Cemitérios estão entre os programas arquitetônicos com maior carga simbólica. Sugerem rituais, rigor e solenidade, ao mesmo tempo que devem oferecer algum tipo de conforto ou acolhimento, senão para aqueles que se despedem de seus entes queridos, pelo menos para “garantir" um pós-morte digno para aqueles que se foram. O Cemitério de San Cataldo, de Aldo Rossi e Gianni Braghieri, à primeira vista, cumpre com a primeira parte da afirmação anterior. Em parte porque o projeto não foi inteiramente construído, a austeridade e vazios predominam. Mas ao se considerar o projeto proposto, talvez a aridez se mantivesse, e a dureza fosse sentida com mais ênfase. Composto de edifícios de formas puras quase abstratas, sem detalhes ou revestimentos nobres, o projeto do cemitério é um bom exemplo da produção de Aldo Rossi à época de sua concepção, por volta de 1970.
Artigos
Melancolia e arquitetura: leituras de Aldo Rossi e o Cemitério de San Cataldo
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O legado de Jane Drew: uma pioneira para mulheres na arquitetura
Em 1950, Le Corbusier foi convidado a projetar a nova capital do estado indiano de Punjab, a cidade de Chandigarh, após sua separação e recente independência. A oportunidade de criar uma nova utopia foi inigualável e agora é vista como uma das maiores experiências urbanas da história do planejamento e da arquitetura. A cidade foi formada por padrões viários em retícula ortogonal, de estilo europeu, e edifícios em concreto aparente — o auge dos ideais de Corbusier ao longo de sua carreira. Mas o que é menos conhecido sobre a concepção e realização de Chandigarh foi a mulher que trouxe para o projeto sua experiência em projetar habitações sociais em toda a África. Por três anos, trabalhando ao lado de Corbusier e ajudando-o a projetar alguns dos edifícios mais conhecidos de Chandigarh, esteve Jane Drew.
A obra de Jane Jacobs apoia o zoneamento restritivo?
Um artigo recente do professor de Direito Richard Schragger invoca o livro Morte e Vida das Grandes Cidades, de Jane Jacobs, em defesa do zoneamento. Schragger escreve que, de acordo com Jacobs, os bairros da cidade florescem por causa da “diversidade dos usos do solo no espaço” e o zoneamento deve proteger as qualidades desses bairros por meio do “zoneamento para a diversidade”, o que requer “limitar o desenvolvimento, controlar a densidade e preservar estruturas históricas”.
Luz como matéria: 10 artistas que transformam o espaço com a iluminação
A luz está presente na arte há séculos. Pensar o barroco ou o gótico sem este elemento seria impossível. No entanto, foi no século XX que artistas começaram a explorar qualidades lumínicas e as transformaram num meio próprio para materializar a arte. Esculturas, instalações imersivas e formas de moldar o ambiente através da luz, suas cores e intensidades, trouxeram novas percepções espaciais ao traçar uma relação única com a arquitetura.
Qual é o custo de reciclar materiais de construção?
Quase duas décadas atrás, no corredor do centro de Columbus, Ohio, o centenário edifício Lazarus passou por uma extensa reforma para salvar a loja de departamentos e restaurá-la à sua antiga glória. Sessenta milhões de dólares foram investidos em sua restauração e transformação em um complexo comercial e de escritórios. Durante a construção, os trabalhadores reciclaram quase 2.300 kg de aço, 900 kg de concreto e quantidades significativas de carpetes, forros e vários tipos de madeira, evitando que 10.000 kg de detritos fossem para os aterros sanitários de Ohio. Eles também economizaram mais de US$ 25 milhões implementando esse rigoroso processo de reciclagem.
Explorando a acessibilidade: 10 rampas em espaços públicos e domésticos
A rampa é um dos elementos arquitetônicos que, além de viabilizar a circulação entre diferentes alturas e pavimentos, proporciona uma maior acessibilidade aos espaços. No Brasil, uma série de decretos e regulamentações, como as dispostas na Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, de 2015, buscam assegurar os direitos de cidadania e promover a igualdade e inclusão social da pessoa com deficiência, o que perpassa questões relativas à sua mobilidade e liberdade de ir e vir. A arquitetura tem um papel fundamental nessa inclusão, ao elaborar estratégias para garantir que essas pessoas possam transitar, participar e interagir em qualquer ambiente, seja ele público ou privado.
