As convicções isoladas, fortes como sejam, não podem fazer uma revolução nas artes. Se hoje em dia nós procuramos reatar aqueles fios quebrados, apanhar num passado que nos pertence em propriedade os elementos de uma arte contemporânea, que não seja em prol do gosto de tal ou tal artista ou de uma confraria; nós não estamos ao contrário mais que dos instrumentos dóceis dos gostos e das ideias de nosso tempo, e é assim por isso que temos fé em nossos estudos e que a descoragem não nos alcançará. Não somos nós que redirecionamos as artes da nossa época, é nossa época que nos arrasta..... Para onde? Quem sabe! É preciso ao menos que nós preenchamos do nosso melhor a tarefa que nos é imposta pelas tendências do tempo em que vivemos. Esses esforços, é verdade, não podem ser mais que limitados, já que a vida do homem não é bastante longa para permitir ao arquiteto abraçar um conjunto de trabalhos ao mesmo tempo intelectuais e materiais; o arquiteto não é nem pode ser mais que uma parte de um todo: ele começa aquilo que outros conquistaram, ou termina aquilo que outros começaram; ele não saberia então trabalhar em isolamento, já que sua obra não lhe pertence em propriedade, como o quadro ao pintor, o poema ao poeta. O arquiteto que pretenda impor sozinho uma arte a toda sua época fará um ato de insigne tolice.
Igor Fracalossi
Arquiteto, Mestre em Projeto e Crítica da Arquitetura e candidato a Doutor em Projeto Arquitetônico pela PUC-Chile
Dicionário Razoado da Arquitetura Francesa: Prefácio [Parte II/II] / Eugène-Emmanuel Viollet-le-Duc
Especial: Brasília 55 anos
Há 55 anos, à zero hora do dia 21 de abril de 1960, Brasília era inaugurada oficialmente. O dia revisita a morte de Tiradentes, líder da Inconfidência Mineira: 21 de abril de 1792, um dos, senão o mais importante movimento nativista do Brasil. Brasília nascia assim enraizada na história do próprio país.
Marco indiscutível, ápice da arquitetura moderna, Brasília uniu com sua materialização não só todas as artes, mas estas à política, e povos das mais diversas partes do país, em uma só cidade, em um só labor de construção.
Para celebrar essa data, reunimos algumas fotografias disponibilizadas pelo Arquivo Público do Distrito Federal - ArPDF, e nossos Clássicos da Arquitetura já publicados.
Dicionário Razoado da Arquitetura Francesa: Prefácio [Parte I/II] / Eugène-Emmanuel Viollet-le-Duc
Quando começamos a estudar a arquitetura da idade média, não existiam obras que pudessem nos mostrar a via a seguir. Recordamos que então um grande número de mestres em arquitetura não admitiam com reservas a existência desses monumentos que cobrem o solo da Europa, e da França particularmente. A penas nos foi permitido o estudo de algum edifício da renascença francesa e italiana; quanto àqueles que foram construídos depois do Baixo Império até o século XV, não falávamos mais que para citar-lhes como produtos da ignorância e da barbárie. Se nos sentíssemos repletos por uma sorte de admiração misteriosa por nossas igrejas e nossos fortes franceses da idade média, não ousávamos admitir qualquer vínculo que nos parecesse uma sorte de depravação do gosto, de inclinação pouco confessável. E não obstante, por instinto, estávamos atraídos àqueles grandes monumentos cujos tesouros nos pareciam reservados àqueles que queriam dedicar-se a sua busca.
Segunda edição do Workshop ArchDaily Brasil: Clássicos da Arquitetura acontecerá em São Paulo
«A Escritura amplia a Capacidade de Arquitetura.»
Reflexões sobre a Utilidade em Arquitetura
Que forma tem o uso?
O arquiteto pensa em ambos, porém só a forma se concretiza.
E por isso põe sobre ela mais atenção e dedicação.
AD Brasil Entrevista: Carlos Eduardo Comas / Latin America in Construction
Neste domingo, 29 de março, será a abertura da exposição Latin America in Construction: Architecture 1955-1980, no MoMA em Nova York, que reunirá uma vasta quantidade de documentos originais relativos às obras latino-americanas do período, entre croquis dos arquitetos, lâminas de projeto, fotografias de época e maquetes físicas de época e recentes, elaboradas pela equipe chilena Constructo_PUC.
