Se pararmos para pensar, a maioria dos alimentos que vemos em nosso prato possui uma história marcada por um longo trajeto que somos incapazes de descrever. Robyn Shotwell Metcalfe, em seu livro Food Routes: Growing Bananas in Iceland and Other Tales from the Logistics of Eating (2019), cita como exemplo a improvável rota dos peixes que são pescados na Nova Inglaterra, exportados para o Japão, e depois enviados de volta como sushi, revelando uma grande e complexa rede invisível aos olhos de quem compra a bandeja de comida japonesa no mercadinho da esquina.
Como já explicamos em um artigo publicado anteriormente, o conceito da modulação na arquitetura se traduz na adaptação de um projeto a um módulo definido, seja a partir de uma medida específica utilizada como base ou das dimensões de determinado material construtivo.
Atrelada à esse conceito, mas fundamentada ainda em outras definições, as construções modulares partem do estudo prévio e da previsão de módulos pré-fabricados transportáveis para montagem no local da construção, motivo pelo qual costumam ser concluídas de forma mais ágil e eficiente quando comparadas àquelas tradicionais.
Videos
TECLA, 3D Printed Habitat by WASP and Mario Cucinella Architects. Image Cortesía de WASP
Uma recente colaboração entre a equipe de Mario Cucinella Architects (MC A) e a WASP, especialistas em impressão 3D na Itália, resultou na primeira construção impressa que usa um material natural, reciclável e neutro em carbono: terra crua. O protótipo de habitação circular se chama TECLA e foi construído em Massa Lombarda (Ravenna, Itália), por meio de múltiplas impressoras 3D sincronizadas para funcionar ao mesmo tempo.
Em um recente artigo publicado no Common Edge, discuti brevemente um conceito que chamo de “mentira tripla”, que é a idéia de um sistema econômico “saudável” alimentado por um número crescente de pessoas, as quais consumirão cada vez mais—e que este sistema continuará funcionando perfeitamente ad infinitum. Ao longo de sua história, os Estados Unidos se apegaram à ideia de um crescimento econômico infinito, e muito disso se deve ao fato que esta ilusão opera como uma espécie de ópio para o povo, dissimulando o conflito de classe. No entanto, “a mentira tem pernas curtas” e como todos nós sabemos, estamos nos aproximando do limite finito do crescimento, tanto do ponto de vista dos recursos (estamos esgotando nossas matérias-primas) quanto do ponto de vista tecnológico (nossas invenções estão se tornando cada dia menos revolucionárias).
https://www.archdaily.com.br/br/956944/o-paradoxo-do-desenvolvimento-sustentavel-sem-fimChristopher L. Cosper
The Master Plan of the Radiant City. Image Courtesy of LE CORBUSIER FOUNDATION
Ao longo da história, reformadores religiosos e arquitetos-estrelas visionários tentaram imaginar o futuro de nossas cidades: da cidade modelo veneziana de Palmanova ao complexo habitacional de vários andares para 5.000 pessoas desenhado pelo arquiteto italiano Paolo Soleri, da Broadacre City de Frank Lloyd Wright a Ville Radieuse de LeCorbusier, vários planos foram elaborados para ilustrar algumas das ambições sem precedentes.
No apogeu do modernismo, arquitetos como Le Corbusier e Mies van der Rohe exaltaram o valor estético das superfícies brancas, que eles viam como uma conotação de pureza e simplicidade. A Casa Farnsworth de Mies van der Rohe, por exemplo, combinou a brancura despojada de seu esqueleto estrutural com amplas esquadrias do chão ao teto, usando a luz natural envolvente para elevar ainda mais as aspirações já celestiais do espaço. Hoje, alguns arquitetos e designers contemporâneos desenvolveram a estética sublime da arquitetura moderna de alta tecnologia usando divisórias com tecidos translúcidos, complementando a pureza das paredes brancas com o jogo etéreo de luz e sombra dos tecidos. Abaixo, discutimos diferentes estratégias projetuais para trabalhar com tecidos brancos dessa forma e incluímos dois exemplos de projetos que usaram tecidos translúcidos de maneiras suaves, mas inovadoras.
https://www.archdaily.com.br/br/957079/atmosferas-brancas-criando-espacos-calmos-com-divisorias-de-tecidoLilly Cao
Presentes em diferentes contextos – de orlas fluviais, áreas costeiras ou inseridos na malha urbana – parques lineares representam uma tipologia muito particular de espaço público que, de partida, evoca a ideia de um vetor e, consequentemente, o sentido de movimento. Nem por isso limitam-se a atividades e programas associados à passagem e deslocamento, mostrando-se uma instigante solução para a carência de espaços de lazer, contemplação e permanência nas mais variadas situações urbanas.
