“Da janela vê-se o Corcovado, o redentor, que lindo”. A letra de Tom Jobim, eternizada pela voz e pelo violão suave de João Gilberto, foi uma das músicas que apresentou ao mundo a ideia de um Rio de Janeiro paradisíaco e um Brasil promissor, cada vez mais urbano e com uma capital moderna sendo construída do zero. Quase 60 anos depois, Paulo Mendes da Rocha cita casualmente essa canção em uma entrevista e aponta que para ele, nessa cena, o elemento mais importante é a janela, e não o Corcovado ou o Cristo Redentor. Isso porque é ela que enquadra a vista e direciona o nosso olhar ao que importa. É uma frase que passa quase despercebida, mas que carrega enorme significado poético e artístico sobre o ofício da arquitetura.
Como alternativas à produção de materiais na construção civil, caracterizada por altos gastos energéticos e altos índices de poluentes lançados na atmosfera, a reciclagem e o reuso de materiais e estruturas têm se tornado cada vez mais comuns na arquitetura. A principal diferença entre esses métodos é que, enquanto o primeiro emprega certo gasto energético no tratamento do material antes do seu reaproveitamento, o segundo não requer esse processo, reutilizando-o na forma em que foi descartado.
Amateur Architecture Studio, Ningbo History Museum, 2008. . Imagem Cortesia de Louisiana
Ao longo dos dois últimos séculos, a China passou por um vertiginoso processo de expansão demográfica e urbana, resultando na completa descaracterização de sua paisagem histórica, onde inúmeras pequenas cidades e vilarejos acabaram sendo varridos do mapa, substituídos por novas infra-estruturas urbanas e edifícios cada vez mais altos. À medida que a antiga paisagem chinesa vai desaparecendo sob o novo tecido urbano da China do século XXI, importantes elementos da cultura cívica e social também estão sendo esquecidos e negligenciados. Wang Shu, o primeiro arquiteto chinês a ser galardoado com o Prêmio Pritzker, tem lidado com esta delicada situação cotidianamente desde o início de sua carreira, desenvolvendo uma arquitetura que busca construir pontes entre o passado e o presente. Utilizando materiais reciclados e recuperados de antigas estruturas abandonadas ou destruídas, Wang Shu está resignificando a arquitetura tradicional chinesa no contexto de um país em rápido e incansável processo de desenvolvimento e expansão urbana. A seguir, discutiremos algumas das principais obras construídas por Wang Shu, como o Museu de arte contemporânea (2005) e o Museu Histórico de Ningbo (2008), e o Campus da Nova Academia de Arte de Hangzhou (2004).
Sobretudo quando falamos de edificações públicas, é imprescindível que os espaços sejam pensados de forma que permitam o acesso de todos os indivíduos com autonomia, independente de suas dificuldades motoras. Entretanto, na hora de projetar, sabemos que “adequar” o projeto às normas pode se tornar uma enorme dor de cabeça, ainda mais quando cada centímetro importa para darmos conta do programa de necessidades pretendido.
Para normatizar essa questão, a NBR 9050, de 2015, estabelece critérios e parâmetros técnicos a serem observados em projeto, construção, instalação e adaptação de edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos às condições de acessibilidade.
A pegada de carbono (carbon footprint) pode ser definida como a quantificação, normalmente em quilogramas (kg) ou toneladas (t), das emissões (e remoções) de diferentes gases de efeito estufa (GEE) no ciclo de vida de um produto, processo ou serviço. Existem diversos GEE, sendo que os mais importantes em termos de contribuição para o aquecimento global e mudanças climáticas são: dióxido de carbono (CO2), (CH4) e Óxido Nitroso (N2O).
Monumento às Bandeiras, em São Paulo, pichado em 2016. Foto de Rovena Rosa / Agência Brasil / Fotos públicas
A arquiteta Ayesha Luciano não sabe muito sobre seus antepassados. Assim como outros descendentes de populações afro-brasileiras e indígenas, a história de sua família foi apagada durante o processo de colonização do Brasil. É o que a filósofa Sueli Carneiro chama de epistemicídio: o aniquilamento das saberes e memórias em países de passado escravista.
