Playtime movie (Jaques Tati 1967) . Image via screenshot
Espera-se que a crítica de arquitetura e o jornalismo anunciem “o bom, o ruim e o feio” na arquitetura e no ambiente construído. Seus propósitos, porém, vão além disso. Como disse Michael Sorkin, “vendo além da novidade brilhante da forma, é papel da crítica avaliar e promover os efeitos positivos que a arquitetura pode trazer à sociedade e ao mundo em geral”. Em outras palavras, ao nos dizer o que estão vendo, os críticos também estão nos mostrando onde olhar para identificar e abordar os problemas que assolam nosso ambiente construído.
O campo do jornalismo de arquitetura tem sido liderado por escritoras mesmo em tempos nos quais que a busca pela carreira na arquitetura era desencorajada e inacessível para as mulheres. Ada Louise Huxtable estabeleceu a profissão de jornalista de arquitetura ao ocupar o primeiro cargo em tempo integral de crítica de arquitetura em um jornal americano de interesse geral. Em 1970, ela também recebeu o primeiro Prêmio Pulitzer de crítica. Esther McCoy começou sua carreira como desenhista em um escritório de arquitetura mas, por causa de seu gênero, foi desencorajada a se formar como arquiteta profissional, apesar de suas ambições de se especializar na área. Através de seus escritos, ela conseguiu chamar atenção para a cena arquitetônica negligenciada da costa oeste americana e defender os valores do modernismo regional.
“Um dos primeiros resultados que encontrei quando estava pesquisando sobre arquitetura feminina no Google foi um arranha-céu na Austrália, cujos arquitetos disseram ter se inspirado nas curvas de Beyoncé quando o construíram”, narrou a arquiteta holandesa Afaina de Jong em sua última palestra do TEDxAmsterdamWomen em 2021. “É sério? O corpo dela? Beyoncé? Claro, ela é incrível, mas literalmente traduzir seu corpo em um prédio... Isso é arquitetura feminina?”, continuou ela, indignada.
De Jong é fundadora do estúdio AFARAI, onde trabalha com uma metodologia interdisciplinar combinando teoria e pesquisa com design. Ela considera seu ateliê “uma prática feminista que incentiva a mudança em questões sociais e espaciais e que acomoda as diferenças”, então Afaina provavelmente está familiarizada com o conceito de 'interseccionalidade'.
O conceito de “olhos da rua” talvez seja o mais famoso dentro da literatura arquitetônica e urbanística quando o assunto é segurança urbana. Jane Jacobs utiliza essa expressão para se referir às pessoas que – de forma consciente ou inconsciente – utilizam os espaços públicos ou os contemplam desde suas casas, gerando uma vigilância natural. Um movimento que, no âmbito da nossa disciplina, é fomentando tanto por meio de espaços públicos de qualidade quanto pela potente relação entre o público e o privado criada através das fachadas das edificações. Defendendo esse controle cotidiano, Jacobs acredita em um modo de fazer arquitetura e cidades que condena a verticalização em excesso, reforçada por edifícios isolados e de uso único os quais negam o contato com rua.
Ilustração "Ser Mulher nas Ruas", técnica de colagem digital, fonte Luíza Chiarelli de Almeida Barbosa, 2022
Você já parou para refletir se as ruas do centro da sua cidade influenciam na sua forma de agir?
O centro das cidades é um microcosmo urbano onde, especialmente, as experiências das mulheres são profundas e silenciosas. Em 2022, um exercício etnográfico lançou luz sobre as dinâmicas vividas por mulheres que circulam por quatro pontos da região central de Curitiba: o Terminal do Guadalupe, a esquina entre a Rua Pedro Ivo e a Travessa da Lapa, o trecho pedonal da Rua XV de Novembro, entre a Rua Marechal Floriano Peixoto e a Rua Monsenhor Celso, e a Praça General Osório.
https://www.archdaily.com.br/br/1012023/ser-mulher-nas-ruas-da-cidade-um-olhar-filosofico-e-etnograficoLuíza Chiarelli de Almeida Barbosa e Aline Barbosa
Dizem que não importa o que acontece, mas como você vê. Também dizem que a literatura não reproduz a realidade, mas sim cria outra. Tudo começa com uma ideia. Só uma ideia. Imagem e imaginação andam juntas, isso significa que elas constituem o mecanismo para percepção, pensamento, linguagem e memória do homem. E em essência, arquitetura nada mais é do que organizar ideias. A pergunta é: como organizar as ideias? Ou ainda, como você vê as coisas? Existe mesmo percepção sem contexto social e cultural? A resposta curta é não. A resposta longa envolve antropologia interpretativa, um pouco de teoria e muita, muita crítica.