A seguir, reunimos 12 exemplos de parques lineares construídos em diferentes partes do mundo, ilustrados por fotografias e pelos desenhos de suas plantas.
Quando pensamos em concreto, a cor cinza geralmente nos vem à cabeça. O traço tradicional do concreto, que leva cimento, brita, areia e água pode apresentar variações por conta dos seus elementos compositivos, mas sempre varia entre o cinza claro e o escuro. No entanto, um recurso que vem sendo cada vez mais utilizado é o de agregar pigmentos a essa mistura, para se alcançar cores variadas na aparência final da obra, já que tornam todo o concreto, por dentro e por fora, colorido. Essas tonalidades decorrem da adição de óxidos: as cores amarelo, vermelho e suas derivações (marrons) são obtidas com a adição do óxido de ferro, enquanto que o óxido de cromo e de cobalto criam o efeito de cor verde e azul, respectivamente. Para o concreto preto, geralmente inclui-se óxido de ferro preto e óxido de carbono, combinados com cimento pozolânico .
Ao redor do mundo, uma nova geração de arquitetos está questionando a “velha maneira de se fazer arquitetura”, trazendo consigo mudanças consideráveis para o nosso meio, especialmente no que se refere às camadas mais pobres da população, que antes não tinham acesso ou sequer condições de aceder ao serviço de profissionais. Este é o primeiro de uma série de artigos nos quais pretendemos apresentar e debater de que forma esta nova prática está transformando o campo de ação de muitos arquitetos e arquitetas ao redor do mundo. A arquitetura Do-It-Together é uma prática fundamentada no respeito mútuo entre as partes envolvidas e procura estabelecer processos colaborativos baseados na confiança entre arquitetos e clientes.
https://www.archdaily.com.br/br/957126/por-que-o-do-it-together-pode-ser-a-solucao-para-muitos-problemas-da-arquiteturaArchitecture in Development
Muitas vezes não consegui decifrar se uma construção cheia de árvores se encaixa bem na categoria de arquitetura sustentável. Da mesma forma, já tive que argumentar com amigos ou familiares, ou seja, pessoas que não estão familiarizadas com a ideia de infraestrutura verde, que essas edificações podem estar muito longe de serem realmente sustentáveis.
Atualmente, o marketing feito em cima da ideia de arquitetura sustentável está, em grande medida, ligado ao greenwashing. Não há mais uma lacuna clara entre o que pode ou não contribuir para a criação de ambientes mais saudáveis. Quando trazemos essa inquietação para a tipologia residencial, isto é, o tipo de arquitetura mais produzido no planeta, a questão se torna realmente preocupante. Então nos perguntamos: o que torna uma casa "verde"?
Um dos aspectos mais desafiadores dessa mudança será atender às crescentes demandas de resfriamento de uma maneira ecologicamente correta. O resfriamento é inatamente mais difícil do que o aquecimento: qualquer forma de energia pode se transformar em calor, e nossos corpos e máquinas geram calor naturalmente, mesmo na ausência de sistemas de aquecimento ativos. O resfriamento não se beneficia igualmente da geração espontânea, tornando-o frequentemente mais difícil, mais caro ou menos eficiente de implementar. O aquecimento global e seus efeitos de aquecimento muito tangíveis apenas exacerbam essa realidade, intensificando uma demanda já acelerada por sistemas de refrigeração artificial. Do jeito que estão, muitos desses sistemas requerem grandes quantidades de eletricidade e dependem fortemente de combustíveis fósseis para funcionar. O setor de construção deve encontrar maneiras de atender à crescente demanda por refrigeração que, simultaneamente, elimina esses efeitos insustentáveis.
https://www.archdaily.com.br/br/956290/resfriar-os-interiores-sera-o-desafio-arquitetonico-do-futuroLilly Cao
Em poucos anos, o arquiteto e engenheiro ítalo-argentino Francisco Salamone projetou e construiu mais de 60 edifícios em diferentes cidades da província de Buenos Aires. Entre 1936 e 1940, promover o crescimento e o desenvolvimento dos municípios do interior de Buenos Aires por meio de obras públicas foi uma estratégia do governo local. Com liberdade para projetar – de mobiliário urbano até praças e edifícios públicos, entre os quais cemitérios em estilo art déco, matadouros e prefeituras – Salamone revelou a busca de uma identidade monumental para o Estado.
