No início do século XIX, em uma Paris prestes a ter seu tecido medieval rasgado pelos enormes bulevares de Haussmann, a romancista George Sand se vestia como homem para andar pelas ruas. Segundo seus diários, “de calças e botinas podia voar de uma ponta a outra da cidade, qualquer que fosse o clima, a hora e o local”. Ninguém lhe dava atenção, ninguém adivinhava seu disfarce, ninguém a olhava ou criticava, ela era mais um “átomo perdido naquela imensa multidão”. Graças às vestes masculinas, Sand vivenciou incursões destemidas e percursos solitários, como um verdadeiro flâneur. Experiências que, posteriormente, se tornaram fundamentais para a construção de suas narrativas de sucesso.
Camilla Ghisleni
Camilla Ghisleni é Arquiteta e Urbanista, formada pela Universidade Federal de Santa Catarina e Mestre em Urbanismo, Cultura e História da Cidade pela mesma universidade. É sócia-fundadora do escritório Bloco B Arquitetura e colabora com o ArchDaily Brasil desde 2014.
O direito de caminhar pela cidade: poderia uma mulher ser “flâneuse”?
Reality show de reforma: fato ou ficção?
Programas e séries televisivas sobre reformas são sedutoras. Sentimentos uma ansiedade em ver aquele lar remodelado de uma forma inimaginável, proporcionando uma reconexão da família com o novo espaço. As lágrimas no final, o apresentador-arquiteto-empreiteiro satisfeito com o resultado, os pisos intactos de madeira, eletrodomésticos brilhantes, banheiras novas prontas para serem estreadas. Não é à toa que esses programas estão ganhando cada mais público e, consequentemente, inspirando muitas transformações nas casas alheias.
Mas, se por um lado, eles fomentam a vontade de mudança nos espectadores, mostrando as infinitas possibilidades ao transformar e melhorar um espaço, por outro, eles podem reproduzir conceitos equivocados sobre a arquitetura, principalmente em relação ao processo de concepção e execução.
Ecocapitalismo e arquitetura: materiais e tecnologias a favor do meio ambiente
Houve um tempo em que os edifícios queriam ser montanhas, os telhados queriam ser florestas, os pilares queriam ser árvores. Enquanto o mundo começava a entrar em estado de alerta com os derretimentos das geleiras e o consequente aumento da temperatura terrestre, a arquitetura – desde uma perspectiva geral – estava preocupada em imitar a forma da natureza. Uma aproximação de “ecossistemas” feitos pelo homem vista por muitos como figurativa e decorativa, estando a serviço de imagens comercializáveis de um “desenvolvimento sustentável”.
Como o metaverso pode ser usado na preservação de edifícios históricos
Imagine que você tem agendada uma visita à uma edificação muito importante para a história da arquitetura, uma obra-referência para todos os entusiastas do meio. Você provavelmente se equiparia com uma câmera fotográfica ou um bom celular, em alguns casos, levaria lápis, caderno e até uma trena para registrar curiosamente todos os seus aspectos.
Hoje em dia, entretanto, esse não é único meio pelo qual podemos “visitar” uma edificação de importância histórica ou, pelo menos, é o que alguns pesquisadores estão se esforçando em mostrar. Além de todas as facetas assumidas pelo metaverso, está sendo explorado também o seu papel na preservação histórica da arquitetura e da cultura de determinados locais, gerando materiais disponíveis para diferentes gerações.
Copa do Mundo no deserto: como o Qatar lidará com as altas temperaturas dentro dos estádios
Pela primeira vez na história das Copas do Mundo o torneio de seleções será realizado entre os meses de novembro e dezembro. Essa decisão se deu devido ao clima extremo do país-sede nos meses de junho e julho, quando o Qatar atinge temperaturas médias de 40 a 50°C.
O que é arquitetura “cradle to cradle”?
O termo “cradle to cradle” foi cunhado pelo arquiteto estadunidense William McDonough e pelo engenheiro químico alemão Michael Braungart em seu livro-manifesto Cradle to Cradle: Remaking the Way We Make Things, lançado em 2002. Trata-se de uma teoria que não é meramente arquitetônica, mas se aplica em qualquer produto, promovendo uma abordagem biológica à fabricação na qual os componentes são considerados nutrientes em um “metabolismo saudável”.
Envelhecendo em casa: preparando a arquitetura para uma população idosa
Envelhecer significa aprender a conviver com a dependência — seja ela física, social ou espacial — e nesse longo processo, que sequer pode ser medido em anos, cada vez mais se entende que o envelhecimento está muito relacionado à genética, ao estilo vida, à localização e ao grupo socioeconômico. Por isso, trata-se de um processo muito diversificado, variando conforme cada indivíduo, com uma gama de interesses diferentes assim como capacidades e preferências no modo de vida.
Poética do espaço e saúde mental: como a arquitetura pode ajudar a evitar suicídios
De acordo com a última pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde – OMS, em 2019 foram registrados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo. No Brasil, os registros se aproximam de 14 mil casos por ano, ou seja, em média 38 pessoas cometem suicídio por dia. Nesse contexto foi criado no Brasil o “Setembro Amarelo”, maior campanha anti-estigma do mundo que incentiva todos à atuarem ativamente na conscientização e na prevenção do suicídio, tema que ainda é visto como tabu.
