O ArchDaily apresentou seu tema mensal de julho — processos projetual — e não perdeu a oportunidade de abrir a discussão sobre como o uso de tecnologias está sendo incorporado à forma de fazer arquitetura. Embora a disciplina venha avançando há anos em campos como inteligência artificial (IA), realidade virtual (RV), modelagem paramétrica, BIM e outras ferramentas de ponta, sua implementação e sistematização nos processos cotidianos de projeto ainda são lentas.
Ao longo do mês, realizamos uma chamada aberta para ouvir as experiências e aprender com nossos leitores, explorando juntos como as últimas inovações estão transformando o desenvolvimento da profissão. Depois de revisar uma quantidade imensa de comentários e opiniões, foi surpreendente encontrar concordâncias sobre como filtramos e atualizamos as tecnologias que usamos nos processos de projeto. Confira os principais pontos de vista a seguir.
Pedras esculpidas foram as primeiras ferramentas que os hominídeos usaram para transformar seu ambiente. É emocionante imaginar como, desde a Idade da Pedra, e graças ao longo processo evolutivo da humanidade, as ferramentas que usamos evoluíram de pedras simples para sistemas robóticos complexos. Esses avanços representam uma revolução nos métodos de produção, tanto no nível industrial atual quanto em escala local.
Tecnologias como inteligência artificial (IA) e sistemas de fabricação digital têm sido percebidas como ameaças que substituem o trabalho, variando de acordo com o contexto. Na América Latina, a fabricação manual é profundamente enraizada, especializada e com bom custo-benefício em alguns setores, tornando a substituição digital menos urgente. Em contraste, biomateriais derivados de fungos ou resíduos agrícolas oferecem alternativas de construção ambientalmente amigáveis, promovendo sustentabilidade e economia circular. Isso estimula discussões significativas sobre o potencial da fabricação digital, exigindo uma compreensão dos recursos e desafios locais. Portanto, isso estabelece as bases para biomateriais que preservam a identidade ao oferecer soluções para questões locais.
https://www.archdaily.com.br/br/1005120/fabricacao-digital-e-biomateriais-na-arquitetura-fusao-de-identidade-e-tecnologiaEnrique Tovar
A divulgação recente dos primeiros resultados do Censo 2022 é fabulosa para qualquer pessoa que acredita no uso de dados para orientar negócios e políticas públicas. O debate sobre eles já começou, e o impacto real será de longo prazo. Da política habitacional à representatividade legislativa, muita coisa pode mudar em função dessa pesquisa. Mas cautela e canja de galinha nunca fizeram mal a ninguém, dizem com razão — apesar de não gostar do segundo.
Não é novidade que a questão de gênero permeia toda a nossa organização como sociedade e sistema, refletindo diretamente a dualidade dos "papéis femininos e masculinos" e seus mecanismos de opressão de gênero. No âmbito da arquitetura e do urbanismo isso não é diferente. Ao longo dos séculos, as cidades e suas edificações têm se mantido e se transformado de forma a priorizar as demandas de um perfil bem específico de usuário. Tal estrutura, obviamente, não considera outras identidades e formas de apropriação, ou seja, a demanda real e toda a sua diversidade de classes sociais, gênero, cores, faixas etárias, orientações sexuais, etc. São planejamentos e projetos disfarçados de uma concepção “neutra”, mas que na verdade reproduzem o olhar de um homem branco de classe média.
O projeto +Lapena Habitar, uma parceria da Fundação Tide Setubal e do BlendLab, busca contribuir para a transformação urbana de bairros periféricos por meio de um novo modelo de produção de habitação de interesse social (HIS). Partindo de um processo iniciado em 2020, as instituições vêm desenvolvendo um projeto piloto na Zona Leste de São Paulo de oferta e gestão de moradia que incorpora aspectos de desenvolvimento urbano, arquitetura, estratégias de acesso à moradia de qualidade, processos pré e pós ocupação, participação social, modelo de aluguel, gestão coletiva, modelo de negócio e financiamento.