Desde que as cidades existem, surge uma questão fundamental para o seu futuro: "O que torna as áreas urbanas desejáveis?" Mais da metade dos habitantes do mundo vive em cidades e esse número deve aumentar na próxima década, com mais de 5 bilhões de pessoas vivendo em centros urbanos em todo o mundo. Para se preparar para essa demanda, as cidades estão encontrando maneiras de ser mais desejáveis e atrair talentos para grandes e pequenas empresas, enquanto encontram outras maneiras de criar oportunidades de vida igualitárias para todos.
Compreender os motivos que engendram desigualdades econômicas e sociais em nossa sociedade é um dos tópicos mais controversos e amplamente debatidos no campo do urbanismo. É evidente que esta é uma questão complexa, onde muitos fatores devem ser considerados—sendo um deles a localização e acessibilidade às áreas verdes em uma cidade. Embora parques urbanos sirvam como espaços de convívio e lazer, construindo comunidades, seus benefícios para a saúde pública nem sempre compensam. Em muitos casos, a instalação de áreas verdes se dá às custas de um amplo processo de gentrificação e expulsão das comunidades mais pobres. Neste contexto, nos cabe pensar em soluções que nos permitam construir cidades melhores, mais verdes e principalmente, mais inclusivas e portanto, menos desiguais.
Respondendo ao desafio de projetar um espaço para o lançamento da coleção Prada FW Menswear 2021, de Miuccia Prada e Raf Simons, Rem Koolhaas e AMO projetaram quatro salas geométricas interligadas que permitem a circulação contínua dos modelos apresentando suas diferentes peças. O tema geral do design centra a estimulação sensorial. Tal como as criações apresentadas, os materiais utilizados e a sua distribuição pelo espaço falam de uma ligação mais íntima com o nosso entorno, lembrando-nos que a moda e a arquitetura são mais do que um contentor funcional; eles são uma oportunidade para excitar e provocar ativamente nossos sentidos.
Com base nos principais acontecimentos do ano passado, o ambiente arquitetônico, as cidades e as necessidades das pessoas dentro dela parecem ter mudado. Diferentes reflexões arquitetônicas e soluções de projeto foram propostas, mostrando como os eventos globais são capazes de ultrapassar os limites da profissão, ampliando nossa responsabilidade, e também nossas oportunidades em contribuir para a melhoria da qualidade de vida de diferentes formas. No ArchDaily, continuamos a nos conectar com arquitetos e designers de todo o mundo e compartilhamos diversas obras, todas exibindo implementações relevantes e soluções arquitetônicas que tenham um impacto em nossa comunidade.
Em resposta às obras publicadas, analisamos diferentes comportamentos do leitor que indicam como a produção arquitetônica pode realmente ter um impacto sobre profisisinais da arquitetura e não profissionais em todo o mundo. Isso nos levou a criar o Relatório Anual de Arquitetura do ArchDaily, que analisa as tendências e tópicos mais populares no mundo da arquitetura no ano passado, em um esforço para compreender, discutir e prever as tendências para 2021.
Paraty, Rio de Janeiro. Foto de Angus McIntyre. Licença CC BY-NC 4.0
O período compreendido entre o século XVI e início do século XIX no Brasil, conhecido como Brasil Colônia, tem início a partir do momento em que os portugueses invadem o território brasileiro e impõem o processo de colonização. Na arquitetura e no urbanismo, esse processo será responsável por uma série de padrões que moldaram, ao longo dos séculos, a arquitetura e as cidades no país.
Com a chegada dos portugueses, surgem as primeiras instalações dos colonizadores no território brasileiro, caracterizadas sobretudo pela sua precariedade e insuficiência na defesa de outros invasores. A partir da decisão da Coroa portuguesa de dividir as terras em capitanias hereditárias administradas por donatários, começam a surgir vilas e aglomerados urbanos.
