No início de 2018, a arquiteta e palestrante da Bartlett School of Architecture, Neba Sere, guiou um painel de discussão na Architecture Foundation de Londres, onde ela era uma das seis jovens curadoras. O tema: começos. Como abordá-los, avançar e transformá-los em algo duradouro. Seis anos depois, ela olha para o evento como o início de sua própria jornada: foi onde conheceu Selasi Setufe e criou o grupo do WhatsApp que se transformaria na Black Females in Architecture (BFA), uma rede global com 500 pessoas dirigida por elas e pela arquiteta Akua Danso.
A BFA surgiu como resposta à necessidade de visibilidade das mulheres negras e pessoas que se identificam como mulheres na arquitetura e no ambiente construído. No ano passado, o grupo comemorou seu quinto aniversário com a exibição de um curta-metragem e um painel de discussão na Bienal de Arquitetura de Veneza. Agora, após estabelecer as bases de disseminação de informações sobre a falta de diversidade e igualdade na indústria e aumentar seus números, a BFA está se preparando para impulsionar mudanças reais.
Como a arquitetura e o urbanismo podem voltar a contribuir no debate e na produção de Habitação de Interesse Social (HIS)? Essa foi uma das principais perguntas que orientou o processo de elaboração do Caderno de Diretrizes de Habitação de Interesse Social no Jardim Lapena, desenvolvido pela Fundação Tide Setubal e pelo BlendLab para a região da Zona Leste de São Paulo. Esse caderno reuniu um conjunto de diretrizes sobre habitação, modelo de gestão, implantação e integração com o meio urbano e orientou as propostas para uma Chamada de Projetos + Lapena Habitar realizada no fim de 2022 .
A disciplina da arquitetura passou por mudanças significativas, impulsionada principalmente pelos avanços na aplicação da tecnologia. Os arquitetos, tradicionalmente vistos como os visionários do mundo construído, estão agora explorando técnicas e recursos inovadores, expandindo o uso de tecnologias como Realidade Aumentada (RA) e Realidade Virtual (RV). Essa transição não se limita apenas às práticas profissionais, mas também está permeando a educação arquitetônica, oferecendo oportunidades para redefinir a abordagem dos arquitetos em relação à sua profissão.
A paisagem do centro paulista não seria a mesma sem a presença do Copan. O edifício insere as curvas de Niemeyer na densa verticalização de São Paulo e cria um distinto ritmo, tornando-se um marco para todos que o cruzam. Além de abrigar em torno de cinco mil habitantes, o edifício apresenta usos diversos, assim como diferentes tipologias para seus programas residenciais, variando as áreas dos apartamentos com o desejo primordial de priorizar a diversidade entre seus inquilinos. As diferenças também podem ser vistas quando analisamos como cada pessoa habita uma planta tipo, as reformas que propõem revestimentos distintos, assim como novos layouts, denotam não apenas o caráter de cada morador, mas a inventividade dos arquitetos que intervém neste clássico. Desta forma, reunimos aqui projetos que foram realizados neste ícone para demonstrar como cada lar é único, mesmo quando eles são criados em série.
A mudança de uma capital é uma decisão complexa com várias dimensões e consequências tanto para a antiga quanto para a nova capital. Pode ser impulsionada por fatores políticos, econômicos, sociais, e tem implicações urbanas e arquitetônicas para os moradores, como localização, planejamento, projeto de construção, finalidade da antiga capital, condições climáticas e separação dos centros políticos/administrativos das cidades culturais e econômicas.
Diante deste debate, o Egito está construindo uma nova capital para aliviar a pressão populacional e urbana sobre o Cairo. Da mesma forma, a Indonésia está planejando uma nova capital em resposta aos desafios enfrentados por Jacarta, como poluição, congestionamento de tráfego e aumento do nível do mar. É valioso examinar outros países no sul global que realocaram suas capitais, observando as lições arquitetônicas e urbanas aprendidas com suas experiências.
Arquitetura, entendida como um produto cultural, é fortemente influenciada por diversos estímulos que incluem aspectos históricos, geográficos e culturais, entre outros. Juntos, esses elementos formam um patrimônio que pode (ou não) perdurar ao longo do tempo. Embora a arquitetura tenda a se adaptar a cada cultura, modelando suas técnicas tradicionais de acordo com seu contexto e moldando o ambiente circundante, não há garantia de que os elementos tradicionais nela irão permanecer inalterados ao longo do tempo. Isso se deve em grande parte à constante evolução da sociedade e da tecnologia, que às vezes tende para a universalidade e a adoção de uma linguagem comum, em vez de uma própria.
