O conceito Freespace, definido para esta edição da Bienal de Arquitetura de Veneza, é questionado no Cruising Pavillion e seus representantes declaram que o mesmo falhou ao não questionar "a produção heteronormativa do próprio espaço", o que nos leva a pensar: como podemos falar de um espaço livre se não considerarmos todos aqueles espaços invisíveis e ilegítimos de nossas cidades?
O arquiteto Rafael Pina Lupiáñez a partir do Coletivo ARKRIT, reflete acerca da residência unifamiliar entendida como um manifesto experimental por parte do arquiteto moderno, na qual se materializam suas teorias, tendências e inquietudes, tudo isto baseado em uma estreita e cúmplice relação com o cliente. Junto à comparação de duas casas realizadas em Quito, Equador, por parte dos arquitetos Daniel Moreno e Sebastián Calero, este artigo pretende exemplificar como a residência pode ser o cenário perfeito para unificar a experiência projetual, a participação do cliente, a preocupação com o meio, a reutilização de materiais de descarte e outros planejamentos éticos contemporâneos.
Há algo irresistível no romance arquitetônico de Robert Venturi e Denise Scott Brown. Eles se conheceram quando ambos eram jovens professores da Universidade da Pensilvânia; Scott Brown realizava seminários em planejamento urbano e Venturi dava palestras sobre teoria da arquitetura. Como diz a história, Scott Brown argumentou em sua primeira reunião do corpo docente que a magistral biblioteca gótica veneziana de Frank Furness não deveria ser demolida para se construir uma praça (então uma opinião dissidente). Venturi se aproximou dela após a reunião, oferecendo seu apoio. Como Paul Goldberger escreveu sobre o casal em 1971, “à medida que seus pontos de vista estéticos se aproximavam cada vez mais, o mesmo acontecia com os seus sentimentos.” Nós, amantes da arquitetura, não podemos fazer nada a não ser esse casal de arquitetos.
'Luz Liquida' é o nome da proposta apresentada por Flores & Prats para a Exposição Internacional da Bienal de Arquitetura de Veneza de 2018. Reconstruindo em meio ao Arsenale di Venezia um fragmento em escala 1:1 da abóbada da Sala Beckett, originalmente construída na cidade de Barcelona, Eva Prats e Ricardo Flores buscam proporcionar aos visitantes a experiência física de um espaço distante, que descansa agora sob o céu de Veneza.
Nada mais racional que aproveitar a iluminação solar natural como garantia para melhorar a qualidade espacial de seus projetos, além de economizar energia. A consciência da finitude dos recursos naturais e demandas por redução do consumo energético têm diminuído cada vez mais o protagonismo de sistemas artificiais de iluminação, de modo que arquitetos tem buscado assumir novos posicionamentos na concepção projetual, apropriando-se determinados sistemas construtivos no aproveitamento dos recursos naturais. Nesse diálogo, diferentes tipos de artifícios têm sido adotados para a captação lumínica natural.
Tais sistemas podem ainda garantir excelentes propriedades espaciais se projetados corretamente. Conheça, a seguir, 5 sistemas indispensáveis à iluminação zenital:
A Primeira Revolução Industrial aconteceu no Reino Unido no final do século 18 com a mecanização da indústria têxtil. Nas décadas seguintes, em vez de construir coisas apenas com as mãos, espalhou-se pelo mundo o uso de máquinas.
A Segunda Revolução Industrial começou nos Estados Unidos no início do século 20 com a linha de produção em série, na chamada Era da Produção em Massa.
Vivemos agora uma nova revolução na indústria, amparada pela cultura e tecnologias digitais, que tem como um de seus importantes catalisadores as impressoras 3D. E, acredite, você ainda vai ter uma. Com preços cada vez mais acessíveis, uma máquina dessas é capaz de imprimir objetos tridimensionais. A técnica mais comum é a que deposita e cola, layer a layer, grãos minúsculos de algum material, como plástico, cerâmica, vidro ou metal.
“Foi naquele lá, olha. Naquele. Tá vendo?” Dona Ana apontava para o apartamento do 7º andar, onde, uma semana antes, havia ocorrido o incêndio. Mais abaixo, no 4º andar, Anastasia, Aécio e Itamar sorriam amarelo num banner eleitoral.
