Camilla Ghisleni

Camilla Ghisleni é Arquiteta e Urbanista, formada pela Universidade Federal de Santa Catarina e Mestre em Urbanismo, Cultura e História da Cidade pela mesma universidade. É sócia-fundadora do escritório Bloco B Arquitetura e colabora com o ArchDaily Brasil desde 2014.

NAVEGUE POR TODOS OS PROJETOS DESTE AUTOR

Ecofeminismo na arquitetura: empoderamento e preocupação ambiental

O conceito de sustentabilidade surgiu na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (UNCHE), realizada em Estocolmo em 1972, e foi cunhado pela norueguesa Gro Brundtland no Relatório “Nosso Futuro Comum” (1987). De acordo com essa definição, o uso sustentável dos recursos naturais deveria “suprir as necessidades da geração presente sem afetar a possibilidade das gerações futuras de suprir as suas”. Entretanto, apesar da urgência do conceito e da constante evolução que ele tem sofrido ao longo do tempo, sua aplicação ainda se limita muitas vezes ao uso controlado dos recursos naturais e à preservação da vida selvagem. Ou seja, está baseada em relações e ações que abordam a situação sob a perspectiva do “homem versus natureza”, como um entendimento dicotômico em detrimento de uma visão holística.

Tire os calçados: 5 pisos para se andar descalço

A pele absorve a matéria, o mundo é contemplado, tocado, ouvido e medido por meio da nossa existência corporal. Juhani Pallasmaa, arquiteto finlandês conhecido por propagar a ideia da arquitetura dos sentidos, além da frase acima defende que, ao contrário da visão, o toque é o sentido da proximidade tornando-se assim um eixo principal ao recobrir todo o corpo. É fato que, quando se fala em toque, a primeira imagem que vem à mente geralmente é o contato com as mãos, entretanto, existem outras maneiras de se sentir a arquitetura que podem ser pensadas e desenvolvidas nos projetos, como o toque dos pés descalços sobre uma determinada superfície.

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A casa como pele: trazendo Hundertwasser para o século XXI

“Eu sou tolerante. Mas revolto-me. Acuso. É a minha obrigação. Estou sozinho. Por trás de mim não há qualquer ditadura, qualquer partido, qualquer grupo, nem qualquer máfia. Nem um esquema intelectual coletivo, nem uma ideologia. A revolução verde não é uma revolução política. É sustentada pela base e não é nem minoritária nem elitista. É uma evolução criadora em harmonia com o curso orgânico da natureza e do universo.”

O parágrafo acima foi proferido em meados do século XX por Friedensreich Hundertwasser, artista e arquiteto austríaco nascido em 1928 que marcou a história da arquitetura com seu estilo único de incorporar formas irregulares e vibrantes nas obras. Seus projetos eram um verdadeiro manifesto contra a arquitetura racional e repetitiva nos quais há direito de intervenções nas janelas para os inquilinos, pisos irregulares, telhados verdes e vegetação espontânea. Como arquiteto, ele sempre colocou a diversidade antes da monotonia, acreditando no direito de cada indivíduo de modificar a sua casa e expressar sua criatividade. Porém, acima de tudo, Hundertwasser acreditava na importância da identificação do homem com a natureza e o mundo ao seu redor, abordando conceitos relacionados à vida em comunidade e ao respeito pelo meio ambiente.

O que é iluminação centrada no ser humano?

Da ampola de vidro vazia de Thomas Edison aos LEDs controlados por inteligência artificial, centenas de anos se passaram representando uma evolução constante a qual culmina no que hoje conhecemos como iluminação artificial. Edison não poderia imaginar o quanto nos tornaríamos dependentes da sua invenção quase dois séculos depois, levando um modo de vida no qual permanecemos até 90% do nosso tempo em ambientes fechados e privados de luz natural, como shoppings e escritórios. Locais onde a luz artificial permanece constante ao longo dos dias, sem sofrer qualquer tipo de oscilação em relação à temperatura de cor ou intensidade luminosa, onde a iluminação artificial praticamente anula a diferença entre o dia e a noite.

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O que é arquitetura kitsch?

Alguns autores afirmam que o termo kitsch tem origem alemã e surgiu no vocabulário artístico por volta de 1860 a partir do verbo kitschen/verkitschen (trapacear, vender alguma coisa em lugar de outra). Outros, como Guimaraens & Cavalcanti (1979), afirmam que há também uma origem do termo na língua inglesa, provinda da palavra sketch, que significa esboço. Na segunda metade do século XIX, quando os turistas americanos queriam comprar uma obra de arte a preço barato eles pediam um sketch.