Mas os perpetradores deste genocídio têm suas figuras lapidadas em pedra, ocupando lugar central em espaços públicos do país. É o caso da estátua totêmica do bandeirante Borba Gato, na capital de São Paulo, ou de Joaquim Pereira Marinho, traficante de pessoas escravizadas cuja estátua está no centro de Salvador (BA). A arquiteta comenta:
Reabilitar um edifício não é tarefa simples. Além de exigir sensibilidade aguçada para identificar e reconhecer o valor histórico das pré-existências – e, assim, decidir o que perduará no tempo e o que será substituído por elementos novos, coerentes com o programa atual –, trata-se também de uma estratégia que extrapola os limites do desenho e entra em temas como sustentabilidade e economia de meios. Afinal, estamos falando de reciclar uma estrutura, ou partes dela, e isso tem consequências tanto formais quanto ambientais.
Concluindo a série de artigos sobre o estudo da habitação social na América Latina, Nikos A. Salingaros, David Brain, Andrés M. Duany, Michael W. Mehaffy e Ernesto Philibert-Petit apresentam uma reflexão sobre os altos preços da terra, grandes esquemas e desestabilização nacional. Confira, a seguir.
https://www.archdaily.com.br/br/943131/realidades-incomodas-da-habitacao-social-na-america-latinaNikos A. Salingaros, David Brain, Andrés M. Duany, Michael W. Mehaffy & Ernesto Philibert-Petit
O manifesto futurista, assinado em 1909 pelo poeta Filippo Tommaso Marinetti, seria o pontapé inicial para formalizar os ideais e assentar as bases de um movimento vanguardista que atrairia a escritores, músicos, artistas e arquitetos (dentre os quais se encontrava, por exemplo, Antonio Sant'Elia). Após a publicação do manifesto, o futurismo se consolida como uma corrente de ruptura e abre o caminho para que outras vanguardas artísticas entrem na cena no alvorecer do século XX.
Embora este movimento experimentasse um declínio considerável no período pós-guerra, ele seria notavelmente reinventado no contexto da Era Espacial, onde a expectativa da conquista do espaço, a fé na tecnologia, o esplendor industrial, a cultura incipiente do automóvel, o florescimento econômico e cultural e o fascínio por novos materiais, permitiriam um novo panorama onde diferentes gerações de arquitetos reinterpretariam a estética futurista durante várias décadas (principalmente as décadas de 60 e 70). A vanguarda, a engenharia e a arte se combinariam e, potencializadas pelos avanços tecnológicos, dariam origem a uma arquitetura com um ar de ficção científica.
Componentes estruturais podem ser grandes protagonistas em projetos de arquitetura, e contribuem para estabelecer a compreensão de como se organizam e distribuem os esforços intrínsecos às construções. Os tirantes são um exemplo recorrente dessa possibilidade de tomada de cena: eles subvertem a lógica da sustentação por apoios e conformam conjuntos estáveis a partir da tração, criando um sentido, ao mesmo tempo, de força e leveza nas obras.
Este tipo de elemento está presente em diversos tipos de escala de edificação, desde os cabos de aço das grandes e imponentes pontes pênseis, até os tensores de coberturas residenciais. Selecionamos um conjunto de casas brasileiras que se valem desse delicado e potente componente estrutural de formas diversas, que servem enquanto demonstração da versatilidade de seus possíveis usos.
Desde o início da pandemia no Brasil muito tem se debatido acerca dos impactos nos diferentes territórios e segmentos sociais. Algo fundamental tanto para encontrar os melhores meios de prevenir a difusão da doença como de proteger aqueles que estão mais vulneráveis. Entretanto, a forma como as informações e os dados têm sido divulgados não auxilia na análise dos impactos territoriais e da difusão espacial da pandemia, dificultando também o seu devido enfrentamento.
Na cidade de São Paulo, a escala de análise da pandemia ainda são os distritos, que correspondem a porções enormes do território e com população maior do que muitas cidades de porte médio. Essa visão simplificadora ignora as heterogeneidades e desigualdades territoriais existentes na cidade. Conforme apontamos anteriormente, infelizmente a dimensão territorial não é considerada de forma adequada, prevalecendo uma leitura simplificada e, até mesmo, estigmatizada, como por exemplo quando se afirma “onde tem favela tem pandemia”.
A New Generations é uma plataforma dedicada a descobrir e promover o trabalho de arquitetos jovens e emergentes no cenário europeu, proporcionando um espaço de troca e aprendizado, voltado tanto aqueles que se dedicam a prática quanto a teoria na arquitetura. Desde a sua fundação em 2013, a New Generations trouxe à público mais de 300 escritórios promissores de arquitetura, apresentando um cenário diversificado de studios e ateliês dedicados às mais diferentes atividades culturais, promovendo festivais, exposições, chamadas abertas, entrevistas e oficinas.