Ninguém sabe como começou o fogo em um dos meio-apartamentos da torre de número 100, ocupado por um catador de papel. Mas o espetáculo que se seguiu aconteceu comme il faut. Pânico, gritos, chamas, luzes, um helicóptero que sobrevoava o local, jornalistas que abordavam supostos feridos e devoravam relatos impossíveis, sirenes, fumaça, comoção, ação.
Esta semana, apresentamos uma seleção das 17 melhores fotografias de pátios internos. Entre as vantagens de incorporar esses espaços nos projetos estão melhores condições de luz natural e ventilação e acesso à natureza. Veja, a seguir, nossa seleção de imagens de pátios fotografados por nomes como Quang Dam, Fran Parente e Pablo Blanco.
Passados 469 anos desde a construção da primeira escola brasileira – erguida em Salvador (BA) por jesuítas que ensinavam leitura, escrita, aritmética e doutrina católica – a arquitetura escolar ainda é indistinguível na malha urbana da maioria das cidades brasileiras. Edifícios inexpressivos e pouco moduláveis, impossibilitados de se comunicar com o território em seu cerco de muros, foram referidos uma vez pela arquiteta Mayumi Souza Lima como “construções (que) podiam se destinar tanto a crianças, sacos de feijão ou a carros, pois são apenas áreas cobertas, com teto e piso”.
A história do Aeroporto Tempelhof de Berlim parece que nunca terá um fim.
Localizado ao sul do tradicional bairro de Kreuzberg e a apenas quinze minutos de bicicleta do centro da cidade, o antigo complexo nazista - contando o terminal, os hangares e seu enorme campo de pouso - ocupa uma área de mais de 400 hectares em um área em pleno desenvolvimento imobiliário da capital alemã. Se estivéssemos em qualquer outra metrópole, esta "mina de ouro" urbana teria sido arrebatada rapidamente há alguns anos, mas, se tratando de Berlim, a apropriação criativa desta histórica estrutra prevaleceu sobre as narrativas de desenvolvimento urbano mais convencionais.
Desde que publicamos o artigo "Continue Falando Kanye: Uma defesa de um arquiteto para Kanye West", involuntariamente me tornei seu defensor. Porém, mesmo que eu queira apresenta-lo como um grande "gênio da criatividade", ele sempre e muito rapidamente, me faz mudar de idéia, seja e suas entrevistas ou tuitando alguma coisa sem muito critério. Invariavelmente, no dia que segue uma de suas cotidianas "tuitadas", minha caixa de e-mails parece que vai explodir com um turbilhão de mensagens com títulos parecidos, "só para irrita-lo" ou "você viu isso?". Minha resposta é sempre a mesma, exatamente como aquela de Michael Che no Saturday Night Live quando indagado a respeito da última grande besteira proclamada por Kanye: “A escravidão foi uma escolha”. Ainda que eu não tenha comentários para esta infeliz colocação, sou obrigado a intervir mais uma vez depois de outra polêmica, agora se referindo ao mundo da arquitetura através do novo empreendimento de sua empresa Yeezy, chamado de "Yeezy Home".
Enquanto contemplávamos o vestíbulo da Biblioteca Laurenziana, recordo-me distintamente de parafrasear Giorgio Vasari: Agradeço a Deus por ter nascido no tempo em que Álvaro Siza está vivo e por ser digno de tê-lo como um mestre em condições tão amistosas. Uma versão muito mais eloquente foi dedicada ao "divino" Miguel Ângelo Buonarroti na original Vida dos mais Excelentes Pintores, Escultores e Arquitectos (1568), no entanto soava igualmente verdadeira na presença do "místico" Siza – epíteto proferido por Eduardo Souto de Moura. Naquele momento, em Florença, o arquitecto da escultura e o escultor da arquitectura encontravam-se metafisicamente face a face sob a forma de uma escada, cuja silhueta viveria para além do tempo, transformada pelo Barroco e reinterpretada por muitos autores – de Charles Garnier até Alvar Aalto – mas talvez por nenhum com mais entusiasmo do que o próprio Álvaro Siza.
Stadium, pavilhão do Chile na Bienal de Veneza 2018, é apresentado através da construção de um modelo em grande escala do Estádio Nacional de Santiago, com o objetivo de ilustrar as políticas habitacionais locais.