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O papel da sombra na arquitetura vernacular

Sempre que a luz incidir sobre uma superfície haverá sombra, não importa o quão insignificante seja seu foco. Os contornos reais dificilmente serão visíveis, mas outras formas virão à tona nesse jogo de claro e escuro. No caso de serem projetadas pela dança solar, soma-se às sombras uma dinâmica latente que pode ser usada para intensificar fenômenos do cotidiano, quebrando a monotonia do espaço. Aberturas ortogonais em um longo corredor ou tramados de peças vazadas em um pátio são exemplos de elementos construtivos que criam manchas de luz e sombra trazendo, além do deleite estético, conforto térmico aos seus usuários. Dessa forma, torna-se evidente que esses elementos intangíveis são partes essenciais em um ambiente tanto que, muito antes de Louis Kahn declarar o poder das sombras, eles já vinham sendo manipulados.

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O que são infraestruturas vivas?

O significado de infraestrutura já é amplamente conhecido pela população em geral, tendo como definição simplificada um conjunto de serviços fundamentais para o desenvolvimento socioeconômico de uma região, tais como saneamento, transporte, energia e telecomunicação. Os exemplos corriqueiramente apresentados sempre dizem respeito a estruturas físicas construídas pelo homem, entretanto, uma nova concepção de infraestrutura vem surgindo nas últimas décadas impulsionada, principalmente, pela urgência da reconciliação entre humano e natureza para a sobrevivência das espécies.

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O que é economia circular?

O conceito de economia circular ganhou uma definição mais precisa em 1990 quando surgiu no artigo Economics of Natural Resources and the Environment (Economia dos Recursos Naturais e do Meio Ambiente), dos economistas e ambientalistas britânicos David W. Pearce e R. Kerry Turner. Na época, o principal intuito da pesquisa era demonstrar que a economia tradicional não incorporava a reciclagem. Desse modo, o meio ambiente assumia um papel secundário, tal qual um simples reservatório de resíduos. A economia circular ganharia forças, portanto, como uma oposição à economia linear, ou tradicional, em que a cadeia produtiva é regida sob o lema “extrair, produzir e descartar”. Um modelo profundamente enraizado na nossa economia, mas que tem se tornado insustentável por diversos motivos como o esgotamento dos recursos naturais, a contaminação do meio ambiente decorrente da produção e descarte, entre outros.

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Qual a diferença entre estrutura de concreto pré-moldada e pré-fabricada?

Os elementos pré-moldados e pré-fabricados feitos em concreto (como lajes, pilares, vigas e paredes) fazem parte do processo construtivo conhecido como construção modular. Uma metodologia de construção civil definida por etapas, partindo da padronização das partes que configuram a edificação, com seus módulos produzidos em linha de montagem, transportados e montados para dar forma à arquitetura.

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Da planta livre ao home office: a evolução dos escritórios de arquitetura ao longo do tempo

O termo escritório, do latim scriptorium, significa "lugar de escrita” e, talvez por isso, geralmente a primeira imagem que vem à tona é um espaço composto por uma mesa e uma cadeira. Mas nem sempre foi assim. Na idade média, os mosteiros eram os principais locais destinados ao estudo e conhecimento, com salas privadas destinadas a auxiliar na concentração dos monges durante os períodos de pesquisa. No entanto, registros afirmam que tais espaços não eram considerados propriamente confortáveis, visto que os estudiosos permaneciam em pé na maior parte do tempo. 

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O que são e como funcionam as "wetlands" artificiais?

O Dia Mundial das Wetlands (ou áreas úmidas/alagáveis) é celebrado todos os anos em 2 de fevereiro com o intuito de aumentar a consciencialização sobre esses ambientes. Esse dia também marca o aniversário da convenção sobre áreas úmidas, adotada como um tratado internacional em 1971. Sua promulgação se deve ao fato de que quase 90% das áreas úmidas do mundo foram degradadas desde 1700, sendo dizimadas três vezes mais rápido do que as florestas. No entanto, são ecossistemas extremamente importantes que contribuem para a biodiversidade, mitigação e adaptação climática, disponibilidade de água doce, economias mundiais e muito mais.

