A palavra “gótico” muitas vezes evoca uma descrição de casas misteriosas, ou um grupo de pessoas que têm afinidade com a estética sombria, mas o que o estilo arquitetônico gótico historicamente trouxe para o ambiente construído não poderia ser mais oposto. O gótico foi criado para trazer mais luz solar aos espaços, principalmente igrejas, influenciando projetos e construções de algumas das edificações mais emblemáticas do mundo.
A arquitetura gótica foi nomeada por causa dos godos, um grupo germânico nômade que lutou contra o domínio romano no final dos anos 300 e início dos anos 400. Acredita-se que sua ascensão marcou o início do período medieval em toda a Europa. Uma vez que os godos detiveram o poder, após o colapso do Império Romano e a criação do novo Império Sacro Romano dos séculos V a VIII. Embora esse grupo não fosse conhecido por seus feitos arquitetônicos, o nome “gótico” foi aplicado ao estilo das igrejas que surgiram após o fato, quase 1.000 anos depois. Ele foi materializado pela primeira vez na França como uma ruptura com o estilo românico, que ostentava paredes grossas, durante uma época em que o desenvolvimento cultural acelerou, criando oportunidades para os arquitetos e construtores de explorar elementos estruturais mais complexos. Politicamente, esta época foi marcada por tempos pacíficos e prósperos, onde as edificações foram cuidadosamente projetadas e levaram até um século para serem concluídas.
Os elementos estruturais inovadores que sustentariam essas mega-catedrais definiriam a estética da arquitetura gótica. Em primeiro lugar, a leveza dessas estruturas veio do uso de arcos ogivais, emprestados da arquitetura islâmica que foi empregada na Espanha na mesma época. O arco reduziu a tensão em outros elementos estruturais, permitindo assim que as colunas que o sustentam se tornassem mais esbeltas e mais altas - tanto que as colunas se estendiam até a cobertura, formando parte da abóbada. A abóbada com nervuras tornou-se mais complicada e foi mesclada com nervuras de lierne em teias esculturais complexas, além da adição de nervuras cruzadas conhecidas como tieceron.
Devido à leveza das paredes, elaborados mosaicos de vitrais foram projetados para permitir que a luz inundasse o espaço, projetando os padrões coloridos por todo o interior. Edificações góticas também apresentam ornamentação muitas vezes na forma de gárgulas. À primeira vista, muitas catedrais góticas podem ser difíceis de se discernir, mas uma leitura atenta revela projetos intencionais e muito ordenados.
Quando você pensa em arquitetura gótica, a primeira edificação que muitas vezes vem à mente é a Catedral de Notre Dame, em Paris. Suas enormes rosáceas e vitrais menores, arcobotantes que sustentavam a alta estrutura da cobertura e gárgulas decorativas que espreitam os visitantes são uma imagem verdadeiramente exemplar do estilo gótico. A construção começou em 1163, e quase imediatamente influenciou outras catedrais que foram construídas nessa época. Ela foi concluída após quase 100 anos incluindo arcobotantes adicionais e a parte externa de um arco, adicionados para sustentar a cobertura maciça. Em uma tragédia infeliz, parte da Notre Dame pegou fogo em 2019, mas atualmente está passando por cuidadosos esforços de restauração. O governo parisiense prometeu reabrir a tempo para as Olimpíadas de 2024.
Após a construção de várias edificações góticas, os gostos de design voltaram novamente para as linhas mais limpas e retas que referenciavam a arquitetura da era clássica. Mas, como todos os estilos têm suas ondas recursivas ao longo da história, o fascínio pela arquitetura gótica medieval foi redescoberto nos séculos XIX e XX, quando arquitetos nos Estados Unidos começaram a projetar edifícios que imitavam as catedrais encontradas em toda a Europa, dando lugar ao termo “Revival Gótico”.