Dado esse cenário, é essencial explorar uma abordagem onde a inovação e a tecnologia não substituam a tradição e a produção artesanal; em vez disso, elas surgem como um meio de exploração em direção a rotas emergentes. A adoção de técnicas novas e materiais inovadores adaptados às necessidades locais específicas torna possível manter uma expressão autêntica que responda às demandas do ambiente. Essa abordagem, que poderia ser chamada de neo-artesanal, permite a preservação de uma voz distinta que reflete a autenticidade do contexto local. Ao mesmo tempo, contribui para uma perspectiva universal, mesclando o local com o global.
https://www.archdaily.com.br/br/1012888/na-interseccao-entre-inovacao-e-tradicao-o-projeto-talaveraEnrique Tovar
É possível dizer que existe um material atemporal na arquitetura, em termos estéticos? Seguramente, a madeira e o concreto são fortes candidatos. Não apenas porque são entendidos como representantes da solidez, volume e massa das construções, mas porque oferecem grande variedade plástica nos projetos. O concreto, diferentemente da madeira, possui mais maleabilidade. Ainda que a madeira já ofereça soluções mais moldáveis através de sistemas CLT, por exemplo, o concreto é obtido a partir de uma mistura entre líquido, pó e um agregado, ou seja, uma pasta, que pode ser vertida numa forma, espalhada sobre uma superfície, moldada em formatos diversos.
Independentemente da religião à qual nos identificamos, ou mesmo se renunciamos ou criticamos ativamente a religião organizada em todas as suas formas, um único aspecto do Cristianismo que afeta as pessoas em países predominantemente cristãos em algum momento de suas vidas é a estética clássica da arquitetura da igreja.
Seja frequentando a igreja várias vezes por semana, comparecendo uma ou duas vezes por ano, ou apenas uma vez a cada dez anos para um dos três eventos principais da vida: nascimentos, mortes e casamentos, sempre ficamos impressionados com os arcos elevados, os complexos trabalhos em pedra e, em dias ensolarados, a beleza espiritual e os arco-íris coloridos de luz que fluem através dos vitrais.
Quando os primeiros raios de sol atingem a superfície da cidade sueca de Jukkasjärvi, no momento em que o inverno dá lugar a primavera, este hotel de gelo começa a derreter. São quinhentas toneladas de água que escorrem rumo ao Rio Torne. O que antes eram paredes, pisos e tetos, agora são gotas de água em busca do seu curso natural. Nessa cena que acontece todos os anos desde 1989, tudo é contradição. A solidez e a longevidade da construção, a efemeridade e a transitoriedade da escultura de gelo.
O ambiente construído na Índia está envolvido em uma negociação entre tradições antigas, uma população diversificada e ambições globalizadas. Quando se trata de preservação do patrimônio, essas forças convergem para criar uma abordagem distintiva aos esforços de conservação no país. Além dos modelos convencionais vistos em muitas partes do mundo, os projetos de conservação na Índia entrelaçam práticas históricas, envolvimento comunitário e reverência pela essência viva dos edifícios.
Viver em cidades construídas sobre encostas geográficas é uma experiência singular e desafiadora. Se, por um lado, essas áreas podem oferecer vistas panorâmicas e paisagens impressionantes, por outro lado, a topografia íngreme apresenta uma série de desafios em termos de planejamento urbano, segurança estrutural e riscos socioambientais. Essas cidades exigem cuidados e soluções especiais no projeto de ruas, edificações e infraestruturas, e também o entendimento de que, por motivos de segurança ambiental e da população, nem todas as áreas devem ser ocupadas.
"Estamos focados em criar um espaço público justo", disse Chelina Odbert, Hon. ASLA, CEO e principal fundadora da Kounkuey Design Initiative (KDI), no National Building Museum em Washington, D.C. E por justo, "queremos dizer livre, inclusivo, acessível, imparcial e equitativo". "Um espaço público justo está aberto a todos". Há acesso ilimitado às ruas e espaços públicos para que as pessoas possam ir para a escola, para o trabalho e serem membros plenos de suas comunidades.
