As assinaturas estão rapidamente se tornando parte integrante da vida cotidiana. Por exemplo, as plataformas de streaming substituíram completamente a necessidade de possuir aparelhos de DVD, enquanto que os serviços de veículo por aplicativo suprem parcialmente a necessidade de possuir um carro particular. As assinaturas têm sido amplamente entendidas como serviços digitais, mas uma nova tendência sugere que o mesmo conceito pode ser transferido para objetos físicos em um futuro próximo. Em vez de ter uma geladeira, uma máquina de lavar ou mesmo lâmpadas, pode-se adquirir uma assinatura para garantir a durabilidade dos produtos, roupas limpas e uma casa bem iluminada.
O conceito é conhecido como “economia baseada em assinaturas”, uma variante da noção de “economia circular”. Ele postula que, em vez de possuir alguns dos objetos utilizados diariamente, é possível subscrever um serviço para ter acesso às mesmas vantagens, mas sem a necessidade de possuir, manter ou alienar o objeto em questão. Os consumidores não compram mais produtos; eles compram acesso a serviços. Às vezes, isso significaria simplesmente alugar o objeto em vez de comprá-lo, mas o modelo vai um passo além. Ele traz uma mudança de responsabilidade e mentalidade. Isso porque os consumidores já não são os proprietários dos objetos, a responsabilidade de reutilizar e reciclar recai sobre os produtores, que passam a ser responsáveis por todo o ciclo de vida dos objetos que criam.
A partir deste ponto, o conceito tem pouca conexão com os campos da arquitetura e do design. Embora não possa ser aplicado a todos os aspectos da indústria da construção, uma mudança semelhante de mentalidade pode resultar em um aumento na expectativa de vida útil dos sistemas que tornam os edifícios funcionais e um aumento em nossa capacidade de reutilizar recursos e até mesmo os espaços que construímos.
Isso poderia realmente funcionar?
Em Amsterdã, o Aeroporto Schiphol celebrou um acordo com a Philips Lighting e a empreiteira Cofely. Sob o lema de “iluminação como serviço”(light-as-a-service), o aeroporto paga pela iluminação produzida, enquanto Philips continua sendo a proprietária do equipamento de iluminação. O modelo de negócios não é mais transacional, mas baseado em serviços prestados continuamente. O acordo permite que a empresa instale uma iluminação relativamente cara sem incorrer em altos custos iniciais. Também implica que a Philips e a Cofely são responsáveis pela coleta das lâmpadas e pela reciclagem dos materiais no final da sua vida útil.
De acordo com a plataforma European Circular Economy Stakeholder, o projeto resultou na redução dos custos de manutenção, uma vez que a vida útil dos acessórios aumentou em 75%. A iniciativa também limita o consumo de matéria-prima, pois todos os componentes são reaproveitados ou reciclados no final de sua vida útil.
Acreditamos que cada vez mais empresas com visão de futuro mudarão para um modelo 'light-as-a-service'. Afinal, a maioria de nós está acostumada com esse tipo de modelo – por exemplo, eu bebo água, mas não tenho um reservatório no porão. Muitas pessoas estão acostumadas com modelos pré-pagos. Adicione a isso a considerável economia de energia da tecnologia LED e a sustentabilidade do sistema geral, e a proposta é atraente. — Frank van der Vloed, gerente geral da Philips Lighting Benelux para a revista LEDs
Nem todas as iniciativas tiveram o mesmo grau de sucesso. Na década de 1990, a Interface, uma empresa de pisos comerciais com sede nos Estados Unidos, tentou mudar seu modelo de negócios de venda para sistemas de aluguel de pisos. Por uma taxa mensal, a empresa instalaria, manteria e removeria o piso na tentativa de manter os materiais fora dos aterros sanitários e reciclar as valiosas matérias-primas disponíveis nos tapetes descartados. Depois de sete anos, a Interface foi forçada a abandonar o modelo, pois a maioria de seus clientes preferia comprar em vez de alugar seus pisos, conforme relatado pela Harvard Business Review. A manutenção dos carpetes ficou a cargo dos serviços de zeladoria, tornando os custos invisíveis para os clientes, ao contrário da onerosa mensalidade.
As estratégias por trás da economia de assinatura
Um dos princípios-chave do modelo de assinatura é o fato do produtor manter a propriedade do produto. Isso o torna responsável pela manutenção e descarte do produto no final de sua vida útil. Para o consumidor, isso alivia o fardo de encontrar instalações de reciclagem ou alternativas de descarte responsável. Para o produtor, esta é uma oportunidade de extrair o valor embutido ainda contido no produto. Esse valor depende da complexidade do produto e da infraestrutura necessária para coletá-lo e extraí-lo.
O modelo de assinatura também incentiva a extensão da vida útil do produto. Quanto mais tempo dura um produto, menor a necessidade de substituição. Em um modelo econômico não circular, os produtores tendem a criar a chamada “obsolescência programada”: em outras palavras, produtos de baixa durabilidade e difíceis de consertar, forçando o consumidor a comprar um novo produto. Em um modelo circular, isso não é mais vantajoso para nenhuma das partes. Os produtos também são projetados para desmontagem e reciclagem a fim de facilitar o processo de reintegração dos materiais em uma nova linha de produção.
Conexões com arquitetura e design
Em escala urbana ou arquitetônica, o modelo de assinatura compartilha semelhanças com conceitos como modularidade ou reutilização adaptativa. Em menor escala, as áreas mais propensas a serem desenvolvidas por meio desse modelo são provavelmente instalações, iluminação, ventilação e climatização. Esses sistemas integrados podem ser facilmente entendidos como serviços, alguns deles contendo elementos consumíveis que ainda possuem materiais de alto valor. Os acabamentos internos podem ter algum potencial, mas também enfrentam alguns problemas. No exemplo anterior dos carpetes da Interface, o produto era difícil de ser coletado e continha baixo valor embutido, dificultando a implementação da estratégia. Tornar o modelo mais viável em nível institucional ou privado depende do tipo de negócio e serviço prestado.
O modelo de assinatura aborda os princípios da economia circular: reutilização, reciclagem e extensão da vida útil dos objetos. Ele traça um caminho rumo a esses objetivos, dividindo a responsabilidade e criando situações "ganha-ganha" a partir de um modelo de negócios viável. A estratégia tem suas limitações, claro. Não pode ser aplicada a todos os aspectos da produção arquitetônica e, em algumas áreas, espera-se que encontre um certo grau de resistência do público. Mas, no geral, deve ser entendida apenas como uma das muitas versões de circularidade que podem ser aplicadas ao processo de construção de nossos ambientes. Outros modelos incluem a produção de materiais inovadores para reincorporar resíduos, a criação de componentes de construção reutilizáveis e escaláveis sob demanda ou os projetos pensados para desmontagem.
Este artigo é parte dos Temas do ArchDaily: Economia Circular. Mensalmente, exploramos um tema em profundidade através de artigos, entrevistas, notícias e projetos de arquitetura. Convidamos você a conhecer mais sobre sobre os temas do ArchDaily. E, como sempre, o ArchDaily está aberto a contribuições de nossas leitoras e leitores; se você quiser enviar um artigo ou projeto, entre em contato.