Ao refletirmos sobre o tumultuado ano de 2023 e seus eventos, é evidente que os desafios impostos pelas condições ambientais em constante mudança deixaram uma marca indelével em todo o mundo. Em resposta, arquitetos e urbanistas passaram a procurar maneiras nas quais suas ações possam contribuir para a criação de ambientes mais seguros para as comunidades, com arquiteturas de emergência de implantação rápida e estratégias de longo prazo para construir resiliência e mitigar riscos.
Além de simplesmente responder a eventos, como os devastadores terremotos na Turquia, Síria e Marrocos, ou as enchentes generalizadas na Líbia ou no Paquistão, arquitetos estão tentando adotar abordagens proativas. Eles desenvolvem estratégias que vão desde a modelagem preditiva até a aplicação de técnicas de renaturalização, passando pela pesquisa contínua na física de estruturas mais seguras e resilientes.
Em 30 de novembro teve início em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, a COP28, a cúpula climática da ONU. O evento consiste no encontro anual de governos nacionais e tem como objetivo de estabelecer estratégias para limitar a extensão da crise climática e seus efeitos adversos. A cúpula do ano passado definiu várias medidas importantes, incluindo a promessa de um fundo global destinado a fornecer ajuda financeira a países em desenvolvimento afetados por desastres climáticos.
O propósito principal da COP é reforçar os compromissos do Acordo de Paris, assinado em 2015, que busca manter o aumento da temperatura global abaixo de 1,5ºC. Como a indústria da construção é responsável por 39% das emissões globais, a arquitetura desempenha um papel vital na redução da pegada de carbono, tornando a COP28 um evento crucial para os arquitetos.
Após as intensas enchentes que afetaram o Paquistão em 2022, a arquiteta Yasmeen Lari, da Heritage Foundation of Pakistan, comprometeu-se a auxiliar na construção de um milhão de casas resilientes no país. Em 2022, 33 milhões de pessoas foram deslocadas, e estima-se que 500.000 residências tenham sido destruídas ou gravemente danificadas. Em setembro de 2022, a ONG de Lari lançou um programa para iniciar a reconstrução e auxiliar as comunidades a se protegerem contra futuros desastres. O programa baseia-se na experiência de Lari em trabalhar com as comunidades e utilizar materiais de construção vernaculares e locais para criar estruturas resilientes e sustentáveis. De acordo com a Heritage Foundation of Pakistan, um terço da meta já foi alcançado.
Carlo Ratti Associati divulgou o projeto de transformação da histórica orla fluvial de Turim, na Itália. O principal objetivo do projeto é enfrentar a atual crise climática e utilizar soluções arquitetônicas para criar espaços que possam resistir às enchentes recorrentes do rio Po. Ao longo do projeto, muitos elementos arquitetônicos são cinéticos, permitindo que eles se elevem acima da água. "Flutuando Acima das Enchentes" cria novas soluções para adaptações climáticas urbanas e fornece insights sobre estratégias universais para vias navegáveis urbanas.
À medida que o mundo luta contra os efeitos das mudanças climáticas, desastres naturais como inundações e a propagação de incêndios incontroláveis estão cada vez mais ameaçando as cidades e seus habitantes. Embora a arquitetura e o urbanismo não possam evitar esses eventos, há estratégias para minimizar os danos associados a esses eventos e ajudar a proteger os cidadãos. Eventos trágicos ao longo do último ano, como o terremoto que atingiu o centro da Turquia e o noroeste da Síria em fevereiro deste ano ou o terremoto mais recente no oeste do Afeganistão, as inundações e o rompimentos de barragens na Líbia, e os incêndios que devastaram a cidade de Lahaina, no Havaí, demonstram a urgência de implementar medidas preventivas e de mitigação, além de criar procedimentos para intervenção de emergência. Este artigo explora as estratégias e recursos disponíveis para arquitetos e urbanistas enfrentarem esses desafios em três tipos de desastres naturais: enchentes, incêndios florestais e terremotos.
Dentro do espaço de uma semana, dois desastres naturais atingiram nações do norte da África. Na segunda-feira, 11 de setembro, dias após um grande terremoto atingir as Montanhas do Alto Atlas do Marrocos, a tempestade Daniel atingiu o noroeste da Líbia, levando ao colapso de duas barragens, que liberaram torrentes de lama e água na costa do país, matando milhares de pessoas e destruindo grandes partes da cidade portuária de Derna, além de outras cidades e vilarejos como Benghazi, Bayda e al-Marj. Com mais de 10.000 residentes ainda desaparecidos e milhares de deslocados, a magnitude do desastre ainda está sendo avaliada. Bairros inteiros de Derna, uma cidade atravessada pelo rio Wadi Derna, foram varridos.
