Dizem que não importa o que acontece, mas como você vê. Também dizem que a literatura não reproduz a realidade, mas sim cria outra. Tudo começa com uma ideia. Só uma ideia. Imagem e imaginação andam juntas, isso significa que elas constituem o mecanismo para percepção, pensamento, linguagem e memória do homem. E em essência, arquitetura nada mais é do que organizar ideias. A pergunta é: como organizar as ideias? Ou ainda, como você vê as coisas? Existe mesmo percepção sem contexto social e cultural? A resposta curta é não. A resposta longa envolve antropologia interpretativa, um pouco de teoria e muita, muita crítica.
Teoria: O mais recente de arquitetura e notícia
Como a escrita pode mudar a arquitetura?
Ornamento e beleza: entendendo o estilo Rococó
Qualquer historiografia da arquitetura é implicada e incompleta por definição: implicada porque demonstra a interpretação e curadoria dos exemplares daquele que a escreve, e incompleta porque, nessa seleção, exemplos desviantes acabam ficando de fora da linha do tempo “oficial”. Todavia, a possibilidade de rastrear formas, sua aplicação e repetição ao longo de períodos históricos separados por séculos é sempre um bom indício de uma genealogia, uma linhagem que situa exemplares e amplia repertório.
Uma historiografia da arquitetura pode ligar elementos de séculos passados e movimentos entendidos como “superados” com formas e aplicações contemporâneas, criando um campo de relações das quais se pode tirar proveito conceitual e projetualmente. Ao se categorizar alguns estilos, ressaltam-se características marcantes que, postuladas nas fontes bibliográficas, por vezes se emparelham a casos atuais. É o que se pode dizer do rococó, por mais longínqua que a relação pareça.
Arquiteto e teórico Anthony Vidler morre aos 82 anos
O arquiteto, pesquisador e teórico da arquitetura Anthony Vidler morreu na noite de ontem para hoje, 20 de outubro, aos 82 anos, informou a Escola de Arquitetura da Universidade de Princeton. Vidler teve uma carreira sólida na prestigiada instituição, onde atuou como o primeiro diretor do programa de Doutorado em História e Teoria. Seu interesse pela arquitetura, cultivado em Essex, Inglaterra, o levou a obter um diploma graduação e mestrado em arquitetura na Universidade de Cambridge e, posteriormente, um doutorado em História e Teoria da Arquitetura na Universidade de Tecnologia de Delft. Sua carreira influente se estendeu por mais de 50 anos, deixando uma marca profunda na pesquisa e educação arquitetônica.
Devemos considerar a madeira em projetos de habitações de interesse social?
A habitação é uma das principais premissas da arquitetura. Para muitos, o abrigo é um de seus denominadores principais. Dentro das cidades, é pauta premente e complexa. De todo modo, as iniciativas de habitação com interesse social tentam dar conta de abrigar uma parcela considerável da população, para garantir que usufruam dessa premissa-primeira da arquitetura: uma casa.
A sensualidade da curva: o corpo da mulher como inspiração do projeto
A discriminação das mulheres dentro da profissão na arquitetura é um tema que vem sendo abordado com cada vez mais frequência. Inúmeras situações listadas e ilustradas vão desde a discrepância salarial em comparação com os homens, a falta de respeito no gerenciamento de obras e equipes por parte dos funcionários do sexo masculino, a histórica invisibilidade e consequente falta de reconhecimento das mulheres na carreira, entre muitas outras. Diferentes desmotivações as quais fazem com que, mesmo sendo maioria dentro dos cursos de arquitetura pelo mundo, muito poucas são as mulheres que conseguem se consolidar e ganhar destaque dentro da profissão.
Entretanto, o sexismo não para por aí. Além da discriminação sofrida em termos profissionais, é possível perceber a objetificação da mulher também na imagem e nos conceitos arquitetônicos.
A poética da água: significados simbólicos no espaço construído
Em um mundo de texturas, cores e sabores extravagantes, quem diria que uma substância incolor, insípida e inodora é justamente a mais essencial para a existência humana. Antagônica por si só, a água carrega uma ambiguidade de valores e significados os quais lhe conferem um alto grau de complexidade sustentado pelo seu perfil versátil e dissolúvel que a singulariza em uma complexa simplicidade. Nesse sentido, a água, como fonte de vida, ao longo do tempo se tornou tanto um objeto de devoção quanto de estudo, fomentando um esforço contínuo focado em entender, transportar e controlar este elemento.