O declínio cognitivo é uma preocupação crescente de saúde pública que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Em meio a uma população que está envelhecendo, estratégias que ajudem a prevenir ou mitigar a deterioração cognitiva se tornam cada vez mais relevantes para apoiar o envelhecimento saudável e a manutenção da independência por mais tempo. Estudos no campo da neurociência aplicada à arquitetura (neuroarquitetura) vêm mostrando que o ambiente físico, tanto interno como externo, público ou privado, desempenha um papel fundamental nesse aspecto [1]. Nesse sentido, arquitetos e urbanistas podem direcionar seus projetos para criar soluções que contribuam significativamente para esse objetivo.
https://www.archdaily.com.br/br/1004870/arquitetura-para-prevencao-do-declinio-cognitivo-contribuicoes-do-espaco-para-o-envelhecimento-saudavelAndréa de Paiva
Estamos vivendo um momento de emergência. Desde o início da industrialização, temos corrido pelos recursos finitos de nosso planeta como se fossem ilimitados, esgotando e desestabilizando os próprios ecossistemas dos quais dependemos para nosso sustento, economia, alimentação, saúde e qualidade de vida.
Em apenas 50 anos, perdemos mais da metade da vida selvagem do mundo. No momento, a Terra está a caminho de aquecer além de 1,5 graus celsius, o que os cientistas alertam ser um limite planetário rígido para os ecossistemas existentes na Terra. Este é um “código vermelho para a humanidade”, conforme descrito no Sexto Relatório de Avaliação do IPCC. Continuar em nosso caminho atual significará danificar irreversivelmente as próprias condições que sustentam a vida neste planeta.
A materialidade é um fator determinante para moldar o caráter e a experiência de um edifício. Brincando com as qualidades estéticas e táteis dos materiais, o processo de design abrange sua análise, seleção e arranjo para criar espaços com propósito e ricos sensorialmente. Juntamente com texturas e padrões, explorar a materialidade também envolve o estudo das possibilidades de cores. O papel versátil da cor nos materiais arquitetônicos se estende além da mera estética, pois pode ampliar oportunidades de design e influenciar respostas emocionais, funcionalidade, relevância cultural e desempenho ambiental.
Embora cada material tenha sua cor inerente distinta, a adição de pigmentos artificiais ou naturais pode modificá-los em favor da identidade do projeto. Mergulhando no debate sobre a manutenção da estética crua ou a alteração dos tons naturais de um material, mostramos vários projetos para estudar as diferenças entre o uso de pigmentação natural versus artificial de vidro, concreto, tijolo, pedra e madeira.
O mercado de trabalho na arquitetura e urbanismo é altamente competitivo. A demanda por projetos inovadores, sustentáveis e esteticamente agradáveis é alta, o que impulsiona um ambiente de alta concorrência. Além disso, as mudanças nas tecnologias e as crescentes expectativas dos clientes exigem adaptação constante. Quais são os obstáculos, as oportunidades, os métodos, as “traquitanas e traquinagens” que são necessárias para adentrar na “selva” do empreendedorismo? A partir das experiências dos convidados, este episódio especial propõe um diálogo livre e divertido sobre o tema.
Quando se faz uma bagunça, geralmente é mais fácil levantar as mãos e começar do zero. Mas, embora possa ser mais difícil, o reuso adaptativo — quando a arquitetura pega algo velho e quebrado e o traz de volta à vida — pode trazer benefícios para todos.
Ao planejar edifícios sociais e culturais tão necessários para o uso público, em vez de usar materiais novos (ou mesmo materiais reciclados que precisam ser coletados, desmontados, reformulados e transportados), existem muitos recursos locais já disponíveis: tudo o que precisamos fazer é enxergá-los.
Esses projetos de reutilização adaptativa transformam edifícios desativados, projetos esquecidos e ambientes desprezados em algo novo, trazendo vida e novo propósito.
Aninhada no meio do Mar Egeu, a antiga ilha de Delos surge como um testemunho atemporal da engenhosidade humana e da harmoniosa interação entre arquitetura e natureza nesta série de fotografias de Erieta Attali comentada pelo arquiteto Angelo Bucci. Inspirado pelo trabalho de Attali, Bucci cria uma narrativa que explora a profunda conexão entre arquitetura e o ambiente, ecoando o ethos de Delos.
