David Adjaye foi reconhecido com primeiro o Prêmio Charlotte Perriand, uma honra criada pelo Créateurs Design Awardsque reconhece a excelência e integridade na indústria do design. O fundador da Adjaye Associates foi selecionado pelas suas realizações que "vão além de marcos na cidade", e pela sua abordagem holística e impactante no desenvolvimento de tipologias residenciais, comerciais e culturais.
Nações africanas estão lutando contra as mudanças climáticas com uma Grande Muralha Verde de oito mil quilômetros de extensão que pretende impedir o avanço da desertificação da região do Sahel, zona ao sul do Saara habitada por 100 milhões de pessoas. Esse movimento cobre o continente africano de leste a oeste e visa recuperar 100 milhões de hectares de terras degradadas, sequestrar 250 milhões de toneladas de carbono e criar 10 milhões de empregos na África rural até 2030. Do Senegal, no oeste, ao Djibuti, no leste, o projeto é uma iniciativa conjunta de 21 nações que se esforçam para recuperar esta região outrora perene e proteger os meios de subsistência das comunidades locais.
O ano de 2021 foi turbulento – a pandemia causada pelo novo coronavírus persiste, obrigando as indústrias de design e construção a continuar se adaptando por dois anos seguidos. À medida que os métodos de trabalho remoto e comunicação continuam a ser ajustados e aprimorados, uma infinidade de eventos virtuais fez com que o discurso arquitetônico fora dos paradigmas ocidentais e eurocêntricos pudesse ocupar um espaço central na discussão da arquitetura global.
Uma frase de efeito, muito conhecida — "Do Cabo para o Cairo" — gerou inúmeros livros e despertou a imaginação de incontáveis viajantes do continente africano. As origens da frase são de natureza imperial, nascida de uma proposta de 1874 do jornalista inglês Edwin Arnold, que procurava descobrir as origens do rio Congo. Este projeto foi mais tarde retomado pelo imperialista Cecil Rhodes, que imaginou uma ferrovia contínua de territórios governados pela Inglaterra que se estendia do Norte ao Sul do continente.