A história das termas romanas
Dentro da chamada arquitetura canônica, um dos primeiros tratados a se conhecer é aquele de Vitrúvio. Para além de discorrer sobre a formação intelectual e cultural, interesses e sensibilidade do arquiteto, ou sobre a tríade “sagrada” da arquitetura – venustas, firmitas e utilitas (beleza, solidez e funcionalidade) –, o tratado descreve um método projetual, uma espécie de manual para a construção romana à época. Sabidamente complexa e sofisticada, a arquitetura romana apresentava uma variedade de edifícios com funções diversas. Entre eles, as termas, que não escaparam às prescrições vitruvianas.
Churrasco na laje: a história das coberturas planas úteis
Já há algum tempo as coberturas se tornaram espaços de lazer, seja nos grandes edifícios luxuosos, seja nas casas da periferia. Essa condição, porém, não se limita aos nossos tempos. Variando seu uso e sua forma, diferentes culturas em diferentes momentos fizeram o uso das coberturas planas em sua arquitetura, residencial ou não.
O edifício que se moveu: como transportaram uma central telefônica sem suspender suas operações?
Em novembro de 1930, em Indiana, Estados Unidos, uma das grandes façanhas da engenharia moderna foi realizada: uma equipe de arquitetos e engenheiros transportou uma central telefônica de 11.000 toneladas sem nunca suspender as operações e suprimentos básicos para os 600 funcionários que trabalhavam no interior.
Indissociável: Bernard Tschumi e o Pavilhão de Barcelona
Um manifesto, invariavelmente, antevê um trabalho. Ele vem antes, como forma de publicá-lo, transmiti-lo a um maior número de pessoas. Além disso, um manifesto, invariavelmente, pós-vê um manifesto outro. Ele relê um trabalho, para, assim, reescrevê-lo, adequando-o a suas próprias teorias.
Com a crise de toda uma ideologia, o período pós-guerra foi extremamente frutífero para a teoria da arquitetura. Revistas publicavam, com absurda frequência, os mais diversos manifestos. Esses textos são capazes de ilustrar os debates na arquitetura de forma muito mais eficaz que projetos datados do mesmo período. Afinal, como o próprio nome sugere, eram as publicações a principal responsável por tornar públicas as ideias, principalmente porque uma concretização projetual seria impossível. Eram as revistas, portanto, que fomentaram os debates, possibilitando constantes mudanças ideológicas dentro do campo arquitetônico.
As cidades e seus rios no curso da história
Tâmisa, Danúbio, Sena, Nilo, Hudson, todos esses nomes nos rementem imediatamente a cidades especificas. Isso porque discorrer sobre a história do urbanismo é também abordar a relação entre a urbe e o rio, já que este é um elemento natural fundamental em torno do qual muitas cidades se formaram. Tal fato se deve, principalmente, ao caráter utilitário dos cursos d’água que, além de delimitar – e consequentemente proteger – as cidades, serviam para o abastecimento hídrico e transporte de matérias-primas e produtos. O rio assumia, portanto, a função de um estruturador urbano, oportunizando atividades nas suas margens e favorecendo o desenvolvimento econômico e social.
Achando potencial no não fazer: encarando as possibilidades no Edifício Bonpland de Adamo Faiden
Existe, ao estudar arquiteturas indeterminadas, um instinto, quase que natural, de tentar encontrar um rótulo para ela. E, se não um rótulo, uma forma de tentar solucioná-la para que ela possa, mesmo que momentaneamente, ser algo mais concreto. O que acontece se não tentarmos defini-la?
Em 2019, visitei, com alguns colegas, o Edifício Bonpland do escritório argentino Adamo Faiden. Antes de visitarmos, em conversa com amigos, tentei explicar o conceito por trás de muitos edifícios porteños do século XXI. A lógica de ocupação do terreno, que se articula como dois blocos, um frontal e outro traseiro ligados por uma circulação centralizada, os gabaritos e, no caso do edifício Bonpland, uma planta que tinha como elementos estruturais a circulação vertical e os núcleos hidráulicos. Comentei sobre o exercício de indeterminação que existia no prédio e recebi uma resposta muito interessante: fui dito que essa falta de resolução dos layouts dos espaços internos era preguiça dos arquitetos.