Desde as cidades gregas antigas até as idealizadas pela Renascença, a história do planejamento urbano é um reflexo das estruturas de poder em evolução e das prioridades da sociedade. A estrutura organizacional de uma cidade está profundamente enraizada nas necessidades culturais e nas relações sociais. O desenvolvimento urbano contemporâneo, por sua vez, é marcado por uma dicotomia — o contraste entre estratégias de planejamento de cima para baixo (top-down), lideradas por entidades influentes e órgãos governamentais, e as iniciativas de baixo para cima (bottom-up), impulsionadas pelas comunidades locais. Essa interação molda as cidades, influenciando desde aspectos da infraestrutura e espaços públicos até os modelos habitacionais e a atmosfera urbana. Investigar as diferenças entre essas estratégias é essencial para a construção de uma paisagem urbana harmônica que atenda às necessidades de seus moradores.
O tecido de nossas cidades é moldado por milhões de pequenas decisões e adaptações, muitas das quais se tornaram essenciais para nossa experiência. Atualmente, considerados como óbvios, alguns desses elementos foram revolucionários na época de sua implementação. Um desses elementos é o rebaixamento do meio-fio (curb cut), uma pequena rampa que desce a calçada para conectá-la à rua adjacente, permitindo que usuários de cadeiras de rodas e pessoas com deficiências motoras se movam facilmente para dentro e para fora da calçada. Essa adaptação aparentemente pequena provou ser inesperadamente útil para uma gama maior de pessoas, incluindo pais com carrinhos de bebê, ciclistas, trabalhadores de entrega etc. Consequentemente, ela empresta seu nome a um fenômeno mais amplo, o "efeito curb cut", no qual melhorias feitas para uma minoria acabam beneficiando uma população muito maior de maneiras esperadas e inesperadas.
Se você não entende o que são defletores, não se preocupe. É para isso que eles estão lá. O objetivo dos defletores é confundir a matéria. Em outras indústrias, são usados para direcionar o fluxo de água, controlar o fluxo de ar e a troca de calor, ou impedir que o tráfego atinja altas velocidades.
Quando utilizados no mundo científico da acústica, os defletores são posicionados para interromper as ondas sonoras em nossos ambientes mais movimentados. Eles captam, absorvem e suavizam o som, seja em áreas naturalmente ruidosas ou especialmente silenciosas. Filtram seletivamente os sons para evitar que retornem. Isso não significa, no entanto, que os defletores não possam dar uma vantagem estética aos interiores, proporcionando um visual muitas vezes interessante.
Willow Technologies é uma empresa voltada para pesquisa de materiais e tecnologias de construção que foi selecionada como parte das Melhores Novas Práticas de 2023 do ArchDaily. Fundada pela arquiteta e cientista ganense-filipina Mae-Ling Lokko, opera na lacuna entre pesquisa, desenvolvimento e difusão de materiais construtivos feitos a partir de biomassa. Trabalhar com resíduos agrícolas e materiais de base biológica levanta questões técnicas relacionadas à escalabilidade, produção industrial, padronização, resistência ao fogo e resistência mecânica. Explorar esses dados é um dos focos da Willow Technologies, que o faz de forma peculiar através da perspectiva de regiões em desenvolvimento na África Ocidental. Por meio de trabalhos abrangentes com coqueiros, moringas, arroz e outras espécies, a prática de Lokko tem sido capaz de investigar e catalogar as características materiais de várias culturas, seus possíveis subprodutos, técnicas locais de transformação e as perspectivas e desafios da escalabilidade como materiais de construção.
A Casa Batlló, localizada na icônica Passeig de Gràcia em Barcelona, Espanha, é uma obra-prima arquitetônica que materializa uma síntese entre criatividade, inovação e a profunda conexão do arquiteto Antoni Gaudí com a natureza. Construída entre 1904 e 1906, essa residência é uma atração turística da cidade e uma contribuição importante para a história da arquitetura. Aqui, analisaremos a Casa Batlló a partir de conceitos envolvidos no campo da neuroarquitetura.
A tonalidade das cores desempenha um papel importante no conforto térmico dos edifícios, influenciando a absorção, reflexão e emissão de energia térmica. Junto da análise do clima local, da orientação solar e das qualidades dos materiais de construção, é possível conceber uma abordagem integrada consoante as pinturas das superfícies que ajuda a economizar até mesmo na conta de luz. Saiba como essas variáveis podem ser combinadas para trabalhar as cores com o desempenho térmico do seu projeto.
