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Camilla Ghisleni
Camilla Ghisleni é Arquiteta e Urbanista, formada pela Universidade Federal de Santa Catarina e Mestre em Urbanismo, Cultura e História da Cidade pela mesma universidade. É sócia-fundadora do escritório Bloco B Arquitetura e colabora com o ArchDaily Brasil desde 2014.
A casa é constantemente associada a um espaço sagrado, um lugar que acolhe e respeita diferentes sentimentos e sensações. Assim como Bachelard afirma, ela é o nosso refúgio no mundo, nosso primeiro universo, um cosmos real em cada acepção da palavra. Uma simbologia complexa a qual faz dela um espaço que não pode ser definido apenas pelos aspectos funcionais, como número de quartos ou tamanho dos banheiros. Nas entrelinhas das suas paredes, universos inteiros são acomodados.
A palavra "rede" tradicionalmente remete à um entrelaçamento de fios. Na concepção contemporânea, entretanto, adquire um significado relacionado à conexão, colaboração e integração, seja de ideias, de pessoas ou de processos. Não por acaso, essas são justamente as diretrizes fundamentais do Rede Arquitetos, ateliê colaborativo de arquitetura fundado em 2011 na cidade de Fortaleza, Ceará, pelos arquitetos Bruno Perdigão, Epifanio Almeida, Igor Ribeiro e Bruno Braga. Atualmente, a equipe é liderada por Braga, Luiz Cattony e João Torquato e tem como princípio o trabalho coletivo, acreditando no encontro, e não na sobreposição de ideias, como estratégia para alcançar as melhores soluções.
Marina Gardens, Singapore. Image by Nick Fewings Unsplash
Por muito tempo, a sustentabilidade foi vista como sinônimo de tecnologia no meio arquitetônico. A eficiência era diretamente relacionada a aparatos tecnológicos inovadores que cobriam as edificações de parafernálias. Hoje em dia, entretanto, o conceito de sustentabilidade abrange cada vez mais diferentes estratégias que estão relacionadas também ao reconhecimento de técnicas vernaculares e materiais locais como primordiais para a criação de edificações sustentáveis e neutras em carbono.
No entanto, independente da técnica ou dos materiais utilizados, o denominador comum é a busca pela diminuição da pegada de carbono de nossas arquiteturas, uma situação que exige mudanças na forma como os edifícios são concebidos, construídos e operados. Ou seja, retornar ao vernacular ou utilizar o aplicativo de última geração são estratégias que, apesar de muito diferentes, desejam chegar a este mesmo lugar e, por isso, são igualmente válidas.
Sede da ONU em Nova York. Foto de the blowup, via Unsplash
Era um momento de grande euforia. Com a declaração do final da Segunda Guerra Mundial, um otimismo invadia as ruas e oferecia a certeza de dias melhores. Neste mesmo ano, 1945, embalada pelo contexto, foi fundada a Organização das Nações Unidas (ONU). O lugar escolhido para a sede foi a vibrante cidade de Nova York e o projeto seria concebido por um grupo internacional composto por arquitetos especialmente selecionados e convidados.
Para essa empreitada multicultural e multiarquitetônica, onze gigantes da arquitetura foram chamados de todos os cantos do mundo. Com seus egos inflados, característica da profissão ainda mais ressaltada naquela geração, os arquitetos que, até então eram acostumados a reinar soberanos sobre sua arquitetura e países, se viram compartilhando não apenas uma sala, mas também um projeto. O evento por si só, se executado com sucesso, já seria um tremendo exemplo de que a paz mundial era possível.
A imaginação e a formulação de políticas são inseparáveis. Um futuro desejável primeiro deve ser imaginado para depois ser possível conceber políticas que possam concretizá-lo. Na arquitetura, em particular, estamos constantemente imaginando o futuro, uma atividade intrínseca ao verbo projetar, e essa familiaridade com o ato nos faz responsáveis por ditar rumos e regras que poderão contribuir ou não com curso do planeta.
Neste momento de mudanças climáticas, decorrente do acúmulo de práticas irresponsáveis ao longo de séculos, a ideia do futuro passou a ser invadida por um medo, um alerta que determinaria a sobrevivência da nossa existência. A arquitetura, juntamente com outras disciplinas, passou a canalizar esforços para reexaminar, reconceitualizar e reformular suas práticas rumo ao futuro que precisamos alcançar. Para além das estatísticas e projeções, a abordagem da arquitetura em relação à ação climática traz à tona inúmeros conceitos, entre eles, a necessidade de uma revisão histórica para a criação desse futuro.