O Burning Man, o festival anual que ocorre no DesertoBlack Rock em Nevada, foi aberto em 27 de agosto com milhares de participantes reunindo-se para criar a Cidade Black Rock, uma "metrópole temporária" com várias instalações, obras de arte e pavilhões que celebram a "comunidade, arte, autoexpressão e autossuficiência". No entanto, este ano, a experiência do festival tem sido diferente, já que fortes chuvas no deserto inundaram o local do evento, criando um lamaçal. As estradas de acesso e saída do festival foram fechadas, pois veículos grandes correm o risco de ficar presos na lama. Enquanto algumas pessoas deixaram o local a pé, a maioria dos 70.000 participantes permanece isolada no local, conforme relatado pela CNN.
As mudanças climáticas têm sido um dos tópicos mais urgentes deste ano, e por um bom motivo. Seus efeitos são visíveis não apenas em habitats naturais, mas também em ambientes urbanos. A indústria da construção civil tem um papel importante nesta dinâmica. Ao longo do ano, eventos como a COP27 enfatizaram a importância dos esforços para zerar as emissões líquidas e os desafios enfrentados pelos países em desenvolvimento afetados por desastres naturais, cada vez mais devastadores. Possíveis direcionamentos rumo ao desenvolvimento incluem ações em vários estágios e escalas, desde a otimização de espaços verdes para controle de calor urbano até o uso de materiais de construção locais e inovadores para minimizar a pegada de carbono, ou a aprovação de leis que ajudam a criar ambientes urbanos e naturais mais sustentáveis.
Este artigo representa um resumo de artigos publicados no ArchDaily durante o ano de 2022 com temas relacionados às mudanças climáticas e o potencial da arquitetura para fazer a diferença. Ele divide o tópico em quatro questões principais: O que as cidades estão fazendo para mitigar o calor urbano? Como enfrentar o aumento do nível do mar? O que foi a COP27 e por que ela é importante? Os materiais de construção podem ajudar a atingir esses objetivos? A última seção apresenta um panorama das novas legislações aprovadas ao longo de 2022, como forma de entender como os governos estaduais e municipais estão impondo essa necessidade de mudança.
O escritório MVRDV foi selecionado pelo Ministério de Assuntos Econômicos de Taiwan para projetar a Hoowave Water Factory, uma reconstrução em grande escala das hidrovias Beigang e Anqingzhen, em Huwei. O projeto combina um plano diretor estratégico com uma proposta paisagística que vai além da abordagem monofuncional de controle e distribuição de água. Além de armazenar e captar água, a proposta também abre acesso ao rio e ao ecossistema natural ao integrar ciclovias, equipamentos culturais e sistemas ecológicos. O plano diretor também inclui uma estratégia abrangente de resiliência contra inundações, melhorando a quantidade e a qualidade da água disponível. O projeto tem conclusão prevista para 2026.
A cidade Veneza instalou barreiras de vidro ao redor da famosa Basílica de São Marcos para impedir a entrada de água. A decisão foi tomada após uma inundação em dezembro de 2022, na tentativa de impedir que se repetisse a catástrofe de 2019, quando a elevação das águas causou grandes danos à estrutura, envelhecendo-a “20 anos em um dia”, de acordo com a Procuradoria da Basílica. A estrutura temporária será usada até que o sistema MOSE comece a funcionar plenamente, previsto para o final de 2025, protegendo a centenária basílica, a cidade de Veneza e sua Lagoa contra inundações.
A ameaça da mudança climática está se aproximando diante de nós. A elevação do nível do mar preocupa mais de 410 milhões de pessoas em risco de perder seus meios de subsistência. As cidades litorâneas estão cheias de arranha-céus e ruas congestionadas, utilizando a terra de forma insuficiente. Sintetizando estes problemas, arquitetos de todo o mundo propuseram uma resposta potencial - cidades flutuantes. Um futuro da vida na água parece uma mudança radical de como as pessoas vivem, trabalham e se divertem. Os precedentes vernaculares provam o oposto, oferecendo inspiração para aquilo em que nossas cidades poderiam se transformar. Enquanto os líderes mundiais discutem cursos de ação para enfrentar a mudança climática na cúpula climática da COP27 no Egito, o ArchDaily mergulha no conceito de assentamentos radicais à base de água.
