A promessa do metaverso, esse novo tipo de espaço digital tridimensional imersivo, está se mostrando cada vez mais atraente para arquitetos ansiosos por explorar o novo reino da criação virtual. Tal como está atualmente, o metaverso não tem uma definição singular, mas é composto por muitas narrativas e explorações. No entanto, esta terra desconhecida é um terreno fértil para os arquitetos, que têm a oportunidade de moldar não apenas o novo ambiente, mas também as experiências dos futuros usuários. O projeto SOLIDS representa uma resposta a essas condições. Desenvolvido por FAR, um arquiteto e engenheiro que trabalha com ambientes digitais, o SOLIDS utiliza um processo generativo para projetar edifícios únicos compatíveis com o metaverso.
Para este projeto, mais de uma dúzia de algoritmos generativos foram usados a fim de desenvolver 8.888 edifícios SOLIDS exclusivos, NFTs compatíveis com plataformas de metaverso, mecanismos de jogos e software de modelagem. Essa forma de arquitetura generativa fomenta a ideia sobre a mudança do papel dos arquitetos e as possibilidades dos ambientes digitais. Também dá um novo significado ao princípio de acessibilidade e segurança no mundo virtual.
FAR falou ao ArchDaily sobre o potencial do metaverso, as restrições impostas por este novo meio, os desafios de abertura e acessibilidade, bem como a maneira a qual o espaço virtual está evoluindo e se adaptando às necessidades de seus usuários. Leia a entrevista completa abaixo.
ArchDaily: Em seu site, você diz que no Metaverso, "a arquitetura é necessária para moldar o habitat do Reino Virtual". A iniciativa SOLIDS oferece objetos arquitetônicos que são gerados algoritmicamente. Uma conclusão poderia ser que precisamos de arquitetura, mas não necessariamente de arquitetos. Qual é o papel, em mudança, dos arquitetos neste novo reino de experiências virtuais?
FAR: Os humanos projetaram os SOLIDS. Passamos muito tempo desenvolvendo o algoritmo e o sistema que nos daria objetos arquitetônicos únicos dentro do projeto, em vez de replicar os mesmos SOLIDS centenas de vezes. Apesar de se basear no parametricismo, o SOLIDS responde a uma lógica arquitetônica exata que leva em conta o desenho.
Como o Reino Virtual é mais onipresente e as experiências digitais mais imersivas, serão necessários arquitetos que possam criar ambientes e espaços para aprimorar as experiências. Os processos de erguer um edifício no mundo "físico" são diferentes dos de erguer um no mundo virtual; no entanto, na origem do problema projetual, existem algumas necessidades que são equivalentes e devem ser resolvidas. Não temos de lidar com gravidade, por exemplo, mas lidamos com tamanhos de arquivo. O objetivo é o mesmo: criar um ambiente adequado para os seres humanos.
AD: Como você garante que cada um dos 8.888 prédios virtuais seja único? Eles exigem entradas diferentes, são otimizados para usos diferentes, com base em algoritmos diferentes ou é apenas um processo aleatório?
FAR: Existem mais de uma dúzia de arquétipos diferentes e com script personalizado. Alguns são esbeltos e altos, adequados para paisagens com declives acentuados e condições limitadas; outros são torres que devem ocupar pequenos terrenos e acomodar grandes espaços internos, etc.
AD: A arquitetura no mundo real deve responder a muitas restrições: gravidade e integridade estrutural, disponibilidade limitada de materiais, ergometria e proporções do corpo humano, sem mencionar as implicações socioeconômicas. A arquitetura virtual tem alguma restrição e como isso influencia no processo de projeto?
FAR: Existem muitas restrições no mundo virtual!
Para começar, os ativos 3D devem ser interoperáveis e compatíveis entre plataformas, aplicativos, jogos ou metaversos. Esse desafio tem a ver com a falta de um conjunto comum de padrões que seja usado em todas as plataformas. No entanto, à medida que o Metaverso se torna mais onipresente, deve haver um consenso sobre um código equivalente ao "código de construção" que cada cidade teria.
Depois, em termos da nossa relação com o corpo humano, há restrições - em diferentes níveis. Por exemplo, quando falamos de acessibilidade ao Metaverso, como as pessoas com deficiência podem acessar e aproveitar a experiência virtual como o restante? Precisamos trabalhar intensamente nisso, e a arquitetura poderá contribuir consideravelmente. Portanto, a percepção e a mobilidade dentro do Metaverso são cruciais. As experiências imersivas são em sua maioria puramente visuais, mas precisamos aprimorar outros sentidos para tornar o metaverso aberto e acessível.
AD: Qual é a utilidade de um edifício SOLIDS? Como alguém o usaria e para quais atividades ele é otimizado?
FAR: SOLIDS são edifícios interoperáveis registrados na blockchain Ethereum. Ao cunhar o SOLID em nosso site, você obtém acesso ao arquivo 3D GLB que pode ser carregado em um metaverso, jogo ou outro aplicativo em RA ou RV. Por enquanto, são contêineres flexíveis que podem abrigar galerias, reuniões ou experiências imersivas.
Como a arquitetura no mundo físico, um SOLID uma vez cunhado na blockchain, deve ter sua própria vida no Reino Virtual e potencialmente servir a diferentes programas para os quais não foi originalmente planejado. Esse seria o ideal, na minha opinião.
AD: Quando alguém compra uma casa, o primeiro impulso geralmente é modificá-la e torná-la sua, adicionando móveis, repintando, trocando azulejos ou talvez até demolindo uma parede. Isso muitas vezes vai contra a vontade do arquiteto, mas acontece de qualquer maneira. Como os usuários virtuais irão habitar e adaptar seus espaços para atender às suas necessidades e gostos pessoais?
FAR: Com meu "chapéu de arquiteto", devo dizer que gosto dessa evolução na arquitetura. Acredito que a arquitetura nunca está finalizada: ela evolui com o tempo, e isso é algo que gostaríamos de enfatizar com o SOLIDS, criando ferramentas as quais permitem que isso aconteça.
Os SOLIDS estão na blockchain e isso nos permite relatar cada transformação em um registro público. Assim, é possível ver quem fez o quê, quando e como. No nosso caso, queremos armazenar toda a história do SOLIDS. Isso é algo bastante interessante para ser explorado dentro da arquitetura.
AD: Para finalizar, por que você acha que vale a pena investir tempo, esforço, recursos e capital no Metaverso? Quais são as grandes vantagens que ele pode trazer para nossas vidas?
FAR: Não dou consultoria financeira. No entanto, acredito que é um novo espaço que se abre para nós e que influenciará a forma como vivemos: criando experiências sociais únicas, oportunidades de trabalho e desafios.
E o mais importante, é hora de darmos forma ao Metaverso que, por enquanto, é um conceito abstrato.