Um lar não pode ser definido como uma simples edificação, catalogado por seus materiais e descrito espacialmente. Um lar é um conjunto de rituais, de rotinas, de memórias que se mesclam entre as paredes, as texturas e os cheiros do lugar. Por isso mesmo, ele não pode ser construído em um instante, requer uma dimensão temporal, uma continuidade que marca a adaptação da família e do indivíduo no espaço.
Em 2019, quando o mundo estava prestes a enfrentar a maior pandemia dos últimos tempos, o líder indígena, ambientalista e filósofo brasileiro Ailton Krenak lançou o livro “Ideias para adiar o fim do mundo”. O pequeno encarte, com um pouco mais de 80 páginas, não poderia ter surgido em melhor época servindo simultaneamente como alento e como alerta à uma humanidade que via os rumos da história se contorcendo diante dos seus olhos.
Há algumas semanas, o Instituto Real de Arquitetos Britânicos (RIBA) anunciou a estudante ganhadora do subsídio de viagem RIBA Norman Foster 2023. Trata-se da peruana Martha Pomasonco que obteve a bolsa em reconhecimento ao seu projeto intitulado “Barrios Mejorados”.
A pesquisa que conquistou o júri investigará o impacto dos mais bem-sucedidos programas de melhoria nos assentamentos informais aplicados em alguns países latino-americanos a fim de encontrar lições de projeto relacionadas à sustentabilidade social e ambiental. Sua investigação parte da ideia de que 80% da população da América Latina vive em cidades, o que a torna a região mais urbanizada do planeta. Dessa porcentagem, entretanto, estima-se que 15% viva em assentamentos informais caracterizados principalmente pela infraestrutura inadequada e baixa qualidade de vida. Por este motivo, nos últimos 30 anos, diferentes programas de melhoria foram aplicados tendo como fator chave para seu sucesso a participação dos cidadãos em todas a etapas de projeto.
A discriminação das mulheres dentro da profissão na arquitetura é um tema que vem sendo abordado com cada vez mais frequência. Inúmeras situações listadas e ilustradas vão desde a discrepância salarial em comparação com os homens, a falta de respeito no gerenciamento de obras e equipes por parte dos funcionários do sexo masculino, a histórica invisibilidade e consequente falta de reconhecimento das mulheres na carreira, entre muitas outras. Diferentes desmotivações as quais fazem com que, mesmo sendo maioria dentro dos cursos de arquitetura pelo mundo, muito poucas são as mulheres que conseguem se consolidar e ganhar destaque dentro da profissão.
Entretanto, o sexismo não para por aí. Além da discriminação sofrida em termos profissionais, é possível perceber a objetificação da mulher também na imagem e nos conceitos arquitetônicos.
Após anos de reinado, as linhas ortogonais e os ângulos retos nos projetos de interiores estão cedendo lugar aos desenhos orgânicos e formas arredondadas. Com essa significativa mudança na linguagem formal, percebe-se cada vez mais a invasão de curvas delicadas e volumes amorfos nas peças de design, mobiliários e elementos decorativos. Há quem diga que essa situação pode estar indiretamente associada ao aumento no interesse pela sustentabilidade e na busca por estratégias que aproximem o homem da natureza, como o próprio conceito de biofilia, constantemente presente em projetos de diferentes escalas. Uma condição reforçada ainda pelo período de isolamento social na pandemia de Covid-19, o qual incitou as pessoas a criarem maneiras pelas quais a natureza pudesse estar presente dentro das casas, aumentando o bem-estar no cotidiano.
Não é novidade que a questão de gênero permeia toda a nossa organização como sociedade e sistema, refletindo diretamente a dualidade dos "papéis femininos e masculinos" e seus mecanismos de opressão de gênero. No âmbito da arquitetura e do urbanismo isso não é diferente. Ao longo dos séculos, as cidades e suas edificações têm se mantido e se transformado de forma a priorizar as demandas de um perfil bem específico de usuário. Tal estrutura, obviamente, não considera outras identidades e formas de apropriação, ou seja, a demanda real e toda a sua diversidade de classes sociais, gênero, cores, faixas etárias, orientações sexuais, etc. São planejamentos e projetos disfarçados de uma concepção “neutra”, mas que na verdade reproduzem o olhar de um homem branco de classe média.
As calhas, como o próprio nome diz, são elementos de canalização instalados ao longo dos beirais de telhados e varandas e possuem a função de coletar a água da chuva que escorre na superfície da cobertura e direcioná-la aos devidos condutores. Independentemente do seu material, que pode ser alumínio, PVC, concreto, aço galvanizado, entre outros, seu dimensionamento é fundamental pois, dependendo do clima onde o projeto está inserido, os prejuízos causados por sua aplicação incorreta podem ser consideráveis.