Um parque costeiro como equipamento público e atenuador do clima
Este artigo foi publicado originalmente no Common Edge.
Esta semana, o Museu de Arte Moderna lança oficialmente uma nova série de exposições intitulada Architecture Now. De acordo com o MoMA, “a primeira iteração da série, New York, New Publics, irá explorar as maneiras pelas quais os escritórios com sede na cidade de Nova York têm expandido a relação da arquitetura metropolitana com diferentes públicos através de 12 projetos concluídos recentemente.”
A exposição mostrará trabalhos voltados para o público, como parques, jardins e piscinas comunitárias, feitos por Adjaye Associates, Agency—Agency e Chris Woebken, CO Adaptive, James Corner Field Operations, Kinfolk Foundation, nArchitects, New Affiliates e Samuel Stewart-Halevy, Olalekan Jeyifous, Only If, PetersonRich Office, SO – IL e SWA/Balsley e Weiss/Manfredi.
Pavilhões que representaram o México nas últimas Bienais de Arquitetura de Veneza
A Bienal de Arquitetura de Veneza é um evento organizado pelo Estado italiano que reúne algumas das mais prestigiadas exposições internacionais de arquitetura do mundo. O Giardini e o Arsenale são os principais palcos das exposições e pavilhões nacionais, aos quais se unem outros eventos paralelos distribuídos pelo território de Veneza.
Fietsgeluk: o conceito holandês de felicidade do ciclismo
Com uma população de mais de 17,5 milhões de habitantes e 23 milhões de bicicletas — sendo mais de três milhões delas elétricas —, a Holanda é uma referência quando o assunto é mobilidade e o desenvolvimento de localidades que priorizam os pedestres e ciclistas em seus projetos urbanos. Cerca de 27% de todas as viagens realizadas no país são feitas pedalando, anualmente são percorridos mais de 15,5 bilhões de quilômetros, apontam dados do governo da nação. Apesar do índice elevado, o objetivo é adotar iniciativas que estimulem ainda mais os municípios a transformarem seus espaços e darem mais lugar para o ciclismo como principal opção para o deslocamento entre trajetos curtos, de até 15 quilômetros.
Por que os espaços de transição são assustadores? O caso do curta-metragem "The Backrooms"
A24 e Atomic Monster confirmaram recentemente uma adaptação cinematográfica de The Backrooms, um curta-metragem de terror do Youtube (expandido para uma série) criado pelo diretor de 17 anos e artista de efeitos visuais Kane Parsons.
Com base na lenda urbana homônima, The Backrooms se passa em 1996 em um labirinto aparentemente infinito de espaços de escritório com paredes amarelas e carpetes, banhados com uma iluminação interna fluorescente, lembrando um edifício abandonado. Sua estética corporativa kitsch é reforçada pelo filtro VHS, estilo de gravação de fita o qual permite que Parsons oculte imperfeições (ou evite algum efeito estranho) que um simples cenário 3D criado no Blender e editado no Adobe After Effects poderia apresentar durante o estágio de pós-produção.
5 Ações pelo clima que cidades devem priorizar a partir de 2023
Temos menos de sete anos para reduzir pela metade as emissões de gases de efeito estufa se quisermos manter o aumento da temperatura global abaixo de 1,5°C, o limite considerado necessário pela ciência para evitar alguns dos impactos mais perigosos das mudanças climáticas. Em 2022, inundações, secas e ondas severas de calor tiraram milhares de vidas e afetaram milhões de pessoas em todo o mundo, oferecendo um vislumbre do que devemos esperar se falharmos na ação climática. Uma vez que as cidades são responsáveis por mais de 60% das emissões globais e abrigam mais da metade da população mundial, mudar a maneira como lidamos com o ambiente urbano precisa estar no centro de nossos esforços para conter a crise do clima.
Como a arquitetura moderna transformou a casa de campo?