Pantone 219C, ou rosa Barbie, é um tom rosa vibrante e brilhante, sinônimo da marca Barbie. Desde a criação da boneca em 1959, pela empresa Mattel, a boneca se associou a esse tom específico de rosa. À medida que a popularidade da Barbie crescia, a associação com a cor rosa também crescia. Com acessórios cor-de-rosa, casas cor-de-rosa, cortes de cabelo cor-de-rosa e embalagens cor-de-rosa, não há Barbie sem o rosa. Além disso, à medida que a boneca se tornava um ícone cultural popular, seu tom icônico de rosa começava a influenciar várias indústrias que não são de brinquedos, como moda, beleza e design de interiores.
As calhas, como o próprio nome diz, são elementos de canalização instalados ao longo dos beirais de telhados e varandas e possuem a função de coletar a água da chuva que escorre na superfície da cobertura e direcioná-la aos devidos condutores. Independentemente do seu material, que pode ser alumínio, PVC, concreto, aço galvanizado, entre outros, seu dimensionamento é fundamental pois, dependendo do clima onde o projeto está inserido, os prejuízos causados por sua aplicação incorreta podem ser consideráveis.
A arquitetura, em geral, é entendida como construção positiva, isto é: tectônica, volume, objeto no mundo. E ela é. Contudo, se alteramos a perspectiva do observador – da vista aérea e longínqua para a interna, de quem ocupa aquele volume –, a noção de objeto no mundo se converte em “mundo” para o ocupante. Além disso, também pode se converter em moldura: o que recorta ou direciona o olhar. De fato, a vista é um quesito de valorização arquitetônica, pois destaca um determinado ângulo do que está fora, e convida o ocupante à contemplação. Os projetos da TETRO Arquitetura evidenciam essa alternância entre forma e recorte.
A neuroarquitetura e a psicologia ambiental são duas disciplinas que se baseiam na relação entre o ambiente físico e o comportamento humano, porém possuem abordagens e aplicações práticas distintas. Conheça as diferenças entre esses campos e suas aplicações práticas nos projetos de arquitetura e design.
Nas últimas décadas, a paisagem residencial da China passou por uma transformação, priorizando as necessidades da rápida urbanização e dos estilos de vida modernos, dados principalmente pelos laços sociais da comunidade. As tradicionais casas com pátio costumavam ativar o ambiente urbano, misturando harmoniosamente zonas residenciais privadas com áreas públicas do bairro. Hoje, o país está cheio de empreendimentos privados e comunidades fechadas que romperam a conexão entre áreas residenciais e o ambiente urbano. Em meio a essa transformação, a Habitação Social de Baiziwan, do MAD Architects, em Pequim, aparece como uma tentativa visionária de criar uma alternativa à vida urbana. Ao abraçar um programa de uso misto, este complexo residencial se integra ao bairro do entorno, promovendo um senso de unidade com a metrópole movimentada. Não limitado apenas à China, numerosos empreendimentos habitacionais em todo o mundo adotaram essa abordagem, restabelecendo seus laços com o ambiente urbano.
No mundo do varejo, a concorrência é acirrada. As marcas buscam distinguir sua presença e criar conexões íntimas com os clientes. Em meio à variedade de produtos que oferecem, as marcas reconhecem o valor de ambientes imersivos que criam identificação e provocam os desejos dos consumidores. Nesse sentido, quando se trata de projetos comerciais, a cor é um poderoso instrumento que permite às marcas articular seus valores, evocar emoções e criar experiências de compra memoráveis na mente de seus clientes. A cor transforma as lojas em algo mais do que espaços para transações — ela faz do design de interiores uma ferramenta de marketing estratégica para atrair e manter os clientes.
Um estudo recente da Nature alerta que a poluição das águas poderá causar uma crise de abastecimento hídrico até o final do século XXI. A qualidade da água será, especialmente, pior em parte da América do Sul, da África subsaariana e do sudeste da Ásia – regiões já vulneráveis. Reverter esse cenário exigirá que autoridades governamentais priorizem o desenvolvimento sustentável. Neste sentido, soluções baseadas na natureza, como é o caso dos jardins filtrantes, podem tornar-se cada vez mais comuns.