Nos últimos anos, órgãos públicos, arquitetos e urbanistas de todo o mundo têm cada vez mais discutido o futuro das cidades, buscando refletir sobre os rumos que o urbanismo contemporâneo deverá tomar como enfrentamento do emaranhado de problemas - urbanos e sociais - enfrentados. Mas, uma das perguntas que parece prevalecer no imaginário dos profissionais é como criar espaços capazes de melhorar a qualidade de vida e saúde do espaço público sem a necessidade de obras de grande escala.
A partir disso, alguns movimentos vêm surgindo na tentativa de aplicar simples ações que possam colaborar para o desenvolvimento de “novos” espaços públicos em resposta a necessidade imediata de espaços urbanos de qualidade. Tais ações têm apontado que as cidades do futuro serão cada vez mais convidativas, num manifesto de aproximação do pedestre à rua. São exemplos destas ações, a implementação de parklets; o fechamento de algumas avenidas e impedimento da circulação de veículos por algumas horas, abrindo-as ao pedestre e transformando as mesmas em áreas livres como parques urbanos temporários; a implantação e extensão de novas ciclovias; jardins verticais urbanos; e também, dos Pocket Parks.
Enquanto um espaço eminentemente hegemônico, em que os homens brancos cisgênero representaram ao longo do tempo e ainda representam a maioria nas posições de maior prestígio — desde as lideranças de grandes escritórios às premiações internacionais, como o Prêmio Pritzker —, a prática arquitetônica tradicionalmente tem invisibilizado a trajetória e experiência profissional de muitas arquitetas.
Manual de Desenho Urbano e Obras Viárias. Imagem: Divulgação
As cidades estão em constante transformação. Se orientadas por premissas parciais ou desatualizadas, as modificações no espaço urbano tendem a imprimir esses equívocos no território. Quando guiadas por uma visão comum que priorize a segurança das pessoas e a mobilidade ativa, essas intervenções têm o potencial de orientar a transformação da cidade em um lugar mais democrático, acolhedor, caminhável e seguro. É para esta cidade que aponta o novo Manual de Desenho Urbano e Obras Viárias de São Paulo.
https://www.archdaily.com.br/br/956907/5-inovacoes-do-novo-manual-de-desenho-urbano-e-obras-viarias-de-sao-pauloDiogo Lemos, Andressa Ribeiro e Fernando Corrêa
Os jardins sempre estiveram presentes nas composições arquitetônicas como testemunhas do momento cultural, do status e da religiosidade dos povos. Entretanto, há algumas décadas, é possível perceber um fortalecimento dessa relação entre arquitetura e espaços verdes. Uma situação que culminou em 2020, com grande aumento do protagonismo dos ambientes verdes, muito relacionado a pandemia do Covid-19 e o isolamento social que ela tem provocado. Nesse sentido, relação da casa com jardim se consolidou, de pequenos vasos em apartamentos no centro das cidades a exuberantes projetos paisagísticos dentro e ao redor de residências, representando – em diversas escalas – a busca pela reconexão com a natureza.
Ancestral, vernáculo, minimalista e harmonioso. Para muitos, essas palavras definem a arquitetura do Japão, um país que há muito tempo serve como fonte de inspiração cultural e tecnológica para inúmeras sociedades em todo o mundo. As técnicas populares japonesas atingiram até os cantos mais remotos do mundo, ganhando força em vários campos que variam de artesanato técnico à inovação digital. Dentro do campo da arquitetura, a apropriação e a reinvenção de vários materiais e sistemas de construção - como o uso de madeira carbonizada nas fachadas - tem sido um tema duradouro.
Muitas das expectativas que projetamos para o futuro das cidades estão mudando, principalmente à medida que nos deparamos com os atuais, e cada dia mais urgentes, desafios globais—da crise climática a como viveremos juntos.
“Quanto custa uma linha de metrô?” é uma pergunta feita com frequência quando se discute soluções ferroviárias de alta capacidade para cidades brasileiras. No entanto, o custo da implementação de projetos ferroviários varia enormemente em diferentes geografias globais.
Por exemplo: uma linha ferroviária em Nova York custa cerca de vinte vezes mais por quilômetro que uma linha em Seul, chegando ao orçamento de U$6,4 bilhões para um trecho de apenas 2,6 quilômetros na segunda fase do metrô Second Ave., ao norte da ilha de Manhattan. A questão geográfica, ou mesmo da alta densidade construída da metrópole americana, são respostas insuficientes para justificar tamanha disparidade em custos de construção.