O design participativo é um processo democrático que visa oferecer contribuições iguais para todas as partes interessadas, com foco particular nos usuários, geralmente não envolvidos diretamente no método tradicional de criação espacial. A ideia baseia-se no argumento de que envolver o usuário no processo de concepção pode ter um impacto positivo na recepção desses espaços. Facilita o processo de apropriação, ajuda a criar locais representativos e valiosos e, assim, cria resiliência dentro do ambiente urbano e rural.
Embora essas premissas pareçam inspiradoras, há uma lacuna entre os ideais e a realidade da participação. Em circunstâncias normais, há um desequilíbrio imediato nas trocas iniciais. O arquiteto e a equipe de especialistas definem o quadro de referência e os termos da discussão. Ao aplicar seu conhecimento especializado para criar o sistema, eles assumem autoridade sobre o leigo inexperiente. Essa estrutura de poder deve ser rompida para desenvolver um processo participativo que empodere o usuário. As dificuldades estruturais fazem com que a participação seja muitas vezes apresentada ao público para ganhar o seu apoio, mas nem sempre é substanciada por um envolvimento transformador real. Muitas abordagens foram desenvolvidas para superar essas limitações, com vários níveis de sucesso.
A ideia de participação está fortemente ligada ao termo “usuário”. O livro de Adrian Forty “Words and Buildings: A Vocabulary of Modern Architecture” observa que este é um dos termos mais recentes a aparecer no discurso moderno da arquitetura. A palavra tornou-se difundida no final dos anos 1950 e 1960, enquanto o crescimento do estado de bem-estar levou a um período de florescimento da profissão de arquiteto. A palavra destinava-se a representar as pessoas que supostamente ocupariam a obra arquitetônica. Seu entendimento era distinto de termos como cliente ou ocupante, pois tinha fortes conotações de desfavorecidos e desprivilegiados; implicava aqueles que normalmente não poderiam contribuir para a formulação do briefing do projeto. "Analisar as necessidades do usuário" foi apresentado como uma forma de descobrir novas soluções arquitetônicas e avançar em relação aos programas arquitetônicos convencionais.
No entanto, o termo era uma abstração, sempre uma pessoa desconhecida, não identificável. Seu mérito foi permitir a discussão da habitação popular de um edifício, suprimindo todas as diferenças entre eles. O livro observa que essa foi uma forma de sustentar os sistemas de crenças dos arquitetos. Para muitos arquitetos vinculados aos projetos do setor público, era necessário convencer a si mesmos e ao público de que o cliente real não era a administração que encomendou os novos edifícios, mas aqueles que realmente os habitariam. Esse discurso deu a aparência de uma sociedade caminhando para a igualdade social e econômica, mas a participação real do usuário ainda não era considerada.
Participação é um termo genérico que disfarça, de fato, vários graus de envolvimento, desde a participação simbólica até o controle completo do processo por parte dos cidadãos participantes. Em 1969, Sherry Arnstein definiu uma “escada de participação” na qual ela estabelece uma hierarquia de controle participativo. Na parte inferior, ela coloca manipulação e terapia, ambas práticas não participativas que visam educar ou curar os participantes com o objetivo de obter apoio público. Nesse caso, alguns representantes do público são cooptados no processo como conselheiros. No entanto, os detentores do poder mantêm o direito de julgar a legitimidade ou viabilidade do conselho. A aceitabilidade desse sistema tem raízes nas crenças políticas da época em que havia o temor de que uma participação mais ampla do público pudesse representar uma ameaça à estabilidade do sistema político, como explica Carole Pateman. Nesse caso, o papel da participação é apenas protetor.
Ativistas comunitários do final dos anos 1960 e 1970 propuseram um modelo alternativo para reverter a relação de poder. Ele baseia-se no controle cidadão e sugere transformar os especialistas em facilitadores técnicos para atender aos anseios da comunidade sem impô-los. Como Jeremy Till observa em seu ensaio "The Negotiation of Hope", essa abordagem também não pode ser vista como uma solução prática. Ao abrir mão do poder, os especialistas também cedem seu conhecimento especializado. Um processo transformador não pode ser alcançado em parte porque o usuário não recebe nada que lhe permita expandir seus desejos não articulados.
Jeremy Till propõe uma mudança na forma como conceituamos a questão: em vez de nos fixarmos no edifício e ver o usuário como objetos, transferimos a atenção para o seu contexto. Para desenvolver esse conhecimento a partir de dentro, o arquiteto deve se projetar no contexto espacial, físico e social do usuário. Exige a capacidade de se mover entre o mundo do especialista e o do usuário, com um conjunto de conhecimento e experiência informando o outro. O arquiteto deve assumir a posição de liderar e representar, de se tornar um participante ativo na vida prática, sem negar seu conhecimento especializado ou a oportunidade de orientar.
Essa mentalidade abre o caminho para a outra metade do processo participativo transformador. Embora o arquiteto deva possuir a capacidade de se envolver mais ativamente com o contexto e com as preocupações do usuário, o usuário também pode ter a oportunidade de transformar ativamente o conhecimento do arquiteto. Isso só é possível se o arquiteto reconhecer e respeitar o conhecimento do usuário. Embora fácil de descartar, esse conhecimento é fundamentado na experiência cotidiana. É preciso afirmar o óbvio e o lugar-comum para ampliar uma visão muitas vezes estreita encontrada em pessoas altamente treinadas e especializadas.
Através dessa visão, o cidadão pode ser entendido como um especialista em seu campo: a experiência vivida dos espaços. O papel do arquiteto é reconhecer o valor dessa perspectiva e fornecer os canais pelos quais ela pode ser articulada. Ao ver os cidadãos como especialistas, o processo de projeto pode se afastar das versões idealizadas de participação e da limitação da realidade de implementá-las. Ele cria a base de uma conversa entre especialistas de diferentes áreas, todos trabalhando para um objetivo comum. As noções de autoridade ainda estão integradas ao sistema, mas sem dar tanto poder a uma parte que ameace a capacidade da outra de participar.
Isso não quer dizer que o processo se torna mais fácil, com todas as partes se unindo harmoniosamente para alcançar os melhores resultados. Preconceitos pessoais e sistemas de crenças são propensos a interferir, enquanto as diretrizes de um campo de especialização podem ser contraditórias. Mas a noção de negociação entre especialistas de diferentes áreas permite que as partes realizem discussões sem abrir mão de seus conhecimentos. A aceitação da posição de cada um dentro do processo pode gerar uma forma de prática participativa revitalizada e mais relevante, levando a um futuro melhor para o ambiente construído e para a profissão do arquiteto.