A poética da multidisciplinaridade: conhecendo a obra de Isay Weinfeld
O estilista Paul Smith, a banda britânica Radiohead e o diretor de cinema sueco Ingmar Bergman parecem não ter nada em comum, exceto por serem constantemente citados como grandes inspirações para o arquiteto paulistano Isay Weinfeld. Uma gama multidisciplinar de influências que diz muito sobre a sua personalidade e, consequentemente, sobre suas obras.
Metaverso na prática: como construir no espaço digital
“Todos os espaços físicos que nós (arquitetos) projetamos – edifícios, interiores e cidades já nascem como metaespaços, e nós os chamamos de modelos 3D”. Com essa afirmação Brian Jencek, diretor de planejamento da empresa de arquitetura HOK, de San Franciso, estreita os limites entre o modo de projetar atual e o futuro da arquitetura no metaverso. Segundo ele, não estamos tão longe assim dessa tecnologia, visto que, já usamos as mesmas ferramentas que os designers visuais utilizam, como Unity, Twin motion e Blender, para criar ambientes realistas.
O metaverso será o fim da engenharia?
Imagine o dia a dia de um arquiteto hoje. Surge a demanda de um novo projeto, uma tela em branco repleta de inúmeras possibilidades. O deleite criativo prestes a ser iniciado. Estabelece-se as condicionantes principais: programa de necessidades, análise do terreno e entorno, orientação solar e ventos predominantes. Criam-se os primeiros esboços, sempre aliados com um conhecimento estrutural, mesmo que básico, fundamentalmente determinante para quem vive na aceleração gravitacional de 9,807 m/s².
Mas, e se dessas premissas básicas, restar apenas o programa de necessidades?
Materiais e técnicas de construção dos povos indígenas brasileiros como futuro para a arquitetura
“Devíamos admitir a natureza como uma imensa multidão de formas, incluindo cada pedaço de nós, que somos parte de tudo”, diz Ailton Krenak, renomado líder indígena, no seu livro Ideias para adiar o fim do mundo. A cultura dos povos originários não entende humanidade e meio ambiente como coisas separadas ou superiores uma à outra, mas sim, como partes de um todo. Por meio desse entendimento particular do universo, esse povos são conduzidos à uma apropriação sensível do território, com crenças estruturantes que se refletem também na sua arquitetura, elevando o próprio conceito de sustentabilidade a outro patamar, já que, a natureza não é vista como um recurso a ser utilizado, ela é pensada como parte da comunidade.
O que são biomateriais na arquitetura?
Como parte do esforço para tornar o setor da construção civil mais sustentável no enfrentamento da crise climática, a bioeconomia tem ganhado destaque. Embora o caminho para uma arquitetura neutra em carbono ainda seja muito complexo, é evidente a mudança emergente na cultura e no pensamento geral, e a inovação parece estar impulsionando tal transformação.
Arquitetura no campo ampliado: conhecendo a obra de gru.a arquitetos
Em meio à diversidade programática e à experimentação, o escritório carioca gru.a é um alento aos que desejam se aventurar pelo campo ampliado da arquitetura. Formado pelos sócios Caio Calafate e Pedro Varella em 2013, gru.a demostra o potencial da profissão quando dialoga com outras disciplinas.
O que é o Estatuto da Cidade?
Até meados da década de 1950, o Brasil era um país de população predominantemente rural, com menos de 30% dos habitantes vivendo em áreas urbanas. Entretanto, com o acelerado processo de industrialização, o país vivenciou um grande êxodo rural na transição de um modelo agrário-exportador para um modelo urbano-industrial, modificando drasticamente a paisagem de suas cidades em menos de 50 anos. Como consequência dessa rápida transformação produziu-se um modelo de urbanização predatório e desigual e é nesse contexto que surge o Estatuto da Cidade.
Mulheres por trás das lentes: 15 fotógrafas brasileiras
A fotografia de arquitetura tem sido historicamente um gênero dominado por homens, assim como a própria arquitetura e a indústria da construção em geral. Mas esse cenário está mudando rapidamente. Alguns dos maiores nomes da fotografia de arquitetura muntial agora são mulheres e no campo nacional, não é diferente. Ao enfrentar barreiras de gênero, sendo uma das principais dificuldades a exposição ao espaço público em horas não usuais, carregando equipamentos valiosos — como a fotógrafa Ana Mello já afirmou em entrevista — essas profissionais estão rompendo paradigmas e eternizando as obras com seus olhares aguçados e sensíveis.
Como a inclusão de gênero está influenciando o desenho urbano
Na década de 1970, em Berkeley, Califórnia, um grupo ativista dos direitos das pessoas com deficiência, chamado Rolling Quads, começou a desmontar os meios-fios e instalar rampas improvisadas nas calçadas, exigindo acesso para os cadeirantes. Mas, o que as pessoas não esperavam era que os usuários de cadeiras de rodas não seriam os únicos a se beneficiar da intervenção. Logo, pedestres com carrinhos de bebê, compras pesadas, malas ou simplesmente com mobilidade reduzida passaram a usar regularmente as rampas. Da mesma forma, uma cidade com inclusão de gênero funciona melhor para todos. Uma cidade onde todas as minorias de gênero, com idades e habilidades diferentes, podem se locomover com facilidade e segurança, participar plenamente da força de trabalho e da vida pública, levar uma vida saudável, sociável e ativa é uma cidade que melhora a vida de todos.