Iluminação como linguagem: os significados da luz e da sombra na arquitetura
Imagine se a luz, além de nos permitir enxergar o mundo, fosse também capaz de transmitir informações e significados. Padrões mensuráveis de iluminação natural, traduzidos em níveis de ‘lux’ recomendados para determinadas tarefas, levaram a uma compreensão quantitativa da luz. No entanto, a arquitetura se apropria da luz natural não apenas para cumprir requisitos formais e padrões matematicamente calculados. A iluminação natural é utilizada, sobretudo, para transmitir emoções, revelar espaços e construir atmosferas. Dito isso, poderíamos afirmar que a iluminação é uma forma de linguagem utilizada pelos arquitetos para se comunicar com as pessoas? Desde uma perspectiva semiótica, poderemos melhor compreender como a luz e a sombra contribuem para a construção de significado na arquitetura.
“Arquitetura não exclusivamente para arquitetos”: Ole Bouman fala sobre senso de medida
O historiador, escritor e curador alemão-holandês, Ole Bouman, é hoje uma das figuras mais influentes do mundo da arquitetura. Apesar de nunca ter frequentado uma escola de arquitetura, o outsider e co-curador da 5ª Bi-City Bienal de Arquitetura e Urbanismo de Shenzhen afirmou recentemente que “todos nós podemos fazer arquitetura”. Envolvido até o pescoço no discurso da prática da arquitetura contemporânea, Ole Bouman é diretor e fundador da Design Society de Shenzhen, e um dos responsáveis pela introdução de uma série de novos conceitos no discurso da arquitetura além de ter assumido importantes cargos institucionais relacionados aos profissionais da industria da construção civil ao longo de sua carreira.
Neste tempo, Ole Bouman já foi diretor do Instituto de Arquitetos da Holanda (NAi) e também diretor de criação da 5ª Bienal Bi-City de Arquitetura e Urbanismo de Shenzhen/Hong Kong. Buscando congregar em um só lugar todo o conhecimento adquirido ao longo de sua carreira como historiador, escritor, editor, fotógrafo, curador, conferencista e especialista em projeto de arquitetura, Ole Bouman acaba de lançar uma nova plataforma, um lugar onde “a vida se entrelaça com a história”. Para saber mais sobre o a vida e obra Bouman, e especialmente sobre seu artigo recentemente publicado, “Finding Measure”, acompanhe a seguir a entrevista exclusiva do historiador e curador para o ArchDaily, onde o diretor fundador da Design Society discute o presente e o futuro da arquitetura, abordando o papel do arquiteto e os principais desafios do mundo hoje, além da revolução digital e muitos outros tópicos interessantes.
O que é o campo ampliado da arquitetura?
Em 1979, Rosalind Krauss publica o clássico artigo A escultura no campo ampliado na revista October, no qual identifica um certo esgarçamento das fronteiras no campo da escultura, “evidenciando como o significado de um termo cultural pode ser ampliado a ponto de incluir quase tudo” [1]. A crítica, particularmente destinada a uma produção artística produzida entre os anos 1960 e 1970, foi utilizada como base 26 anos depois, em 2005, para a publicação de O campo ampliado da arquitetura, de Anthony Vidler.
Interpretando a arquitetura: como o projeto sai do papel através de técnicas de análise
A arquitetura nunca é um acidente. É um esquema cuidadosamente planejado de padrões e estilos que respondem ao ambiente natural, celebram a materialidade e / ou são referenciais de movimentos estilísticos ao longo da história, isto é, todas as formas de entender porque os projetos foram feitos daquela maneira. Existem diferentes maneiras de analisar a arquitetura, por meio do uso de diagramas, padrões, relacionamentos e proporções, para citar alguns. Para arquitetos e leigos, existe um desejo subconsciente de uma estrutura de tomada de decisão no projeto. Como resultado, a arquitetura se tornou um exercício de auto posicionamento - um reflexo microcósmico do mundo ao nosso redor, visto nos projetos que construímos.