A exposição, com curadoria da arquiteta Alejandra Celedón, busca fazer com que esses elementos - frágeis e pesados ao mesmo tempo - contem a história do momento em que os cidadãos "sem-teto" se tornam proprietários pela primeira vez, como "fragmentos simbólicos desta transmutação. "
Escrevendo para o Blog da Fundación Arquia, o arquiteto Adrià Guardiet nos presenteia com uma bela reflexão que apresenta três diferentes perspectivas sobre as arquiteturas inacabadas, aquelas nas quais o tempo e seus habitantes desempenham um papel primordial.
Certos tipos de arquitetura incorporam o tempo como uma importante ferramenta de projeto. Estruturas abertas, dinâmicas, crescentes. Outras buscam inspiração nas pré-existência e acabam por (re)construir a memória do lugar. Para citar apenas alguns exemplos.
Embora o tempo seja um fator onipresente, seu passo indelével nem sempre se faz visível nas estruturas que construímos. Entretanto, neste tipo de arquitetura, o tempo costuma ser muito mais evidente e explícito, principalmente naquelas estruturas incompletas ou inacabadas, seja por razões econômicas, políticas, naturais ou sociais. São aquelas que decidimos chamar de arquiteturas do entremeio. Obras que através de contextos instáveis, encontram um terreno fértil para florescer.
En Reserva, pavilhão do Peru na Bienal de Veneza 2018, tenta mostrar a existência de uma camada milenar escondida na cidade de Lima, revelando sua generosidade urbana e arquitetônica através de diferentes escalas.
A exposição, com curadoria das arquitetas Marianela Castro de la Borda e Janeth Boza e do jornalista Javier Lizarzaburu, apresenta uma grande caixa que é percorrida de maneira perimetral, convidando o visitante a reconstruir as ligações entre o passado e o presente para, então, imaginar o futuro.
Do Blog da Fundação Arquia, a arquiteta Virginia Navarro nos traz um artigo que reflete sobre os motivos e a importância de aproximar as crianças da arquitetura.
Nos últimos anos houve um notável incremento no número de arquitetos que, de forma ocasional ou continua, dedicaram parte de sua atividade à realização de oficinas de arquitetura para crianças. Os objetivos dos mesmos foram tanto relacionados a formação (desenvolver o pensamento crítico acerca do entorno construído, conhecer o patrimônio cultural e urbano, fomentar a inteligência espacial e a criatividade etc.), quanto a informação: recolher dados acerca das necessidades da criança dentro de projetos mais complexos, normalmente de caráter social ou participativo.
Rafael Aranda, Carme Pigem e Ramón Vilalta, vencedores do Prêmio Pritzker 2017, estão presentes na Bienal de Veneza 2018 com o projeto "Dream and Nature" [Sonho e Natureza], representante da Catalunha, com co-curadoria da jornalista Pati Núñez e do arquiteto Estel Ortega.
Como parte dos eventos paralelos da Bienal, a instalação apresenta as pesquisas, ideias e sonhos por trás de seu projeto de reconversão de La Vila, no Vall de Bianya (Girona):
O objetivo é que quem visita o espaço sinta um imenso desejo de conhecer La Vila, além de perceber a força da natureza, uma força que pode transformá-lo. Gostaríamos de tornar El Sueño uma experiência muito sensorial.
Pensemos numa folha de papel. Caso haja a tentativa de deixa-la em pé a partir de seu estado primário, a mesma não sustentará seu peso próprio. Contanto, se a curvarmos ou dobrarmos, a mesma atinge uma nova qualidade estrutural, suportando seu próprio peso. Da mesma forma, agem as cascas. “Não se pode imaginar uma forma que não necessite de uma estrutura, ou uma estrutura que não tenha uma forma. Toda forma tem uma estrutura e toda estrutura tem uma forma. Dessa maneira, não se pode conceber uma forma sem se conceber automaticamente uma estrutura e vice-versa.” [1] A importância do pensamento estrutural que culmina no objeto construído é então, tida pela relação entre forma e estrutura. A partir da associação do concreto e do aço, destacam-se as cascas, estruturas cujas superfícies curvas contínuas apresentam pequena espessura, se comparada às outras dimensões, frequentemente utilizadas em grandes coberturas e não permitindo esforços pontuais.
As cascas são estruturas muito utilizadas para coberturas de grandes vãos sem apoios intermediários. Em termos estruturais, são eficientes por resistirem muito bem a esforços de compressão, podendo, em pontos específicos de sua superfície, principalmente próximos aos apoios, absorverem pequenos momentos de flexão.