Alguns dirão que é o ar fresco, a paz e a silêncio, e outros a proximidade constante da natureza; no entanto, todos concordamos que há algo único no campo. Ao entrar em uma casa de campo, todas essas qualidades podem ser refletidas pela lente do design de interiores contemporâneos, criando um ambiente acolhedor, leve e calmo. Conhecidos por seu lugar em ambientes rurais ou agrícolas e projetados para a vida no campo, as casas tradicionais dos anos 1700 foram inicialmente influenciadas por suas condições geográficas, melhorando o relacionamento com o meio ambiente. Ao conservar abordagens tradicionais, como plantas simples, telhados de duas águas e varandas grandes, a estética do campo passou por transformações para se adaptar aos modos de vida contemporâneos. Ao reutilizar e usar a arquitetura rural tradicional como uma referência direta, analisamos como os projetos atuais seguem suas estratégias de design singulares: materiais nobres, espaços conectados ao entorno e espaços simples e funcionais com detalhes únicos.
Revivendo a histórica Copenhague através do design moderno
Historicamente lar de vikings, reis e rainhas, Copenhague é uma cidade vibrante que mistura a arquitetura contemporânea com rios, ruas estreitas de paralelepípedos, antigas casas de madeira e castelos antigos. Repletos de história, os seus edifícios possuem um legado histórico que passa pela memória de todos os personagens, épocas e acontecimentos pelos quais a cidade passou. Como manter toda essa história viva? Ao reformar edifícios tradicionais com projetos modernos, Copenhague respeitosamente tira proveito de sua arquitetura histórica enquanto se adapta às tendências atuais.
Tomando um momento para visualizar o ambiente já construído antes de encarar uma tela em branco, a reforma permite que os arquitetos reaproveitem as estruturas existentes para um novo uso, preservando seu caráter e história, e reduzindo o impacto ambiental de novas construções. Através dos casos mais marcantes de reforma de edifícios clássicos da cidade, este artigo analisa três diferentes estratégias de reutilização de edifícios históricos através de um design inovador e sustentável.
Vida após a morte dos pavilhões: explorando o reuso na arquitetura temporária
Pavilhões e instalações temporárias, como as utilizadas em eventos, exposições ou festivais, apresentam-se como um grande desafio em relação à economia circular na arquitetura devido à sua condição efêmera. Parece contraditório debater sobre o gerenciamento de recursos e tentar extrair o máximo valor dos materiais minimizando o desperdício e a poluição do meio ambiente ao projetar uma estrutura que deve ser usada por um período limitado de tempo. No entanto, existem várias estratégias para repensar a forma como estamos desenhando estas estruturas e promover a circularidade.
Como usar a iluminação artificial como elemento de decoração
A iluminação artificial oferece uma variedade de estratégias para projeto de interiores. Muito utilizadas em projetos comerciais e restaurantes enquanto artifício estético para atrair clientes e criar ambientes que estimulem os sentidos, a iluminação artificial também pode ser aplicada em projetos residenciais transformando os ambientes, criando lugares aconchegantes e bem iluminados.
Como Amsterdã usa a economia da rosquinha para criar estratégias equilibradas para pessoas e meio ambiente
Em 2020, em meio à primeira onda de bloqueios devido à pandemia, o município de Amsterdã anunciou sua estratégia para se recuperar dessa crise adotando o conceito de “Economia Donut” (traduzido também como economia da rosquinha). O modelo é desenvolvido pela economista britânica Kate Raworth e popularizado por meio de seu livro, Doughnut Economics: Seven Ways to Think Like a 21st-Century Economist, lançado em 2017. Ela argumenta que o verdadeiro propósito da economia não precisa igualar o crescimento. Em vez disso, o objetivo é encontrar um ponto ideal, uma forma de equilibrar a necessidade de fornecer a todos o que precisam para viver uma vida boa, uma “base social”, enquanto limitamos nosso impacto no meio ambiente, “o teto ambiental”. Com a ajuda de Raworth, Amsterdã reduziu essa abordagem às proporções de uma cidade. O modelo agora é usado para informar estratégias em toda a cidade em apoio a essa ideia abrangente: proporcionar uma boa qualidade de vida para todos sem colocar mais pressão no planeta. Outras cidades estão seguindo este exemplo.