Arquiteturas flutuantes: o futuro construído sobre a água

Provavelmente você deve conhecer a história de um senhor que recebeu a ordem divina para construir uma arca a qual abrigaria sua família e animais de todas as espécies, salvando-os de uma inundação. Essa narrativa do dilúvio, conhecida como a história da “Arca de Noé”, é encontrada não apenas na Bíblia, mas também no Alcorão e em muitas outras culturas, sendo o sumério “Épico de Ziusudra” o mito da inundação mais antigo que se tem conhecimento, datado de 2.000 a.C. Esses exemplos nos mostram que as forças da natureza, ao protagonizarem ensinamentos religiosos, já eram preocupações recorrentes que impunham, ao mesmo tempo, temor e respeito nas civilizações.

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O que são corredores ecológicos?

Os corredores ecológicos, ou corredores de biodiversidade, são grandes porções de terra que recebem ações coordenadas, cujo objetivo é a proteção da diversidade biológica. Segundo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), eles envolvem o fortalecimento e a conexão de áreas protegidas dentro do corredor, incentivando usos de baixo impacto ao implementar uma alternativa mais abrangente, decentralizada e participativa de conservação.

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Conheça o cimento comestível: material inovador que utiliza resíduos alimentares na construção civil

Adicione folhas de repolho, cascas de laranja, cebola, banana e alguns pedaços de abóbora para obter... cimento. Isso mesmo, pesquisadores da Universidade de Tóquio, no Japão, desenvolveram uma técnica por meio da qual é possível produzir cimento a partir de resíduos alimentares. A iniciativa inovadora, além de ser utilizada na construção, é literalmente comestível. Ajustando sabores e utilizando alguns temperos, o cimento quebrado em pedaços e fervido pode se tornar uma bela refeição.

A dança das superfícies: pisos irregulares e o resgate do equilíbrio humano

"O piso plano é uma invenção dos arquitetos. Adapta-se a máquinas, não a seres humanos." Inspirado pelos secessionistas vienenses e pelos artistas austríacos Egon Schiele e Gustav Klimt, assim como pelas ousadas formas gaudinianas, o autor dessa frase, Friedensreich Hundertwasser (1928-2000), foi um prolífico pintor, escultor e arquiteto. Suas obras são marcadas pela dualidade entre a disciplina e a indisciplina, entre o esperado e o inesperado, o racional e o irracional. Na sua aventura criativa, Hundertwasser não era um simples inimigo da linha reta, ele desprezada o racionalismo arquitetônico reivindicando formas fluídas e cores marcantes.

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Tradição e inovação: conhecendo a obra de aflalo/gasperini arquitetos

Foi no início da década de 1960 que os jovens arquitetos Plínio Croce e Roberto Aflalo se uniram a Gian Carlo Gasperini para participar do maior concurso internacional da época, organizado pela UIA (Associação Internacional de Arquitetos). O desafio era projetar a mais alta torre de escritórios da América Latina que abrigaria a sede da Peugeot, em Buenos Aires. A vitória no concurso, com o edifício de 55 andares, foi o incentivo que faltava para criarem o aflalo/gasperini arquitetos apostando em projetos contemporâneos, focados em aspectos tecnológicos e, como eles mesmo definem, apresentando uma linguagem clara e honesta, sempre visando a satisfação dos clientes.

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Piscinas naturais: pequenos ecossistemas para o lazer

Em um momento no qual muito se valoriza a biofilia na arquitetura, as piscinas naturais se tornam mais um elemento capaz de aumentar a conexão com a natureza, possibilitando a criação de um espaço recreativo e contemplativo ao mesmo tempo. Também conhecidas como piscinas ecológicas ou biológicas, elas reproduzem um ecossistema composto por plantas, pedras e até mesmo algumas espécies de peixes.

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Por que algumas casas são elevadas do solo?

A estratégia de elevar as casas do solo ganhou popularidade na década de 1920 quando Le Corbusier anunciou as estruturas sobre pilotis como um dos cinco pontos da arquitetura moderna. Uma grande contribuição, principalmente na questão urbana, pois possibilita a criação de um espaço livre com maior conexão entre âmbito público da rua e o privado da edificação. A sua icônica Villa Savoye é um exemplo paradigmático do emprego de pilotis que preserva o terreno natural e, como o próprio Le Corbusier afirma, assenta a casa sobre a grama como um objeto, sem molestar nada. Além disso, os pilotis também serviram como estratégia para o fluxo de veículos, o que pode ser visto na – igualmente emblemática – Casa de Vidro da Lina Bo Bardi e seus esbeltos tubos de aço. Dispostos em uma modulação de quatro módulos de largura por cinco de profundidade, eles mantêm a casa como uma caixa transparente flutuante em meio a natureza respeitando o terreno e auxiliando no conforto térmico da edificação ao permitir a circulação de ar.

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