As ferramentas digitais aplicadas à arquitetura estão se tornando cada vez mais confiáveis. A tecnologia BIM (Building Information Modeling), a realidade aumentada e a realidade virtual estão sendo rapidamente incorporadas pela indústria da arquitetura. Soma-se a isso os esforços e investimentos cada vez maiores que as empresas do ramo da construção civil têm dedicado para marcar sua presença na internet. Como resultado disso, muitos escritórios de arquitetura tem iniciado a explorar também estratégias de marketing digital.
A produção de conteúdo é o principal fundamento para que um negócio possa ser bem sucedido na rede. Quando trata-se de escritórios de arquitetura, o que significa exatamente "criar conteúdo"? Através destes quatro exemplos pretendemos apresentar diferentes maneiras para gerar receita com projetos e/ou divulgado-los na internet. Ainda que seja impossível elencar todas as diferentes maneiras possíveis de desenvolver um negócio on-line, estes quatro exemplos utilizam a experiência e a trajetória de cada escritório para alavancar múltiplas possibilidades em mundo que está se tornando cada dia mais digital.
Becoming, pavilhão da Espanha na Bienal de Veneza 2018 procura responder ao tema geral do evento por meio das propostas e pesquisas que estão sendo desenvolvidas nos diferentes entornos de aprendizagem dentro do país, enfatizando especialmente o novo perfil multidisciplinar do arquiteto/a.
A exposição, organizada pela arquitetura Atxu Amann, ocupou a maior parte do orçamento ao restaurar o edifício em que está situada, "tatuando" suas paredes interiores para carregá-las de 143 propostas que se unificam através de 52 conceitos relevantes para nossa disciplina na atualidade.
Estou sentado em um movimentado café com o arquiteto indiano Jitendra Vaidya. Quando comecei minha vida como estagiário de arquitetura no final dos anos 90, Jitendra era um dos projetistas técnicos mais experientes que eu conhecia. Igualmente confortável pesando os méritos relativos de vários detalhes brilhantes enquanto discute conceitos projetuais abstratos, Jitendra é um arquiteto universal da velha escola. Depois de mais de meio século em uma profissão famosa por prazos apertados, Jitendra ainda mantém um brilho alegre em seus olhos quando fala sobre arquitetura. Então não é nenhuma surpresa que Jitendra esteja visivelmente animado hoje, enquanto ele me conta sobre seu professor, o homem que acabou de ser reconhecido como um dos maiores arquitetos vivos do mundo, B.V. Doshi.
O Prêmio Pritzker - a mais alta honra da profissão - a ser concedido a um urbanista acadêmico de 90 anos que passou sua longa carreira ensinando principalmente estudantes de arquitetura e atendendo a comunidades pobres na Índia é um desenvolvimento impressionante. Para ser justo, a caricatura dos vencedores do Pritzker como arrogantes, Euro-Americanos, Starchitects, é exagerada e desatualizada. Os vencedores recentes, como Alejandro Aravena, Wang Shu e Shigeru Ban, estão ligados em sua mútua dedicação em servir as comunidades pobres e deslocadas através de projetos inovadores e culturalmente autênticos. Mas mesmo aceitando essa nuance, Doshi é fundamentalmente diferente dos vencedores recentes.
Caminhar por São Paulo sem ver carros e caminhões me deixa com uma felicidade quase real, imaginando por um instante que a cidade deu certo, que o sonho de Jane Jacobs se realizou. E, com sincronia, um outro sentimento estético aflora inevitavelmente, uma sensação de “fim do mundo”. Este segundo impulso, se materializa num pensamento construtivo que não tem nada a ver com o fatalismo moral ou ainda menos a tragédia. Simplesmente é o fim de um mundo no qual a revolução industrial junto ao capitalismo liberal nos “educou” por dois séculos a aceitar. Este foi o mundo dos “recursos” naturais infinitos, do sonho da fartura energética e desejos de consumo voraz. Sonhos que nem eram nossos.
Capaz de transformar uma fachada ou se moldar na forma de telhado escultural, as estruturas tensionadas testam os limites da nossa imaginação (e a compreensão da geometria). O conjunto de fotos desta semana apresenta estruturas que dependem de cabos, pontos de ancoragem, pilares e membranas para criar espaços amplos e, muitas vezes, dramáticos. Sombras marcadas e curvas acentuadas tornam as estruturas tensionadas particularmente fotogênicas, como se pode ver nessas fotografias de Christopher Frederick Jones, Plissart Marie-Françoise, Yoshihiro Koitani, entre outros.