Uma breve história do Estilo Internacional
Quando as pessoas descrevem o movimento modernista em sua totalidade, fazem ampla referência aos arranha-céus de aço e vidro que marcam presença no horizonte de muitas cidades, ou mais especificamente, ao Estilo Internacional que surgiu na Europa após a Primeira Guerra Mundial. O Estilo Internacional representou o progresso tecnológico e industrial e um renascimento das construções sociais que influenciariam para sempre a maneira como pensamos sobre o uso do espaço em todas as escalas. Muitas vezes projetados como edifícios politicamente carregados, procurando fazer uma declaração aos governos totalitários, muitos arquitetos que influenciaram o estilo mudaram-se para os Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial, abrindo caminho para alguns dos edifícios e arranha-céus mais icônicos construídos no século XX.
50 Projetos que mostram a ascensão da construção com madeira laminada cruzada
A madeira é um material natural, renovável e pode apresentar baixas emissões de carbono se manejado adequadamente. No entanto, enquanto material de construção, quando submetida a uma força direcional ao longo de sua fibra, a madeira serrada é estruturalmente instável e considerada inadequada para cargas mais elevadas. Em comparação, a madeira laminada cruzada (CLT) — cuja fabricação envolve simplesmente a colagem de várias camadas de madeira com as fibras arranjadas numa trama perpendicular — atinge um nível muito mais alto de rigidez estrutural ao longo de ambos os eixos. Os componentes de CLT devem ter no mínimo três camadas, mas podem ser reforçados com a adição de outras. Simplificando, devido à complexa física envolvida na laminação perpendicular, a resistência da CLT é semelhante à do concreto armado, com desempenho comprovado sob forças sísmicas.
Então, o que há de novo? A madeira já existe há tempo suficiente, e a usamos como material de construção há séculos. Certamente esta não é a primeira vez que alguém percebe que ela fica mais forte quanto mais você a usa. Bem... como era de se esperar, a mudança de popularidade da madeira laminada cruzada na construção coincide com uma maior compreensão e foco nas causas ambientais, mas a relação nem sempre foi positiva.
Azulejos portugueses: breve história e aplicações contemporâneas
A cultura refletida em um material. Os azulejos portugueses narram temas históricos, do religioso ao profano. Conformam a paisagem e os cenários lusitanos ao revestir edifícios, interiores e espaços públicos. E, desta forma, sua expressão segue em constante mudança e adaptação para tecer a ancestralidade mourisca com a contemporaneidade.
Na quebrada: 11 projetos construídos em favelas e bairros periféricos
É raro que casas em favelas sejam reconhecidas por suas qualidades arquitetônicas. Na história do Prêmio ArchDaily Building of the Year, isso aconteceu apenas duas vezes: em 2016 com a Casa Vila Matilde, do Terra e Tuma Arquitetos, e na edição deste ano com a Casa no Pomar do Cafezal projetada pelo Coletivo LEVANTE. Localizada em Belo Horizonte, a casa foi construída para o músico e gestor cultural Kdu dos Anjos, que prefere chamar-la de "meu barraco".
Nos dois casos, área reduzida, materiais simples e orçamento modesto não foram impeditivos para um projeto arquitetônico virtuoso que tirou máximo proveito das qualidades do entorno e da orientação do terreno, provando que limitações podem servir de impulso para projetos de grande qualidade.
A ascensão e queda da densidade urbana de Nova York
Por duzentos anos, a cidade de Nova York tem sido a maior metrópole dos Estados Unidos e continua a superar suas concorrentes. A cidade é uma das mais antigas e prósperas do país. Sua região metropolitana produz bens e serviços que equivalem em termos monetários à metade do que o Brasil produz. A sua estrutura urbana, capacidade produtiva e elevada renda per capita evidenciam sua posição privilegiada no mundo, e uma das chaves para entender a sua ascensão está no início da sua história e ao longo do seu processo de desenvolvimento. Em 1624, as terras da ilha de Manhattan foram compradas do povo indígena Lenape pelo holandês Peter Minuit, da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, que fundou a chamada Nova Amsterdã. A ilha é uma extensa área plana de 59 km² situada em meio à foz do Rio Hudson e do Rio do Leste. A baía permitia atracar grandes navios e era também um local mais fácil de se defender.