Desde de 6 de novembro, líderes mundiais estão se reunindo em Sharm el Sheikh, no Egito, para a COP27. O nome significa a 27ª Conferência das Partes, um evento quase anual iniciado sob a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) de 1992. O objetivo dessas conferências é garantir que os países estejam comprometidos em tomar medidas para evitar mudanças climáticas perigosas e encontrar maneiras de reduzir globalmente as emissões de gases de efeito estufa de maneira equitativa. A eficácia dessas reuniões variou ao longo dos anos, com algumas iniciativas bem-sucedidas, como o Acordo de Paris de 2015, um tratado internacional juridicamente vinculativo adotado por 196 partes com o objetivo de limitar o aquecimento global em menos de 2ºC ou, preferencialmente, 1,5ºC em comparação com o período pré-industrial.
A aprovação do pacote de mudanças climáticas do governo Biden, a chamada “Lei de Redução da Inflação”, previsivelmente se dividiu em linhas partidárias, com os republicanos caracterizando o projeto como um ato de gastos imprudentes do governo, que certamente aumentará os impostos e alimentará ainda mais a inflação. Mas será que esse ato realmente significa imprudência nos gastos? A legislação autoriza 430 bilhões de dólares em gastos, sendo a maior parte — mais de 300 bilhões de dólares — destinada a créditos fiscais. Outros gastos e iniciativas destinados a estimular a economia de energia limpa e a redução das emissões de carbono. O projeto de lei também permite que o Medicare negocie preços de alguns medicamentos caros com empresas farmacêuticas. O projeto de lei é parcialmente financiado por um imposto mínimo de 15% sobre grandes corporações e um imposto especial de consumo sobre empresas que recompram suas próprias ações. Dado o escopo do problema e os crescentes custos futuros da inação climática, esta legislação é um primeiro passo extremamente modesto, mas muito necessário.
https://www.archdaily.com.br/br/988786/o-custo-iminente-das-mudancas-climaticasMartin C. Pedersen, Steven Bingler
O volume recorde das chuvas de monções e, em partes, o derretimento das geleiras nas montanhas do norte do Paquistão, criaram condições para as enchentes devastadoras que cobriram mais de um terço da superfície do país. Segundo a BBC e a ONU, cerca de 33 milhões de paquistaneses, uma em cada sete pessoas, foram afetados pelas inundações, já que mais de 500.000 casas foram destruídas ou severamente danificadas. As águas das enchentes também varreram cerca de 700.000 cabeças de gado e danificaram 1,5 milhões de hectares de plantações. A província de Sindh é a mais atingida, recebendo 464% mais chuva do que a média de 30 anos.
No início deste mês, a cidade de Miami divulgou uma versão preliminar de seu plano abrangente de combate aos efeitos das mudanças climáticas. O chamado Stormwater Master Plan (SWMP) será implementado para diminuir a ameaça de inundações em toda a cidade, melhorar a qualidade da água na Baía de Biscayne e fortalecer seu litoral contra tempestades mais fortes e frequentes nos próximos 40 anos, em uma estimativa de custo geral de US $ 3,8 bilhões.
As inundações são um problema significativo para edifícios em todo o mundo, incluindo tesouros arquitetônicos como a Farnsworth House, que foram atormentados pelo problema várias vezes. Em particular, um terço de todo o território continental dos EUA corre o risco de inundar esta primavera, especialmente as planícies do norte, o meio-oeste superior e o extremo sul. Em abril passado, inundações mortais dizimaram partes de Moçambique, Malawi, Zimbábue e Irã, resultando em cerca de 1.000 mortes, e dezenas de milhares de desabrigados. Embora a arquitetura não possa resolver ou até mesmo proteger completamente das inundações mais mortais, é possível - e necessário - tomar várias medidas de proteção que possam mitigar danos e, consequentemente, salvar vidas.
A Factum Foundation, uma organização sem fins lucrativos dedicada ao uso de tecnologia digital para a conservação do patrimônio cultural, em colaboração com a Fondazione Giorgio Cini, Ecole Polytechnique Fédérale de Lausanne (EPFL) e a Iconem, escaneou a Ilha de San Giorgio Maggiore, em Veneza, em sua totalidade. Ao longo de 10 dias, a equipe digitalizou a ilha de 10 hectares usando fotogrametria e tecnologias LiDAR. Intitulado ARCHiVe, o projeto visa “auxiliar de forma eficiente e eficaz a preservação do frágil patrimônio cultural de Veneza”.