Porto alegre e suas 8 Regiões de Planejamento e Gestão
Frente aos processos bastante conturbados de Revisão do Plano Diretor de Porto Alegre, a sexta edição do micro festival de caminhadas terá como tema “os efeitos de um Plano Diretor na vida cotidiana", entendendo que é urgente aproximar a população deste importantíssimo debate, abrindo diferentes frentes de resistência, tanto nas esferas jurídicas e administrativas, quanto no campo social, repactuando uma cidade desejável, muito além do modelo de cidade neoliberal orientada ao consumo e ao individualismo que setores da Administração Pública e da iniciativa privada querem nos impor.
Como a ativista, jornalista e urbanista Jane Jacobs opinaria frente ao processo de revisão
Preparamos uma lista abrangente com 125 livros de arquitetura e temas relacionados que consideramos interessantes para ampliar seus conhecimentos sobre a disciplina.
Buscamos títulos de diferentes partes do mundo com o objetivo de apresentar visões que dizem respeito a contextos culturais distintos. De compilações de ensaios e teorias sobre o crescimento das cidades a romances que flertam com a arquitetura e séries de ilustrações e gravuras.
Veja, a seguir, nossas sugestões acompanhadas por uma breve descrição.
https://www.archdaily.com.br/br/901773/os-116-melhores-livros-de-arquitetura-para-profissionais-e-estudantesArchDaily Team
Sob a esfera geodésica da Spaceship Earth e a exibição de culturas mundiais que simbolizam o EPCOT da Disney World está a visão de uma cidade utópica. A proposta original do EPCOT —uma comunidade construída em torno da inovação — foi um dos últimos projetos visionários de Walt Disney. Incomodada com a expansão urbana aleatória, a Disney teve ideias ousadas para um tecido urbano que impulsionaria o progresso nos Estados Unidos. AExperimental Prototype Community of Tomorrow [Comunidade Protótipo Experimental do Amanhã] foi o antídoto de Walt Disney para a decadência das cidades americanas.
A contribuição de Jane Jacobs ao modo de se olhar e pensar as cidades foi das mais importantes do urbanismo contemporâneo, fato visível na recorrência de suas ideias em debates cujo tema é a cidade, nos quais “Morte e Vida de Grandes Cidades” (The Death and Life of Great American Cities, 1961) é com frequência destacado. A obra só foi traduzida para o português e publicada no Brasil em 2000, pela Editora Martins Fontes.
https://www.archdaily.com.br/br/983112/a-recepcao-de-jane-jacobs-no-brasilAllan Pedro dos Santos Silva
Os edifícios ao redor do mundo estão ficando mais altos. Desde o ano 2000, a construção global de arranha-céus aumentou em 402%. Cidades como Dubai abrigam quase 1000 arranha-céus, e o vibrante mercado imobiliário de luxo de Nova York não mostrou sinais de desaceleração, com mais adições de arranha-céus a serem acrescentadas à sua já imponente linha do horizonte. Isto é bom — os arranha-céus criam um espaço muito necessário em cidades já densas e podem reduzir a expansão urbana nos centros das cidades, permitindo uma melhor preservação das áreas naturais.
O passeio de Jane faz parte da iniciativa de Jane's Walk, um festival anual que visa homenagear a ativista e urbanista Jane Jacobs realizando ações e passeios de cidades ao redor do mundo, para recuperar as ruas como um espaço público de coexistência e encontro entre os cidadãos. Este texto sobre O Passeio de Jane Jacobs, de autoria de Susana Jiménez, compõe um grupo de guias, disponibilizados pelo projeto "La Aventura de Aprender", concebido e coordenado por Antonio Lafuente e Patricia Horrillo.
Jiménez, música, filósofa e doutora em história da arte, promove e coordena esta experiência em Madri desde 2010. Cada primeiro fim de semana de maio, grupos de vizinhos e pessoas interessadas em planejamento urbano e redes de vizinhança se organizam em assembleias abertas para celebrar esta atividade, que consiste em caminhar pelas ruas dos diferentes bairros propostos e relatar o que neles está acontecendo, seja em relação às questões de planejamento urbano, habitação, eventos, recuperação da memória coletiva etc.
A Faculdade Armando Alvares Penteado (FAAP) realiza de 4 a 7 de outubro o 1º Simpósio de Arquitetura e Urbanismo. Durante os quatro dias, profissionais e estudantes vão debater a relevância e atualidade do livro “Morte e Vida das Grandes Cidades”, escrito há 60 anos pela jornalista norte-americana Jane Jacobs.
Considerada uma das mais importantes críticas ao urbanismo moderno, a obra aborda o que torna as ruas seguras e inseguras, o que é um bairro e sua função dentro organismo de uma cidade e os motivos que fazem uma localidade permanecer pobre, enquanto outras se revitalizam.