Infelizmente, o espaço público é muitas vezes "intimidante, excludente, inacessível, injusto e desigual" para muitas mulheres, pessoas LGBTQIA+, pessoas com deficiência e pessoas negras. Arquitetos paisagistas, urbanistas e outros planejadores urbanos precisam entender quem se sente seguro e confortável em espaços públicos, caso contrário, há o risco de perpetuar desigualdades, argumentou Odbert.
https://www.archdaily.com.br/br/1012755/projetando-espacos-que-sejam-bons-para-as-mulheres-e-para-todosJared Green
A Arábia Saudita, em meio a uma transformação significativa, não apenas está alterando sua paisagem, mas também redefinindo sua identidade em nível global. Como parte da Visão 2030, que orienta suas ações, o reino está empenhado em promover novos desenvolvimentos, com o objetivo de revitalizar a cultura e diversificar a economia. A capital, Riade, está na vanguarda dessa transformação ao sediar a Expo Mundial de 2030. Isso representa o compromisso do país com o progresso, enquanto vários mega projetos estão em andamento, transformando a estrutura do reino.
Em meio aos diversos projetos, várias empresas de renome estão envolvidas em mega projetos em diferentes escalas. O renascimento cultural, por exemplo, é evidenciado pela Ópera de Snøhetta em Diriyah, enquanto a Torre de Jeddah segue uma trajetória que superará o Burj Khalifa. Ao mesmo tempo, a conversão de uma usina de dessalinização em Jeddah pelo Heatherwick Studio em um próspero centro cultural demonstra a reutilização de espaços industriais. Desde os projetos costeiros da Foster + Partners até os arranha-céus no centro da cidade que estão redesenhando o horizonte, o país passa por transformações significativas em seu ambiente construído.
Associado a uma estética industrial, o metal tem aparecido cada vez mais em arquiteturas residenciais e comerciais. O brilho que o material oferece tem ampliado as possibilidades de combinação entre texturas e cores, conformando uma nova estética para os interiores. Assim, arquitetos e designers tem optado pela superfície metálica para definir planos, bancadas e outros mobiliários que ajudam a conformar o espaço e denotam um tom contemporâneo. Em busca de inspiração para esta tendência, apresentamos algumas formas de trazer o alumínio, ou um semelhante, para o espaço.
Tecer não é apenas uma habilidade técnica, mas também uma forma de projetar experiências materiais. O envolvimento no processo da tecelagem nos permite estruturar, comunicar, refletir e conectar nossos desenhos. Ao experimentar diferentes estruturas de tecido, temos insights sobre como os materiais se comportam sob tensão e compressão. Esse entendimento nos ajuda a ultrapassar os limites dos materiais, resultando em estruturas que ampliam e testam as propriedades dos elementos.
Na arquitetura, o tecer como mecanismo de construção centraliza o abrigo no processo construtivo. Nesse sentido, ele se torna uma manifestação direta da produção material. Além disso, a tecelagem oferece inúmeros benefícios ambientais e sociais ao criar abrigos que interagem ativamente com materiais, ferramentas, tecnologias e potenciais criativos, apoiando assim o placemaking.
Até dezembro de 1956, Mario Soto e Raúl Rivarola receberam o primeiro prêmio para construir quatro escolas na província de Misiones, Argentina, e logo depois receberam o primeiro prêmio para a construção de seis pousadas, no contexto do projeto da Escola Normal Superior Nº 1 em Leandro N. Alem e o primeiro prêmio para a construção do Instituto de Previdência Social e Hotel da cidade de Posadas. Suas obras em Misiones, desenvolvidas no contexto do processo de provincialização dos territórios nacionais ocorrido entre 1951 e 1955, ofereceram a oportunidade de estudar temas como a relação entre Estado e arquitetura, a ligação entre técnica e política, a arquitetura do Estado e as vanguardas, o dilema dos estilos, entre outros.
O descontentamento entre os trabalhadores dos escritórios de arquitectura está no seu ponto mais alto, demonstrado no crescimento da sindicalização dos arquitectos nos EUA em resposta à falta de bem-estar geral na profissão. Este descontentamento pode ser em grande parte atribuído à natureza inerentemente exploradora das estruturas regulares dos escritórios de arquitetura, de cima para baixo, promovendo uma desconexão entre a direção que as empresas tomam e as pessoas que trabalham para torná-la possível. Nestes, a liderança assume frequentemente projectos que ultrapassam a capacidade financeira da empresa, com a expectativa de que o pessoal mal remunerado assuma o peso do trabalho através de horas extras não remuneradas. Nessas estruturas, os funcionários não são destinados a ser uma voz orientadora para a empresa, mas sim a serem explorados em prol do lucro. Então, quais são as maneiras de abordar essa desconexão? Está na hora de reestruturar as empresas para dar mais autonomia aos arquitetos? Quais são as formas de criar estruturas empresariais não hierárquicas?