O conceito de sustentabilidade social está cada vez mais presente nas discussões arquitetônicas contemporâneas à medida que a valorização dos usuários — por meio de necessidades subjetivas e não estáticas — tem se tornado protagonista no momento da concepção projetual. A sustentabilidade social na arquitetura trata, portanto, de projetar e construir edifícios e espaços urbanos que promovam o bem-estar, a inclusão e a coesão das comunidades. Ela se concentra na criação de ambientes que viabilizem interações sociais positivas, apoiem diversas necessidades e melhorem a qualidade de vida geral das pessoas que habitam e usam esses espaços. Uma arquitetura socialmente sustentável considera os aspectos sociais, culturais, econômicos e de saúde de uma comunidade, com o objetivo de enfrentar os desafios sociais e proporcionar benefícios de longo prazo aos moradores.
O ano era 1969. Lina Bo Bardi vagava pelo bairro paulistano do Bixiga, que na época mais parecia uma zona de guerra. As clareiras e pilhas de escombros eram resultado de uma urbanização violenta que cortava a região sob a forma do complexo viário leste-oeste de São Paulo.
Nesse contexto, Lina recolhia objetos pessoais encontrados nos entulhos, catava o que havia de mais sórdido, como Zé Celso, diretor e criador do Teatro Oficina, afirmou em entrevista. Essa operação tinha um motivo, compor o cenário da peça Na selva das cidades, desenhado pela própria arquiteta. Nela, conformava-se um palco em forma de ringue de boxe materializado pelos entulhos das demolições ocorridas no entorno do teatro. Uma peça dividida em 11 rounds no qual em cada um deles destrói-se uma instituição até destruir o próprio ringue. No final, os atores retiram o até o piso do teatro e chegam na terra.
Projeto de Redesenvolvimento da Favela de Sanjaynagar - Equipe técnica reunida com membros do Comitê de Favela. Imagem Cortesia da Community Design Agency
O tempo em que o Modulor – homem perfeito de Le Corbusier – era o único que "poderia" ocupar nossas cidades e arquiteturas ficou no passado. Há algumas décadas, constatou-se que os ambientes estavam sendo criados como uma representação ideológica que não refletia a demanda real e toda a sua diversidade de classes sociais, gênero, cores, faixas etárias, orientação sexual, entre outros. Planejamentos e projetos disfarçados de uma concepção “neutra”, mas que na verdade reproduzem o olhar de um homem branco de classe média. Nesse sentido, chegou o momento em que a cidade deveria deixar de ser organizada a partir dessa experiência errônea de uma apropriação universal e materializar em seus espaços as necessidades particulares de cada cidadão.
Segundo pesquisas recentes, o mercado da moda movimenta anualmente cerca de 2,4 trilhões de dólares no mundo. Um número exorbitante que, infelizmente, compara-se aos dados do seu desperdício. Estima-se que, a cada segundo, o equivalente a um caminhão de lixo cheio de sobras de tecidos é queimado ou descartado em aterros sanitários. Levando em conta que tecidos como o poliéster, amplamente utilizado na confecção, demora em média 200 anos para se decompor, é fácil prever o futuro catastrófico dessa operação. Nesse sentido, notícias alarmantes constantemente vêm à tona como as imagens do imenso cemitério de roupas usadas no deserto do Atacama divulgadas alguns anos atrás ou o relato de que a famosa marca de luxo britânica Burberry incinerou roupas, acessórios e perfumes não vendidos no valor de 28,6 milhões de libras no ano passado para preservar a marca, alegando que a o gás carbônico emitido com a ação foi compensado, tornando a atitude “ambientalmente sustentável”.
Designado pela Organização das Nações Unidas (ONU), 17 de junho foi definido como Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca, uma data que serve para sensibilizar as pessoas em relação a esses fenômenos, bem como promover ações de enfrentamento. Em linhas gerais, a desertificação refere-se ao processo de degradação da terra em regiões mais áridas, causado principalmente por atividades humanas e variações climáticas. Esse fenômeno leva à perda de cobertura vegetal, erosão do solo e redução da produtividade agrícola, entre outras consequências negativas. A seca, por outro lado, é um período prolongado de chuvas anormalmente baixas, resultando em escassez de água, que pode ter impactos severos nos ecossistemas, na agricultura e na subsistência humana.