Carlos Eduardo Comas, arquiteto e professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, é um dos curadores convidados para a exposição, integrando uma equipe formada por Barry Bergdoll, curador, Patricio Del Real, assistente de curadoria, e Francisco Liernur, co-curador.
Nesta entrevista, que realizamos em sua casa-estúdio, conversamos com o arquiteto brasileiro sobre os detalhes da exposição, sua concepção e desenvolvimento, o trabalho em equipe para a seleção das obras e documentos históricos, e o que os visitantes podem esperar dela.
O Sistema de Proporções ‘Fugal’ de Palladio / Rudolf Wittkower
Às mentes dos homens da Renascença as consonâncias musicais eram os testes audíveis de uma harmonia universal que mantinha um elo de união entre todas as artes. Essa convicção não era só profundamente enraizada na teoria, mas também –e isso é agora usualmente negado– traduzida na prática. É verdade, que em tentando provar que um sistema de proporções há sido deliberadamente aplicado por um pintor, um escultor ou um arquiteto, você é facilmente induzido a encontrar aquelas razões [ratios] que você estabelece para encontrar. Na mão dos acadêmicos, compassos não giram. Se quisermos omitir a armadilha da especulação inútil temos que buscar a orientação inequívoca dos artistas mesmos. Estranhamente, nenhum acadêmico até agora tentou fazer isso. Tal orientação não é muito comum, mas um cuidadoso levantamento certamente renderia considerável evidência. Deve-se, sobretudo, ser capaz de decifrar e interpretar as indicações do artista. Um exemplo deve mostrar o que quero dizer.
Elementos e Teoria da Arquitetura: Princípios Diretores / Julien Guadet
Eu poderia resumir em um mote minha lição de abertura: procurei fazer-lhes ver toda a elevação de seus estudos. Se vocês houverem saído dessa sessão com o coração mais alto, o pensamento mais ambicioso, eu não haverei perdido meu tempo.
Hoje me propus expor-lhes – tanto que possível – os princípios gerais que deverão sempre presidir seus estudos. Quero que percebam vocês mesmos a unidade desses estudos em aparência tão diversos. Vocês exercitarão hoje uma igreja, amanhã um teatro; seus programas são ora severos, ora mundanos; seus terrenos, restritos e fechados numa vila, ou livres e aerados à campanha: essa diversidade é necessária para criar em vocês a versatilidade e a engenhosidade; mas além desses estudos do dia e da hora presente, há o estudo superior e permanente: o de sua arte, em todas as ocasiões, o de vocês mesmos. Esse estudo é a meta verdadeira, e é a unidade de seus trabalhos; é o domínio desses princípios dos quais falei, que serão suas guias, sua salvaguarda, sua luz.
Arquitetura de Morar / Severiano Porto
Questionar a casa, a habitação, os seus elementos construtivos e a região onde se situa, as pretensões e a necessidade de seus moradores é um tema importante e interessante.
Abordaremos alguns aspectos do mesmo mais direcionados a nossa região e ao tema geral deste evento.
Observação, Desenho e Descrição [Parte 2]
Escrever em Arquitetura (e a crítica em Arquitetura) é uma ação supérflua. Se você não tem interesse, não perca seu tempo. Mas alguém duvidará que os grandes arquitetos da história foram grandes escritores?
Na semana, passada publiquei a primeira parte do artigo Observação, Desenho e Descrição. Hoje, dou continuidade a ele, detalhando as etapas de trabalho e os exercícios desenvolvidos durante o Workshop ArchDaily Brasil: Clássicos da Arquitetura Brasileira.
Observação, Desenho e Descrição (Parte 1)
A única crítica em arquitetura que interessa à Arquitetura é aquela que simula através de palavras, e permite simular, o ato projetual. As demais só interessam aos críticos (e por gentileza não percam tempo com elas).
Nos parágrafos seguintes procurarei sintetizar os antecedentes, o desenvolvimento, as dificuldades, os resultados e as especulações levantadas durante o Workshop ArchDaily Brasil: Clássicos da Arquitetura Brasileira, em outubro de 2014, para alunos de mestrado e doutorado em Arquitetura da UFRGS. Entre os parágrafos estarão algumas fotografias, tomadas pelo fotógrafo Marcelo Donadussi, da Exposição realizada no hall da FA-UFRGS com os postais e posters realizados.