A Oca da Saúde é uma das construções que compreendem o Movimento Integrado de Saúde Mental (MISMEC) 4 Varas, localizada na Barra do Ceará, periferia de Fortaleza, funcionando como um espaço de cura, oferecendo cuidados e experiências holísticas gratuitas à comunidade. A construção foi erguida por mestres tradicionais juntamente com os moradores da região, possuindo uma tipologia arquitetônica de caráter afro-indígena com rico simbolismo ancestral.
https://www.archdaily.com.br/br/1012791/arquitetura-comunitaria-para-a-cura-a-oca-da-saude-no-movimento-integrado-de-saude-mental-4-varasAdrísia Marques e Clevio Rabelo
Atualmente a atenção à saúde mental e ao bem-estar, não apenas físico, mas também emocional e psíquico, tem se tornado um foco crescente em âmbitos clínicos, mas também em relação a inúmeros fatores cotidianos. A exemplo, a campanha Janeiro Branco que ressaltou essa urgência, convidando-nos a refletir sobre o bem-estar mental e emocional. Nesse cenário, a neuroestética e a neuroarquitetura emergem como campos que se colocam como aliados nessa busca. Elas não são apenas disciplinas acadêmicas; são abordagens práticas que buscam compreender como nosso ambiente físico afeta nosso estado psicológico. A neuroestética, especialmente, estuda a relação entre a percepção estética e os processos neurológicos, como destacado por Colin Ellard, psicólogo da Universidade de Waterloo e autor de "Places of the Heart: The Psychogeography of Everyday Life" (2015).
A impressão 3D apresenta um vasto potencial devido à sua facilidade de fabricação em larga escala, flexibilidade na exploração de materiais e capacidade de materializar diversas geometrias. No decorrer de 2023, arquitetos e designers exploraram essa tecnologia para descarbonizar os materiais de construção, integrar a estética contemporânea com métodos construtivos tradicionais e adicionar uma camada de artesanato e arte tanto aos interiores quanto às fachadas.
O uso e a demanda de materiais naturais em arquitetura e interiores possibilitou a retomada de sistemas construtivos tradicionais atualizados para o contexto contemporâneo. O que era considerado rústico passou a ser explorado em ambientes mais modernos, logo, a aplicação do material também se sujeita a novas formas de fixação, coloração, orientação (horizontal ou vertical). A madeira é o material dominante quando se trata de sistemas tradicionais e materiais ambientalmente sustentáveis. Contudo, um material que também é usado secularmente, igualmente sustentável e biodegradável, e que tem tido menos destaque, é a palha.
No projeto arquitetônico, nossas interações com organismos não humanos foram predominantemente marcadas pela criação de barreiras para excluí-los da esfera humana. Mas se adotássemos uma abordagem diferente? O design interespécies é um movimento que coloca organismos não humanos — fungos, insetos e diversos animais — em pé de igualdade com os humanos. Essa filosofia de design propõe estruturas que promovem relações não hierárquicas com outras espécies. Ao fazê-lo, cultivamos empatia por outras formas de vida e transformamos nossa perspectiva sobre o mundo que nos cerca. Esta abordagem visa não apenas alcançar uma pegada ecológica zero, mas também busca a colaboração com organismos não humanos para desenvolver ambientes benéficos para todos. Abaixo, conheça algumas tecnologias de materiais emergentes projetadas para beneficiar tanto os humanos quanto outras formas de vida.
Com uma população estimada em mais de 3,7 milhões de pessoas, Adis Abeba, a capital da Etiópia, abriga cerca de um quarto da população urbana do país. A cidade gera mais de 29% do PIB urbano da Etiópia e 20% do emprego urbano nacional. Nas últimas duas décadas, Adis Abeba testemunhou rápidas mudanças socioeconômicas e uma drástica transformação física, impulsionadas por um governo orientado para o desenvolvimento e pelo setor privado.
A intersecção entre inteligência artificial (IA) e planeamento urbano representa um grande potencial para a criação de cidades mais inteligentes, eficientes e sustentáveis. Trata-se da incorporação de tecnologias inovadoras que podem direcionar a tomada de decisões, otimizar a alocação de recursos, antecipar tendências, envolver os cidadãos, entre muitas outras. Nesse contexto em que se entende a IA como uma ferramenta para o desenvolvimento de diferentes aspectos urbanos, tem surgido uma proliferação de aplicativos, softwares e demais sistemas tecnológicos desenhados para auxiliar no planejamento urbano. Da morfologia ao envolvimento da comunidade, a seguir selecionamos alguns estudos e tecnologias que estão sendo aplicados ao redor do mundo.