A New Generationslançou recentemente uma nova plataforma na qual oferece um espaço único onde arquitetos de toda Europa podem se reunir para trocar idéias, e por que não, construir novas redes de trabalho colaborativo. Projetos de todo o tipo, oportunidades de emprego, idéias, notícias e perfis de escritórios serão publicados todos os dias na nova plataforma da NG. A seção 'perfis' é um convite àqueles indivíduos e coletivos que pretendem se juntar à esta rede de escritórios emergentes, proporcionando uma oportunidade única para que estes se engajem e fortaleçam a comunidade européia de jovens arquitetos.
Pensando nisso, o ArchDaily decidiu apoiar a causa da New Generations, publicando a cada duas semanas uma seleção dos principais perfis de escritórios emergentes de arquitetura da New Generations.
Embora o químico e inventor Otto Rohm tenha tido a ideia do plexiglas pela primeira vez em 1901, somente em 1933 a empresa Rohm & Haas o introduziu no mercado pela primeira vez com esse nome comercial. O material, considerado uma alternativa ao vidro, (leve e resistente a estilhaços) teve uma história fascinante e experimentou uma infinidade de usos diferentes naquele tempo. Hoje, o plexiglas continua sendo utilizado de maneiras novas e interessantes, inclusive com o potencial de ajudar a combater a disseminação do coronavírus. Restaurantes, lojas e outras empresas começaram a usar divisórias como escudos de proteção para trabalhadores e clientes, especialmente quando cidades e vilas vêm reabrindo lentamente. Abaixo, mergulhamos neste material incomum, abordando suas propriedades, sua história e as maneiras como ele segue sendo usado hoje.
https://www.archdaily.com.br/br/943155/o-que-e-o-plexiglas-o-plastico-protetor-que-combate-a-disseminacao-viralLilly Cao
Como é sabido, nossas cidades estão cada vez mais saturadas pelo uso de automóveis e a mobilidade torna-se, portanto, ponto essencial em qualquer discussão sobre habitar o ambiente urbano, principalmente nas grandes cidades brasileiras. Essa premissa nos faz olhar e entender melhor em quais aspectos do deslocamento nas cidades podemos interferir de forma prioritária, partindo de pressupostos onde a utilização de carros seja menos solicitada. Um ponto importante para esse diálogo é entender até que ponto o carro pode ser efetivo no quesito tempo. O Mapping Lab fez uma análise gráfica de 27 capitais brasileiras utilizando os dados da plataforma here.com.
https://www.archdaily.com.br/br/912328/ate-onde-voce-consegue-chegar-em-10-20-e-30-minutos-de-carro-analisando-as-capitais-do-brasilEquipe ArchDaily Brasil
Quando ouvimos o termo visualizações arquitetônicas, é provável que a primeira imagem em mente, seja um render chamativo com pessoas, acabamentos ofuscantes e uma sensação de movimento sobre o local em questão. Além de renderizar um espaço tridimensional, os arquitetos também precisam desenvolver suas habilidades na representação de ideias intangíveis, de forma a direcionar a narrativa por trás de seus argumentos. Em vez de criar conceitos pontuais, que são apresentados em uma sequência tradicionalmente linear, os arquitetos precisam criar uma história, estruturar seus projetos como uma tese e considerar como as apresentações têm o poder de revelar as prioridades de um projeto.
Shiver House é uma reinvenção radical da cabana finlandesa tradicional (mökki). O projeto é uma estrutura cinética que se adapta às forças naturais circundantes. Trata-se de uma exploração da ideia de que a arquitetura pode ser usada como um meio de criar um vínculo emocional mais próximo entre seus habitantes e o mundo natural em que se encontra. Além disso, o projeto aborda que a arquitetura pode parecer "viva" com a intenção de que isso gere um relacionamento emocional mais profundo e duradouro entre as pessoas e as estruturas que elas habitam.