Instituição Arquitetônica: Escrito-Leitura 12 / Juan Borchers
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Este escrito-leitura será breve, será denso e ralo. Esta afirmação: se considero o caso de um projeto “abstrato” ei de podê-lo excisar numa hipótese e numa tese; onde a ´tese’ é um condição NECESSÁRIA para que se verifique a ‘hipótese’. Tal que um projeto abstrato não há de expressar nenhum pensamento. O pretendê-lo conduz a uma ALEGORIA e é pelo que os projetos das escolas de arquitetura não passam de vagas alegorias sem interesse real por pretendê-lo.
Um projeto “abstrato”, como um espelho deve refletir a arquitetura transcendentalmente; é o que chamarei qualidade universitária.
Editorial: Questões de Tradução
Talvez o momento em que eu tenha percebido quão ruim são todas as traduções (todas) tenha sido quando por algum motivo me propus a fazer uma nova tradução de um capítulo d’O Pequeno Príncipe’, escrito pelo aviador Antoine de Saint-Exupéry e publicado em 1943. O tradutor da primeira tradução ao português de ‘Le Petit Prince’, de 1954, foi o monge Dom Marcos Barbosa. A famosa frase que todos conhecemos “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.” é originalmente “Tu deviens responsable pour toujours de ce que tu as apprivoisé.”.
O Espelho e o Manto: ajuste e desajuste no corpo arquitetônico / Fernando Pérez Oyarzun
I O Corpo e sua dupla distância
A experiência do nosso corpo tem a particularidade de que nos aparece simultaneamente cercana e longínqua. Efetivamente, o corpo apresenta-se a nós, em primeiro lugar, em nossa experiência de vinculação com o mundo, sem que sua própria contextura física apareça demasiado evidentemente. Fazendo um símil arquitetônico, podemos pensar na realidade de uma janela que não aparece em primeira instância referida a si mesma senão mais bem à paisagem sobre a qual se abre. Nesse contexto, podemos falar de um primeiro corpo quase invisível; de uma presença transparente.
Architectural Guide Brazil / Laurence Kimmel, Anke Tiggemann e Bruno Santa CecÍlia
Da editora. Brasil, o B dos países do BRIC, está em eferverscência. A atual ascensão, envolvendo alto crescimento econômico e desenvolvimento cultural, é acompanhada de boa arquitetura: um grande número de edifícios notáveis tem surgido, revivendo o interesse internacional na arquitetura brasileira.
O Ato Crítico / Igor Fracalossi e Ruth Verde Zein
«À determinada altura tudo coincide e se identifica: as ideias do filósofo, as obras do artista e as boas ações.» —Friedrich Nietzsche
O Ato Arquitetônico / Igor Fracalossi e Ruth Verde Zein
«Falamos ainda do ‘nascer’ e do ‘pôr’ do sol. Fazemo-lo como se o modelo copernicano do sistema solar não houvesse substituído irreversivelmente o ptolomaico. Metáforas vazias, figuras erodidas de discurso, habitam nosso vocabulário e gramática. Elas são pegas, tenazmente, nas andaimadas e recônditos de nossa fala comum. Lá elas vagam como velhos trapos ou fantasmas de desvão.»
Perda da síntese: o Pavilhão de Mies / Josep Quetglas
«Pavilhão alemão oficial
O arquiteto van der Rohe fez algo modernista muito acentuado, somente com linhas retas horizontais e verticais, e com materiais ricos, como blocos de mármores, do país e italianos, e paredes duplas de vidro misterioso.
Resulta distinguido seu conjunto: raro por sua estrutura, com dois espelhos d’água, sala oficial e amplos corredores. Foi dito que os cristais são misteriosos porque uma pessoa colocada em frente a um desses muros se vê refletida como num espelho, e se se traslada para trás daquele, então vê perfeitamente o exterior. Nem todos os visitantes se fixam em tão curiosa particularidade, cuja causa se ignora.» —Eliseo Sanz Balza, Notas de um visitante, Barcelona, 1930
Para um explorador é importante prestar a máxima atenção a quanto digam os indígenas, porque aí irá encontrar pronunciadas –sem tradução nem reserva alguma– as ingênuas emoções que desperta no imaculado selvagem cada impressão recebida. Remontando então o curso em direção às fontes –partindo da palavra pronunciada, passando pelo sentimento expressado, deixando para trás a impressão recebida– o explorador poderá chegar assim ao objeto que produziu tudo: o Pavilhão da Alemanha, em nosso caso, de outra forma desconhecido para qualquer investigador moderno.