A incrível pesquisa “A Long History of a Short Block”, de Bill Easterly, Laura Freschi e Steven Pennings, analisou o desenvolvimento de uma quadra na Greene St., no bairro do SoHo, em Nova York, ao longo de quatro séculos. Neste período, a cidade se mostrou em um constante processo de desenvolvimento, mostrando que a pergunta “Qual o ‘caráter original’ de um bairro?” é mais difícil de responder do que parece.
A começar que a Manhattan de arranha-céus que conhecemos hoje é relativamente recente na sua história. Antes dos holandeses chegarem ao que chamariam de “Nova Amsterdã”, em 1625, a região era tomada por florestas e pantanais, um ecossistema rico que incluía, inclusive, ursos e lobos.
Historicamente, o desenvolvimento das cidades se dá de forma lenta e gradual. Paisagens urbanas transformam-se constantemente à medida que enfrentam novas questões sociais, econômicas e políticas, a tal ponto que nos é difícil apontar apenas uma única razão pela qual o espaço urbano e construído se modifica ao longo do tempo. Mais recentemente, em razão dos muitos desafios que nossas cidades enfrentam, muitos arquitetos e arquitetas têm começado a se perguntar sobre como poderíamos construir um futuro melhor para nossas cidades e, principalmente, para as pessoas que nelas habitam. Neste longo e inexorável processo de evolução, muitas vezes a razão pela qual construimos nossas cidades de uma maneira e não outra tem a ver mais com uma linha de pensamento dominante do que com as condicionantes sociais, econômicas, políticas e também geográficas as quais arquitetos e urbanistas deveriam tentar responder.
4ª Jane’s Walk Porto Alegre - “Deslocamentos Pandêmicos”
4ª Jane’s Walk Porto Alegre - “Deslocamentos Pandêmicos” sex14 - sab15 - dom16 Maio 2021
Partindo do contexto da pandemia na realidade de Porto Alegre e com o entendimento de que parte da experiência urbana está no deslocamento pela cidade, o coletivo autônomo TransLAB.URB esse ano realiza a sua quinta edição de atividades ligadas aos temas do urbanismo, mais uma vez celebrando o poder transformador que as caminhadas podem ter, homenageando a vida e a obra da ativista e urbanista Jane Jacobs na 4ª Jane’s Walk Porto Alegre - “Deslocamentos Pandêmicos”, programação virtual que acontecerá nos dias 14, 15 e 16 de
Na introdução de seu famoso livro entitulado Cidades para Pessoas, o arquiteto dinamarquês Jan Gehl afirma claramente que a escala humana tem sido historicamente negligenciada pelos processos de planejamento urbano na maioria das grandes cidades ao redor do mundo. A medida que as novas tecnologias foram nos permitindo construir edifícios cada vez mais altos, maiores e mais complexos, deixamos de conceber espaços para as pessoas e passamos a desenvolvendo um novo tipo de arquitetura— uma arquitetura completamente alheia à nossa própria condição humana. Estratégias de planejamento urbano tomadas de cima para baixo desconsideram a necessidade de espaços adequados aos nossos sentidos, priorizando a velocidade, a funcionalidade e obviamente, a lucratividade.
Precisando a forma como experimentamos o espaço construído e consequentemente, como percebemos as relações estabelecidas entre o nosso corpo e o ambiente no qual estamos inserido, a noção de escala humana é fundamental para um espaço urbano que se pretende habitável. Neste artigo, falaremos sobre a transfiguração dos processos de planejamento urbano e quais podem ser as consequências imediatas desta mudança de direção em nossas vidas cotidianas. Paralelamente, o fotógrafo de arquitetura Kris Provoost—através de sua série fotográfica Eden of the Orient—nos convida a mergulhar ainda mais fundo neste universo “sem escala”.
Hoje, 04 de maio, celebramos a data de nascimento da ativista social e escritora Jane Jacobs. Em sua carreira, Jacobs lutou contra a globalização empresarial e incitou urbanistas e empreendedores a lembrar da importância das comunidades e da escala humana. Embora não tenha formalmente estudado urbanismo, suas ideias mudaram radicalmente a política urbana, destacando o poder da observação e da experiência pessoal. Suas teorias sobre como o projeto pode afetar as comunidades e a criatividade continuam relevantes ainda hoje – influenciando desde grandes masterplans até o projeto de pequenos espaços de trabalho. Jacobs nos deixou em 2006, prestes a completar 90 anos.
https://www.archdaily.com.br/br/601385/feliz-aniversario-jane-jacobsAD Editorial Team
Jaime Lerner, arquiteto e urbanista conhecido sobretudo por suas obras em Curitiba, foi eleito pela revista norte-americana de planejamento urbano Planetizen o segundo urbanista mais influente de todos os tempos, atrás apenas de Jane Jacobs. A lista completa conta com 100 nomes e abrange um amplo espectro cronológico, de 498 a.C. à atualidade.