Conceitualmente, a peça sugere que a arquitetura, em vez de estática e conformada por funções, pode ser um elemento poético, vivo e dinâmico que muda a maneira como nos relacionamos com a paisagem que nos cerca.
https://www.archdaily.com.br/br/943124/600-telhas-cineticas-reinventam-a-cabana-finlandesa-tradicional-mokkiLilly Cao
Foi em 1972 que o historiador norte-americano George Kubler propôs o termo “plain architecture” para definir a arquitetura portuguesa entre a metade do século XVI e o início do século XVIII. Enquanto em sua grafia nativa, a tradução do termo entendia o estilo português como simples, o uso do adjetivo designa uma geometria pouco complexa, que remete ao abandono do ornamento manuelino nas construções de igrejas e conventos. Na tradução feita para a língua portuguesa, porém, o termo “arquitetura chã” reconheceu em seu próprio vocábulo a vocação tectônica da arquitetura lusa ao transpor a referência da geometria para o solo e resultou em uma caracterização clara e monossílaba a constante relação que se vê entre o construído (arquitetura) e o existente (chão, solo ou território). Para além da rigorosidade do desenho das formas portuguesas, o termo trata também de uma arquitetura que se amarra ao chão em seu sentido metafórico; uma arquitetura sempre alinhada com a compreensão do território em que se coloca.
Nas aulas de matemática do ensino médio aprendemos que a velocidade média pode ser calculada a partir da razão entre a distância percorrida e o tempo gasto. Durante muitas décadas, o pensamento que impulsionou as políticas de transporte esteve ancorado nesta equação: acreditava-se que objetivo das ações era aumentar a eficiência dos sistemas e que, para isso, bastava diminuir os tempos de viagem através do aumento da velocidade média. Desta forma, a variável distância era considerada menos importante, já que a construção de sistemas de transporte livres de interferências como linhas de metrô, corredores de BRT ou avenidas expressas seriam capazes de manter ou reduzir o tempo de viagem em percursos cada vez maiores.
https://www.archdaily.com.br/br/942854/o-que-e-acessibilidade-na-mobilidade-e-nos-transportes-urbanosITDP Brasil
Na arquitetura, o aço corten, ou aço patinável, é um dos materiais no qual a passagem do tempo é mais facilmente visível e identificável. A pátina, como é chamada a camada que se forma no aço a partir da sua oxidação, funciona como uma proteção que reduz a velocidade do ataque dos agentes corrosivos e preserva as propriedades mecânicas deste material. Ao mesmo tempo, esta camada protetora proporciona um efeito estético que faz do aço corten um material muito valorizado em projetos arquitetônicos, da pequena à grande escala.
Os sistemas de construção leve são basicamente constituídos por uma estrutura base de perfis de aço galvanizado, que pode ser coberta com painéis de gesso ou cimento. Dependendo de suas características particulares, cada painel permite que o sistema adicione maior resistência à umidade e ao fogo, além de diferentes níveis de isolamento térmico e acústico. Por que eles são eficazes quando aplicados em fachadas? Que possibilidades eles oferecem de acordo com sua composição?
Museo de transporte húngaro. Image Cortesía de Diller Scofidio + Renfro
De acordo com Howard Gardner, a inteligência humana pode ser dividida em oito categorias, sendo uma delas, a inteligência espacial. Gardner define este tipo de inteligência como a capacidade do ser humano em imaginar e dar forma à modelos tridimensionais da realidade. A arquitetura, assim como a escultura, é uma das disciplinas que mais se beneficiam desta faculdade. Considerando isso, neste artigo procuramos explorar como a representação da arquitetura evoluiu ao longo do tempo e como ela está se tornando cada dia mais fiel à imagem idealizada por quem a projetou.
Collage realizada utilizando fotografias de Matias Romero e Raquel Aviani/Secom UnB. (licensed under the Creative Commons Attribution-Share Alike 2.0 Generic license and Creative Commons Attribution 2.0 Generic license) via Wikimedia Commons
O que seria de todo o ambiente construído sem seus usuários? Esta pergunta talvez facilite a compreensão de que a arquitetura e o urbanismo não se sustentam apenas como espaço físico, pelo contrário, ganham significado principalmente através das movimentações e vínculos humanos e não-humanos que - juntos dos traços arquitetônicos ou espontâneos que compõem a paisagem urbana - provocam as sensações que cada indivíduo sente de forma única.
Ensaio produzido originalmente como trabalho final da disciplina eletiva Moradias Tradicionais da Escola da Cidade em 2017 aborda a presença pouco conhecida de construções pré-colombianas de grande escala presentes no meio da Floresta Amazônica.
Nos últimos 40 anos, foram encontradas no Estado do Acre centenas de formações geométricas maciças escavadas no solo – os chamados geoglifos. Estas construções demonstram que a Amazônia já foi habitada há milhares de anos e que a sua vegetação foi manejada, desmentindo a imagem de que a região seja um território intocado.